Mundim do Vale
Meu caro leitor amigo
Veja um relato fiel,
Eu já rimei a viola
Que faz bem o seu papel.
Agora passo a rimar,
Na cultura popular
A importância do cordel.
No sertão antigamente
Não tinha televisão
O sertanejo vivia
Carente de informação.
O rádio lá não chegava,
E o cordel é quem levava
Notícias para o sertão.
Quando pego num folheto
Me vem a grande lembrança,
Da ligação com cordel
Desde o tempo de criança.
Só sabia soletrar.
Mas consegui decorar
Os Doze Pares de França.
O cordel tem seu valor
Por ser de fácil leitura.
Tem muita arte na capa
Feita em xilogravura.
A métrica faz a grandeza,
A rima gera beleza
Para elevar a cultura.
Foi o cordel que falou
Dos crimes de Lampião
Foi também um seguidor
Do santo Frei Damião.
Fez morada em Juazeiro,
E deu apoio ao romeiro
Do Padim Ciço Romão.
Alfabetizou o pobre
Que não tinha condição
De freqüentar a escola
Pra receber a lição.
Foi o grande mensageiro,
De Antônio Conselheiro
O profeta do sertão.
O cordel já fez campanha
Em tempos de eleição.
Na seca de trinta e dois
Falou da destruição.
Fez festa em dia de feira,
Para o povo da ribeira
Pendurado num cordão.
O cordel tem união
Também com o repentista
Um exemplo do que falo
É Lucas Evangelista.
E falando em qualidade,
Eu lembro a capacidade
Da trindade irmãos Batista.
Eu fico muito feliz
Vendo o cordel resgatado,
Sabendo que hoje é feito
Com o papel resgatado.
Eu acho muito importante,
Não deixar o cordel distante
Como um valor do passado.
O cordel noticiou
Para o povo nordestino,
O suicídio de Vargas
E a prisão de Antônio Silvino.
Deu notícia da chacina,
No Largo da Catarina
Quando morreu Virgulino.
Falou daquela promessa
Do carregador da cruz,
Escreveu nas suas páginas
Que logo chegava a luz.
Rimou com muito talento,
A história do jumento
E o menino Jesus.
Se o leitor duvidar
Não acreditando em mim,
Saiba que o cordel já foi
Leitura até de jardim.
No nordeste brasileiro,
O cordel foi o primeiro
A falar do meu Padim.
Hoje em dia essa cultura
Foge um pouco do normal,
Pois os novos cordelistas
Procuram tema atual.
Falam da gíria da rua,
De mulher andando nua
E de briga de casal.
Tem aí a jovem guarda
Que ainda tá resistindo,
Mas de vez em quando eu vejo
Alguns deles desistindo.
Mas como tem resistente,
Como o vate Zé Vicente
O folheto vai fluindo.
A Cícero Modesto Gomes
O cordel me apresentou,
Poeta do Maranhão
Que no Ceará ficou.
Já rimou o Ceará,
De Sobral a Quixadá,
Pacajus e Quixelou.
Numa banca eu conheci
Edson Neto e Elizeu,
J. B. Num terminal
E um cordel ele me deu.
O poeta Zé Maria,
Conheci em cantoria
Divulgando um mote meu.
Outro poeta famoso
Criado aqui no sertão,
É o bom Arievaldo
Que do Klevison é irmão.
Avançou como um corcel,
Quando implantou o cordel
No setor da educação.
O doutor Sávio Pinheiro
Bom poeta e gente fina,
Já rimou o pé da serra
E a bodega da esquina.
Agora com mais virtude,
Botou cordel na saúde
Para o bem da medicina.
No Rio Grande do Norte
Onde a rima é atração,
Tem o local do poeta
Fazer a divulgação.
Já usei aquele espaço,
E daqui mando um abraço
Pra Mairton e Anizão.
Mas foi lá na Paraíba
Que o cordel chegou primeiro,
Era a grande novidade
Chegada do estrangeiro.
Posso dizer sem engano,
No sertão paraibano
O cordel foi pioneiro.
Quem também foi cordelista
Foi o bom Rogaciano
Foi repórter em Fortaleza
Mas era pernambucano.
Fez muita falta a cultura,
Com a morte prematura
Foi rimar no outro plano.
No Ceará o melhor
Com ele tomei café,
Aguarde só um instante
Que digo já já quem é.
Cantou lá e cantou cá
O Pássaro do Ceará
Patativa do Assaré.
Chegando agora ao final
Já faltando inspiração,
Peço desculpa aos colegas
Se houve alguma omissão.
Fiz esse verso bebendo,
Todo tempo defendendo
O cordel como atração.
Mandei mensagem bregeira
Unida com a poesia,
Negando ter intenção
De fazer apologia.
Inseri no Blogspot
Mundo Cordel avalia.