Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José de Oliveira Ramos - Enxugando Gelo sábado, 09 de setembro de 2023

A LAGARTA QUE QUERIA VOAR (CONTO DE JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS, COLUNISTA DO ALMANAAQUE RAIMNDO FLORIANO)

 

A LAGARTA QUE QUERIA VOAR

José de Oliveira Ramos

A lagarta procurava o luar mais alto – para de lá tentar voar

 

Acostumada a produzir o que comia, mania que herdou dos pais e avós, Zefinha transformou a área onde morava numa verdadeira horta. Nunca pensou em “produzir para exportar” e no futuro ser incluída numa comunidade “Agro”. Sempre se conformou em poder produzir (graças à Deus!) o suficiente para comer ao lado da família.

Semeava e comia batatas. Semeava e comia feijão. Semeava e comia milho. Semeava e comia macaxeira, tomate, jerimum, cebolinha, cenoura, goiaba.
Algumas flores, cultivava. Até construiu um caramanchão, pensando em um dia fazer “selfies” com os netos.

Zefa tinha uma preferida entre todas plantas que cultivava. Um frondoso “pé de lírio” de flores brancas e cheirosas – também usava o “leite” para fins medicinais, para curar “dedos desmentidos”. Fazia um emplasto de pano velho ou algodão, e amarrava no “desmentido”.

Mas, ali naquele “pé de lírio” vivia um morador diferenciado. Uma moradora, aliás.

Era uma lagarta muito bonita. Daquelas que comem todas as folhas até “espocar”. E, tal qual fazia minha Avó, Zefa vivia dizendo que aquela lagarta era propriedade dela. Ela que havia descoberto e alimentado com as folhas do “pé de lírio”. Ninguém a convencia do contrário.

Mas, aquela lagarta fora proibida de sair do “pé de lírio” para tentar passear pelo caramanchão. Se desobedecesse, seria jogada para o chão, onde viraria “jantar das galinhas”!

Eis que Zefa passou a chamar aquela lagarta de “Comadre”. Ninguém entendia essa escolha. Nunca houvera batismos, crismas nem passagens nas fogueiras juninas. Mas, estava decidido por Zefa: era “Comadre”. E pronto!

“Comadre”, enquanto continuava comendo folhas, acalentava dois desejos: voar, era o primeiro. Voar para conhecer o caramanchão, era o segundo desejo.

O tempo passava correndo. “Comadre” rezava todos os dias antes de “pegar o travesseiro reparador”. Rezava pedindo à Deus para que se transformasse num casulo. Acordava durante a noite, em meio aos sonhos onde se “pegava” voando para aquele mundo florido que era o caramanchão.

Estava terminando o outono. Em seguida chegaria o inverno e, se o mundo continuasse mundo, em breve viria a primavera – tempo da floração e da vida colorida.

“Comadre” foi atendida pela Natureza e se transformou numa borboleta

 

Certo dia, com os olhos grandes e quase saltando das órbitas, “Comadre” sentiu calafrios. Olhou em volta de si mesma e percebeu algumas alterações. Tinha em volta de si, o início da formação de um casulo e, quando tudo estivesse concluído, a realização dos sonhos de querer voar. Voar e conhecer o caramanchão.

As folhas protegeram o casulo das fortes chuvas. Foi assim, durante o duradouro inverno.

Na casa, Zefa dava voltas procurando a “Comadre”. Mal sabia que “Comadre” agora vivia a transformação de tudo dentro de um casulo e em breve realizaria o sonho de voar. Na verdade, “Comadre” nunca se conformou em ser uma lagarta devoradora de folhas, sem o direito de conhecer as belezas da vida – pelo menos a beleza que ela imaginava existir ali ao lado. Naquele lindo e florido caramanchão.

Parecendo um milagre – e era, o milagre da transformação pela Natureza! – logo no primeiro dia da primavera o casulo se abriu. Dele, aos voos ainda cambaleantes saiu uma borboleta, que durante alguns meses não passava de uma lagarta.

E agora, realizando sonhos que acalentaram a vida anterior, como se tivesse conhecimento do que a lagarta sonhava, a borboleta voou e pousou nos primeiros ramos floridos que enfeitavam o caramanchão.

MORAL DA HISTÓRIA: “Ainda que você seja uma gorda e vagarosa lagarta, nunca desista do sonho de querer voar.”


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros