A IGREJA SERTANEJA
Raimundo Floriano
Vaqueiros na folgança: seminaristas da Igreja Sertaneja
No início da década de 70, eu e o escritor fescenino Luiz Berto fundamos, sob minha inspiração, uma seita sem caráter religioso, denominada Igreja Sertaneja, da qual, como chefes supremos, éramos antístites – bispos, como nas inúmeras outras que sugiram depois dela.
Seus templos agregavam todos os bares, botecos e biroscas de Brasília onde se pudesse consumir uma boa cachaça – e todas as marcas brasileiras são de excelente qualidade. Exemplo disso é a Sagatiba que, segundo a revista Veja de 12.05.04, seria vendida na Europa ao preço de 28 euros a garrafa, o equivalente, na época, a 102 reais.
Tínhamos até um jornal, O Gole, onde esbanjávamos criatividade e bom humor. Maiores detalhes se encontram no meu livro Do Jumento ao Parlamento, Montreal, 2003, 274 p., edição esgotada.
Já naquele tempo, órgãos da grande mídia, como O Globo, Jornal do Brasil, Estadão e até o The New York Times, da imprensa norte-americana, eram detentores da supremacia editorial, com sua abrangência e circulação planetária. Não podendo competir com tamanha magnitude nacional e internacional, o nosso pequenino O Gole viu-se obrigado a cerrar suas portas.
Paralelamente, fundei, a 24 de junho de 1972, a Banda da Capital Federal, da qual eu era o mestre, e Luiz Berto, o contramestre, destinada a animar o carnaval de rua de Brasília. Essa banda, com estandarte e uniforme, existe até hoje, apresentando-se apenas em ocasiões muito especiais.
A Igreja Sertaneja e a Banda da Capital Federal muito deram o que falar, pois os fiéis de uma eram componentes da outra. Na Igreja Sertaneja, havia muitas ovelhinhas a apascentar. Já na Banda da Capital Federal, as folionas se pegavam no tapa, decidindo quem saía com o estandarte!
Também fazíamos parte da Diretoria do Bloco de Sujos Sumo do Guará, que fornecia sambistas para Escola de Samba Acadêmicos da Asa Norte e passistas para o bloco de frevo As Pás Douradas.
Arrefeceram-se um pouco os ânimos da Igreja Sertaneja depois da nossa aposentadoria, cada qual procurando fixar-se em alguma atividade que preenchesse suas extensas horas de ócio. Assim eu pensava.
De supetão, chegou-me a novidade!
Lá no Recife, onde fixou residência definitiva, o Bispo Dom Berto reuniu um magote de cachacistas militantes e biriteiros juramentados e elegeu-se para o cargo maior de nossa seita, passando a assinar-se Papa Berto I.
E eu, mentor da seita, fui alijado pelo Sumo Pontífice, saindo a troco de pé na bunda! Novamente, meus pensamentos se mostraram completamente enganados.
Astuciosamente, ou salomonicamente, o Papa Berto I, usando de toda a sua sapiência, achou um jeito de agraciar-me com irresistível e compulsório cala-a-boca: nomeou-me Cardeal!
Fiquei a matutar: Luiz Berto é muito presepeiro e aprontador, reuniu no Recife uma grande quantidade de fiéis, tem saco para aguentar essa turma de beberrões, de dia e de noite. Nada mais justo que assuma esse cargo maior da Igreja Sertaneja. Dessa vez, refleti com sabedoria, senão, vejamos!
Em substituição ao O Gole, o Papa Berto I fundou o Jornal da Besta Fubana - JBF, virtual, assumindo inteiramente o encargo de editá-lo, assim como o de arcar com todas as despesas decorrentes da assinatura do seu blog na Internet: www.luizberto.com. Pródigo homem esse Papa!
Preciso falar-lhes um pouco do título desse jornal.
Em 1984, o escritor Luiz Berto ficou famoso no mercado editorial com o lançamento do seu livro O Romance da Besta Fubana, do qual tive a honra de ser o revisor gramatical e ortográfico.
A Besta Fubana é entidade fantástica do imaginário nordestino e figura principal desse romance que é, no dizer do autor, “descrição histórica, científica e literária da instauração da República Rebelada dos Palmares, no ano pomposo de 1953, com relato pormenorizado e circunstanciado das causas, pessoas, sucedências e consequências, em ordem cronológica e estilo acessível”.
Tal livro deu-lhe muitos prêmios e valeu-lhe uma temporada cultural de 6 meses nos Estados Unidos, com realização de palestras no Canadá.
Voltemos à Igreja Sertaneja e ao Jornal da Besta Fubana.
O jornal reúne, dentre seus colunistas e comentaristas, grande parte do Alto Clero da Igreja Sertaneja, bem como a nata da intelectualidade nordestina.
Para se ter uma ideia, veja-se, na foto ao final deste capítulo, a quantidade de expoentes da cultura atual no cenário literomusical nordestino e brasileiro presentes a evento na Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Direi um pouco de cada um deles.
Jessier Quirino - Cardeal - Arquiteto, escritor, poeta, compositor, colunista do JBF e Imortal da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
João Veiga - Cardeal - Médico, escritor e colunista do JBF.
Luiz Berto - Papa - Professor de Matemática, escritor, editor do JBF e Imortal da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Adelmo Nobre - Cardeal - Comerciante, pesquisador musical e comentarista do JBF.
Paulo Carvalho - Cardeal - Médico, pesquisador cultural, fotógrafo, colunista do JBF e Imortal da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Evilácio Feitosa - Cardeal - Médico, poeta e colaborador do JBF.
Natanael Guedes - Cardeal - Artista plástico e colunista do JBF.
Joselito Nunes - Cardeal - Advogado, escritor, poeta, pesquisador da cultura popular, colunista do JBF e Imortal da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Irah Caldeira - Prioresa - Compositora, cantora, forrozeira e Patrona de Luiz Berto na Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Xico Bizerra - Cardeal - Bancário, compositor, radialista, colaborador do JBF e Patrono da jornalista Lina Fernandes na Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Raimundo Floriano - Cardeal - Trombonista, escritor, discófilo, pesquisador musical, colunista no JBF e Imortal da Academia Passa Disco da Música Nordestina.
Irah Caldeira não é a única representante do sexo feminino em nosso grupo. No Recife, por exemplo, temos a Papisa Aline, mulher do Papa Berto I e coeditora do JBF, e a Madre Superiora Neide Santos, agitadora cultural. Em Florianópolis-SC, a Madre Superiora Ana Cristina Arruda Laskos, balsense, minha conterrânea e afilhada literocultural, campeã brasileira de natação e casada com João Renato Laskos, gente grande dos Correios, encontra-se empenhada na implantação do Convento Diocesano Catarinense.
Há uns 20 anos, cumprindo recomendações médicas, estou compulsoriamente afastado da boa cachacinha que deu origem à ideia de criação da seita, consumindo apenas refrigerante diet.
Em compensação, convivo com pessoas desse quilate, com o talento das quais a Igreja Sertaneja tem-se expandido, arrebanhando a cada dia mais fiéis: cantores, músicos, escritores, poetas, compositores e escribas, além de boêmios e seresteiros, no Brasil e no Exterior, o que se comprova nos acessos mundiais ao JBF!
Neste momento em que lhes escrevo, já somos lidos em 77 países!
É a glória, ou não é?
De pé: Jessier Quirino, João Veiga, Luiz Berto, Adelmo Nobre, Paulo Carvalho, Evilácio Feitosa, Natanel Guedes e Zelito Nunes
Sentados: Irah Caldeira, Xico Bizerra e Raimundo Floriano
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