A lagarta procurava o luar mais alto – para de lá tentar voar
Acostumada a produzir o que comia, mania que herdou dos pais e avós, Zefinha transformou a área onde morava numa verdadeira horta. Nunca pensou em “produzir para exportar” e no futuro ser incluída numa comunidade “Agro”. Sempre se conformou em poder produzir (graças à Deus!) o suficiente para comer ao lado da família.
Semeava e comia batatas. Semeava e comia feijão. Semeava e comia milho. Semeava e comia macaxeira, tomate, jerimum, cebolinha, cenoura, goiaba.
Algumas flores, cultivava. Até construiu um caramanchão, pensando em um dia fazer “selfies” com os netos.
Zefa tinha uma preferida entre todas plantas que cultivava. Um frondoso “pé de lírio” de flores brancas e cheirosas – também usava o “leite” para fins medicinais, para curar “dedos desmentidos”. Fazia um emplasto de pano velho ou algodão, e amarrava no “desmentido”.
Mas, ali naquele “pé de lírio” vivia um morador diferenciado. Uma moradora, aliás.
Era uma lagarta muito bonita. Daquelas que comem todas as folhas até “espocar”. E, tal qual fazia minha Avó, Zefa vivia dizendo que aquela lagarta era propriedade dela. Ela que havia descoberto e alimentado com as folhas do “pé de lírio”. Ninguém a convencia do contrário.
Mas, aquela lagarta fora proibida de sair do “pé de lírio” para tentar passear pelo caramanchão. Se desobedecesse, seria jogada para o chão, onde viraria “jantar das galinhas”!
Eis que Zefa passou a chamar aquela lagarta de “Comadre”. Ninguém entendia essa escolha. Nunca houvera batismos, crismas nem passagens nas fogueiras juninas. Mas, estava decidido por Zefa: era “Comadre”. E pronto!
“Comadre”, enquanto continuava comendo folhas, acalentava dois desejos: voar, era o primeiro. Voar para conhecer o caramanchão, era o segundo desejo.
O tempo passava correndo. “Comadre” rezava todos os dias antes de “pegar o travesseiro reparador”. Rezava pedindo à Deus para que se transformasse num casulo. Acordava durante a noite, em meio aos sonhos onde se “pegava” voando para aquele mundo florido que era o caramanchão.
Estava terminando o outono. Em seguida chegaria o inverno e, se o mundo continuasse mundo, em breve viria a primavera – tempo da floração e da vida colorida.
“Comadre” foi atendida pela Natureza e se transformou numa borboleta
Certo dia, com os olhos grandes e quase saltando das órbitas, “Comadre” sentiu calafrios. Olhou em volta de si mesma e percebeu algumas alterações. Tinha em volta de si, o início da formação de um casulo e, quando tudo estivesse concluído, a realização dos sonhos de querer voar. Voar e conhecer o caramanchão.
As folhas protegeram o casulo das fortes chuvas. Foi assim, durante o duradouro inverno.
Na casa, Zefa dava voltas procurando a “Comadre”. Mal sabia que “Comadre” agora vivia a transformação de tudo dentro de um casulo e em breve realizaria o sonho de voar. Na verdade, “Comadre” nunca se conformou em ser uma lagarta devoradora de folhas, sem o direito de conhecer as belezas da vida – pelo menos a beleza que ela imaginava existir ali ao lado. Naquele lindo e florido caramanchão.
Parecendo um milagre – e era, o milagre da transformação pela Natureza! – logo no primeiro dia da primavera o casulo se abriu. Dele, aos voos ainda cambaleantes saiu uma borboleta, que durante alguns meses não passava de uma lagarta.
E agora, realizando sonhos que acalentaram a vida anterior, como se tivesse conhecimento do que a lagarta sonhava, a borboleta voou e pousou nos primeiros ramos floridos que enfeitavam o caramanchão.
MORAL DA HISTÓRIA: “Ainda que você seja uma gorda e vagarosa lagarta, nunca desista do sonho de querer voar.”