Logo que cheguei de São José dos Campos, São Paulo, onde nasci, moramos inicialmente em uma casa que ficava em uma rua lateral ao Colégio Nossa Senhora das Graças, por indicação de minha saudosa tia Irmã Margarida, que hoje não mais está entre nós fisicamente. Tia Freira, como eu a chamava, era pertencente à Ordem Cordimariana. O Colégio teve a sua origem no Benfica, com a denominação inicial de Ginásio Americano. Em 1950 as Religiosas da Congregação das Filhas do Coração Imaculado de Maria assumiram a direção e em 11 de fevereiro de 1958, transferiram-se para o bairro de Fátima, a fim de atender as necessidades da infância e da juventude de um bairro (Bairro de Fátima) que nascia sob as bênçãos da Virgem de Fátima.
Pela proximidade de nossa residência e pelo fato de a minha “Tia Freira” (Irmã Margarida) ser professora eu frequentava muito o Colégio Nossa Senhora das Graças, sendo alvo de atenção das alunas e outras irmãs que pediam para que eu pronunciasse a palavra “Fortaleza”, dissesse o nome “vermelho”, tudo para curtirem as diferenças do som da letra “R” no sotaque paulista. Lembro que cada irmã tinha um chamado especial, como um código, que era acionado pela recepção através do toque de um sino. Com esse código, cada irmã podia ser localizada facilmente e se dirigir até a Secretaria. Uma boa, inteligente e simples forma de comunicação, quando nos reportamos ao ano de 1962. Posteriormente nos mudamos para um apartamento quase ao lado da Catedral da Sé, em frente ao Arcebispado. Minha Tia Freira chegou a me levar para um retiro, não lembro exatamente em que ano, durante um período de carnaval. Fui então passar dois dias com as freiras e alunas do Colégio Nossa Senhora das Graças. Lembro que na localização foram instaladas camas de campanha de lona, cedidas pelo Exército, instituição amiga, pelo fato de ela própria, Irmã Margarida, tinha um irmão Cel. do Exército, em Lorena e muitos outros familiares militares. E passei esse tempo, com uma máscara de zorro e com um revólver de brinquedo (foto).
E mais adiante nova mudança, desta vez para a Rua Mário Mamede, por trás da Igreja de Fátima. Era uma vila de casas e tinha bons amigos para brincar, como o Carlos Henrique e o Mourão (que atualmente é médico em Fortaleza), mas que nunca mais tive contato. Chegamos a morar também em um apartamento no final de Costa Barros, bem em frente ao Arcebispado e muito próximo da Catedral da Sé.
Pois bem, pela proximidade da Igreja de Fátima, a minha “Tia Freira” logo me colocou para fazer o catecismo. Era o saudoso Padre Gerardo que nos ensinava as orações e nos preparava para a primeira comunhão, que fiz lá mesmo (fotografia, em nossa casa na Mário Mamede).
Em um dia 13 de Maio, salvo engano o do ano de 1962, ela fazia parte da equipe que organizava a procissão, saindo da Igreja do Coração de Jesus, no centro de Fortaleza, até a Igreja de Fátima. Eu participei dessa procissão, a pedido da Tia Freira, em uma camionete aberta, não lembro mais o tipo, paramentado simbolicamente de anjo.
Na Igreja de Fátima existiam meus colegas vizinhos que ajudavam as missas e que eram coroinhas. Eles me chamaram para eu participar e eu aceitei. Tinha que aprender as respostas em Latim. A disputa por quem ajudava mais missas era grande. Minha batina de coroinha era a menor, de número 1 (toda vermelha, com uma parte branca por cima, mas não sei mais os nomes das vestimentas).
Peripécias e artes de criança
Apesar de muito concentrado nas atividades, nós por vezes pedíamos para comer as hóstias que ainda não tinham sido consagradas! Imaginem...
E em uma das novenas, na Igreja de Fátima, bem em frente ao altar, naquele retângulo enorme, eu ficava em pé, balançando o turíbulo: “O turíbulo é utilizado principalmente nas missas solenes. É um objeto que queima o incenso com a simbologia de que nossas orações subam aos céus, assim como a fumaça do turíbulo, que também sobe aos céus”, explica o Missionário Redentorista,
Fr. Murilo Di Carvalho.
Na preparação do turíbulo, como eu tinha uns doze anos e minha altura não ser adequada para fazer o giro completo pelo ar, a fim de aquecer mais a brasa para que o incenso saísse muita fumaça, eu ficava na porta de trás da sacristia, aproveitando a parte superior e deixando o turíbulo balançar na altura do primeiro degrau da descida, até que conseguisse fazer um “360”, ou seja, girar inteiramente. Esta “operação 360” não era necessária, é claro. Tudo dava certo naquele local. Mas então, na hora “H”, da novena, com o Padre Gerardo celebrando a missa, eu fui tentado a fazer o tal 360 bem atrás do altar. Girei várias vezes até achar que daria certo. E tentei! Fracasso total... O turíbulo rodou, mas na descida bateu um pouco no chão e virou, esparramando toda a brasa. O Padre Gerardo virou, com o barulho, e deve ter pensado na arte que eu tinha feito. Resultado: tive que juntar as brasas rapidamente com as mãos e continuar como nada tivesse acontecido. Acidente de percurso.
Primeira Eucaristia e Casamento
Foi o local em que fiz minha primeira Comunhão, participei como "anjo" de uma procissão e no futuro viria a me casar. Toquei muitos casamentos como músico profissional e levado por minha tia Maria de Lourdes, quando tinha 11 anos de idade. Nesta belíssima Igreja de Fátima, após alguns anos morando em Messejana, e já tocando guitarra com o nosso Conjunto Musical Big Brasa eu voltei para o meu casamento, no ano de 1973, com o então Monsenhor Gerardo! A solenidade foi filmada pela TV Ceará Canal 2, integralmente e teve partes exibidas durante o programa do Augusto Borges, Show do Mercantil, do qual eu era produtor musical e também músico, com o nosso Conjunto Big Brasa.
Nesta oportunidade escolho para homenagear, in memoriam, o Monsenhor Gerardo e minha querida Tia Freira, Irmã Margarida (Maria de Lourdes Brandão).