Caneta-tinteiro da marca Parker
Em qual mundo viveríamos, não fossem os registros através das letras? Será que existiria outro tipo de “comunicação” e outro tipo de informação? Decerto que sim – mas não se deve afirmar de forma categórica.
Por volta de vinte anos atrás, durante uma conferência pública em que o centro da questão era a comunicação, e os rumos que essa estava tomando, um colunista da então renomada revista Veja, do alto da sua profecia, afirmava que, “não demora muito e o impresso (em papel), enquanto forma de comunicação e socialização” se aproximará do fim.
Mereceu pouca atenção, na época da fala. Passados os dias, meses e anos, a tendência é que isso venha realmente acontecer em breve. Mas, a escrita é algo interminável. Não há como olvidar esse fato. Escrever em algo, em qualquer que seja o espaço, é uma forma de vida.
Faz muito tempo – provavelmente no início dos séculos passados – que os homens se preocupam com as letras. Com os números também. O número é uma letra que representa uma quantidade – embora exista ainda nos dias de hoje, quem use os dedos das mãos para contar alguma coisa. Muitos poucos conheceram o ábaco – uma tábua romana usada na contagem dos elementos. Se não estou enganado, hoje, apenas as escolas para deficientes visuais e outros tipos de carências humanas utilizam o ábaco no aprendizado.
Aí chegou a caligrafia. A boa caligrafia – e hoje quem tem boa caligrafia é considerado raridade. Nas escolas foram incluídas na grade curricular, as matérias relacionadas à Caligrafia. Caderno de Caligrafia – era necessário praticar a boa caligrafia, haja vista que, naqueles tempos também os alunos precisavam escrever pequenas partituras musicais, e conhecer “clave do Sol”, dó, ré, mi, fá, sol, lá, si.
E o que é que as escolas ensinam nos dias de hoje?
Numa só lapada, os reformistas da educação retiraram da grade: latim, esperanto, desenho, caligrafia, ospb, aritmética e a matemática e o português já não têm a mesma importância. Nem quem ensina português, sabe a ponto de poder ensinar.
Assim, pode ser que se encontre algum dia, o início da “contaminação” da letra, e por fim, da escrita. Parece que o conferencista da revista Veja tinha razão.
Divisão silábica, nos dias atuais? O que é isso? Pra que serve? Soletrar virou atração nas televisão. É o cúmulo!
Tem muita gente que diz “trabalhar com a educação”, que está tentando oficializar a forma “moderna” de escrever em celulares: verdade virou vdd; por que, agora é pq; não passou a ser apenas n; sem contar que talvez virou tvz.
Vejam a maravilha de caligrafia abaixo. Parece desenho intencional.
Caligrafia – a prática constante levava ao bom resultado
A geração que continua passando e já conseguiu ultrapassar a barreira dos 50, nunca tirou da cabeça que, “estudar e conquistar boas notas na escola” não tem um milímetro menos que obrigação. Nunca isso (o ser aprovado e conquistar espaços por conta da escola) foi visto como motivo de premiação. Passar num concurso, para quem vive de estudar – é obrigação e uma mera formalidade. Não deveria ser diferente na escola.
O máximo de premiação (ou, com sentido de incentivo) que se recebia – e muitas vezes até da própria escola, era o primeiro lugar da turma, ao final do ano: uma caneta-tinteiro da marca Parker. E significava o máximo, quando essa caneta vinha com o nome do felizardo gravado. Era um marco quase histórico.
As cartas sempre chegaram e disseram sim ou não
A letra, cujo conjunto forma a escrita, escritura, relatório, ata e outras tantas definições, também forma a carta. A carta pode ser um documento válido em qualquer situação, mas, entre nós brasileiros, é vista mais pelo lado sentimental: cartas de amor ou carta familiar. Tem algum significado de distância material – mas uma proximidade acentuada de sentimentos.
A carta é uma escrita, no Brasil, tradicionalmente “entregue” pelo Carteiro – um profissional que nos liga na maioria das vezes às boas coisas. Aos bons avisos e às significativas alvíssaras.
Em alguns países do Oriente, o Carteiro é um indivíduo respeitado – precisa até ser “aprovado” por algumas comunidades, como se “eleito” fosse para carregar tantas responsabilidades.
No Brasil, esse “profissional” trabalha sem qualquer conforto e reconhecimento. Ao chegar para entregar cartas e/ou documentos, é instigado até pelo cachorro, ainda que traga boas notícias.
O carteiro
Faz parte do leque de bons filmes que assistimos, “O carteiro e o poeta” – filme dirigido por Michael Radford, uma espécie de homenagem ao poeta Pablo Neruda. Esse filme ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original, a partir da composição assinada por Luís Henrique Bacalov e Francisco Canaro.