Nem todos dependem dos caminhoneiros
A greve dos caminhoneiros pode ter sido apenas um palito de fósforo riscado num cordão de pólvora. Não se iludam aqueles que ainda não viram muitas coisas. Entre outras coisas, esse movimento paredista serviu para mostrar que o País está à deriva. Sem comandante, e agora sem combustível (em muitos sentidos).
Não. O Brasil não está à beira de uma catástrofe. O país já é uma catástrofe – espiada e expiada por todos os poderes. Parece “pau de dar em doido”, ou como disse um dia Ibrahim Sued, “o samba do crioulo doido”.
Ficou visível que, por qualquer “dá cá mil réis”, as Forças Armadas são acionadas – o que evidencia que, neste momento, alguém quer empurrar goela do povo à baixo, que “só as Forças Armadas” merecem e impõem respeito. E aí é que “espirra” de todos os narizes, a falta de um comandante neste País.
Precisamos voltar a usar os nossos bois sem que seja só para comer a carne
Tenho estreita e perene ligação com a roça, com a vida rural, com as coisas das capoeiras abertas ao pastar do gado, ao relinchar dos jumentos e aos toques dos chocalhos dos bodes e cabras.
Não desdenho nem condeno a preferência de ninguém, mas prefiro um fim de semana numa fazenda, na roça, que nos restaurantes luxuosos de Paris ou de New York. Quem quiser que curta seus vinhos das melhores e diferentes castas. Eu me inebrio mais com o barulho ordenado e louvável da cigarra. E me dá uma vontade enorme de orgasmo, ouvindo o relinchar do jumento querendo subir na parceira. Aquele relinchar resfolegante dele tem o verdadeiro som da natureza e dos campos.
Ainda não descobri como uma greve de caminhoneiros pode afetar o meu dia ou a minha vida. Mas, infelizmente, vejo e percebo o drama de pessoas, apenas pelo fato de que, no posto não tem gasolina ou que no depósito faltou o gás de cozinha.
Nesse caso, entendo, muitos trocam os significados e a importância de várias coisas. Deixa de ser “gasolina” para ser “combustível”, no sentido de que é vital e importante para tudo. Se não tiver gasolina no posto ou no tanque do seu carro, você não consegue rezar, você não consegue fazer um bom sexo, e provavelmente você não conseguirá dar uma boa cagada. Tudo exagero.
– Gente, o comerciante está roubando: está cobrando R$150,00 num botijão de gás butano!
Mas, espere, quem rouba você, é o comerciante ou você que aceita pagar esse valor para resolver um problema que pode ter outra solução?
Se você tiver uma família pequena, com R$150,00 você compra pelo menos 7 “bandecos”. Ou pode comprar um fogareiro a carvão ou ainda uma churrasqueira elétrica. São muitas as opções de solução, sem que, necessariamente, te leve ao desespero.
E aí você responde: mas um botijão de gás atende suas necessidades em quase um mês.
Pode ser. Mas o pior é você alimentar uma roubalheira que pode estar prejudicando a você e a muitos. Como dizem os “aproveitadores” do Judiciário, “você cria uma jurisprudência”.
Como se tudo que gerou a greve não fosse suficiente – as estradas brasileiras são assim
Dizer aqui que a greve teve objetivo político, eu não digo. Deixo a critério das instituições que existem para investigar, e dizer sim ou não. Inicialmente, a reivindicação sinalizou para o “preço do óleo diesel”. O “Governo” foi quem acenou com o corte de alguns insumos – ou a transferência desses para outros itens de consumo da população.
Não se falou – inicialmente – em reivindicações na direção do aumento de tarifas dos fretes ou coisa parecida, e até um item muito forte que atrapalha não apenas a vida dos caminhoneiros, mas de toda a população: a qualidade das estradas brasileiras.
Infelizmente, a incompetência dos gestores só vislumbra uma solução: dar esmola com o chapéu dos outros, botando direto no furico do povo consumidor. E aí vem o aumento do gás de cozinha, da própria gasolina, do etanol (sem que necessariamente ninguém tenha “tocado” nesse combustível).
As televisões mostraram cenas hilárias. Filas e mais filas de pessoas com galões (não é algo proibido?) esperando nos postos – e para pagar o valor cobrado sem qualquer chiadeira. Além disso, uma “dona de casa” comprando de uma vez só, 20 pés de alface. O brasileiro precisa ser realmente estudado pela NASA. Ô povinho bosta!