A HORA DE PARAR
Paulo Azevedo
Vou tentar até os vinte e cinco anos, era o prazo estipulado. Não tão jovem para o futebol, não tão velho para recomeçar a vida. Fui um ano a mais, fui até os vinte seis, parei com a história de inúmeras lesões físicas e poucas lesões na alma, não guardei rancor, digerir bem o fim.
No início são milhares de moleques, depois centenas, depois dezenas, depois dúzias, depois três e talvez um. Lembro das peneiras do Fluminense, uma multidão, raro alguém ser pescado, não tem tempo hábil, fui porque já era conhecido do futsal, meu teste foi mera formalidade.
Juvenil no tricolor das Laranjeiras, não era para qualquer um, muito menos ser titular. Depois nos Juniores, alguns queridos ficaram para trás, alguns até melhores que eu, mas eu fui, de repente, profissional. Possibilidade de sucesso, fama, riqueza, mas a realidade é outra quando aparecem as lesões, os empresários, treinadores inseguros, equipes fracas, o cara tem quer ser fora de série ou louco para não se deixar perturbar.
Como não era fora de série e muito menos louco, aquele meio sempre incomodou muito. Lembro de muitos moleques craques que pararam no meio do caminho, virtuosos com a bola que quis o destino brecar o horizonte. Não fui nenhum craque, era bom, estava no nível da maioria, mas futebol assim como na vida necessita sorte.
Digo para os pais de atletas, não deixem seus filhos pararem de estudar, não façam dos seus filhos a galinha dos ovos de ouro, triste é lá na frente carregar o sentimento de frustração. E quando parar, recomeçar? Ter sabedoria para pendurar as chuteiras é o mais difícil, poucos conseguem, as vezes é o destino que se encarrega disso. Vai na dor. As vezes encontro colegas da época do futebol que depois de dois chopes dizem: Porra a gente não deu certo.
-Alto lá. A gente um dia sonhou. Pior seria nunca ter sonhado. Nego a carregar frustrações, até porque todo dia é dia para voar mais longe. Até os sonhos tem limite!