A INAUGURAÇÃO DO CONJUNTO NACIONAL BRASÍLIA
Raimundo Floriano
24 de novembro de 1971! Inauguração do Conjunto Nacional Brasília e suas duas âncoras principais: o Supermercado Pão de Açúcar, que ficaria mais conhecido pelo nome de Jumbo, e o Banco Econômico!
Os jornais da cidade – Correio Braziliense e Diário de Brasília – estampavam grandes anúncios e convidavam a população em geral para comparecer ao evento, que marcaria o início das operações do primeiro shopping da capital, com a presença de Pelé, já então considerado Rei do Futebol.
Aquele empreendimento ainda não tinha sido bem assimilado pelo povo candango, e muitas lojas, mesmo a preço de banana, permaneciam fechadas, por falta de interessados. A verdade é que não sabíamos bem o que era um shopping. Fazíamos nossas compras na W/3, ou no Núcleo Bandeirante, mais conhecido como Cidade Livre. Os supermercados de que dispúnhamos, mesmo os do Plano Piloto, não passavam de meras quitandas bem sortidas.
O Conjunto Nacional Brasília assinalou, portanto, a chegada da modernidade empresarial no Planalto Central Brasileiro.
Era uma manhã de quarta-feira. Eu trabalhava na Câmara dos Deputados e havia combinado com meu colega e amigo Luiz Berto que tomaríamos parte nos festejos até ao meio-dia, pois o expediente normal no Congresso só começava às 13h30. Esse Luiz Berto viria mais tarde a ser autor de várias obras premiadas, como O Romance da Besta Fubana, A Prisão de São Benedito e A Guerrilha de Palmares. E por que eu o cito aqui? Porque ele não me deixa mentir.
Estávamos vivendo o milagre econômico, e o Ministro Delfim Netto – atualmente, deputado federal –, titular da Fazenda, era figura infalível nos noticiários noturnos das estações de TV. Eu, gordinho, com uma bela papada e óculos, me parecia um bocado com ele. Tanto que meus filhos, Zezinho e Floriano, de 6 e 5 anos, quando viam aquela autoridade na telinha, exclamavam:
– Olha o papai!
Devidamente enfatiotados para o turno vespertino – terno escuro e gravata –, eu e Luiz Berto chegamos ao Conjunto e, por não conhecermos nada ali, nem o protocolo da solenidade, nos encaminhamos diretamente ao Banco Econômico, onde era servido um lauto coquetel, como se podia notar através das paredes de vidro. Muita gente bonita e elegante enfeitava o ambiente. Ao chegarmos à porta, fomos barrados por um segurança que, educadamente, falou:
– Por favor, o convite!
– Não temos convite – respondi.
– Então, infelizmente, os senhores não podem entrar.
– Mas espere aí – disse eu –, os jornais convidaram todo o povo de Brasília para a inauguração!
– É, mas eles se referiam às outras lojas. Aqui, só mediante convite.
Já íamos nos retirar, quando um cidadão bem-apessoado, que fazia parte da Diretoria do Econômico, se dirigiu apressado ao segurança, falando rispidamente:
– O que é isso? Não vê que é o ministro?
E, virando-se para mim, franqueou-nos a entrada:
– Ministro, por gentileza!
Se calados estávamos, calados ficamos.
Aproveitamos o mais possível.
À noite, ao verem na TV as reportagens sobre o acontecimento, meus filhos, cheios de razão, orgulhosos apontavam:
– Olha o papai!
Raimundo Floriano - Ministro Delfim Netto
O Conjunto Nacional Brasília: modernidade empresarial
Eu estava na inauguração do conjunto Nacional onde a atração era Batman e robson
Êita peste! Chega me bateu uma saudade. Bons tempos. Brigadão pela lembrança, amigo Raimundo.