Aécio chegou cedo ao escritório, alguns clientes o esperavam na sala. Cumprimentou-os, entrou. Sentou-se no birô, iniciou a leitura da correspondência. Ligou no interfone para Marlene. Ela levou a lista dos assuntos da manhã. Aécio perguntou quem era uma jovem, a secretária informou ser a filha do seu amigo falecido Tonho. Ela apareceu no lugar da mãe para pegar o cheque mensal. Ajuda que Aécio se comprometeu pelo resto da vida. Eram amigos de unha e carne desde criança jogando bola na praia. Tonho era o melhor jogador de sua turma.
Naquela época, a juventude convivia com as diferenças sociais. Valia mais quem sabia jogar bom futebol, quem trepava num coqueiro e sabia fugir correndo do vigia. Tonho era um atleta nato, desde o futebol na praia até mergulhar da cumeeira dos trapiches avançados mar adentro. Tornou-se o melhor amigo de Aécio, andavam sempre juntos caçando lagartixa com atiradeira (peteca) , mergulhando e pescando no Riacho Salgadinho, pegavam caranguejo goiamum e outras brincadeira inventada por aqueles jovens adolescentes.
O tempo que tudo desfaz, separou a amizade de infância. Anos depois Tonho procurou o amigo, estava morrendo, pediu para não deixasse a família desamparada. Desde que ele morreu, há três anos, um dos filhos de Tonho vai buscar um pequeno cheque, uma pequena ajuda.
Ele não conhecia essa filha do Tonho, morena vistosa, mandou-a entrar.
– Você parece com Tonho, sente-se. Por favor.
Recebeu-a em pé. A jovem puxou a cadeira confortável sentou-se, elegante, cruzou as pernas, sorriu.
– Muito prazer Nilda. Meu pai falava muito no senhor, muitas histórias ele contou de uma juventude alegre na praia da Avenida da Paz.
– Dá-me uma saudade dor quando vejo o Salgadinho desaguando naquele mar azul esverdeado, poluído, uma pena. Diga Nilda o que você faz na vida? Tonho foi grande amigo de infância. Gostaria de saber como posso ajudar?
– Doutor Aécio, eu estou desempregada, batalhando para sobreviver.
– Faça o seguinte, deixe seu currículo com minha secretária, vou ver o que posso fazer.
Levantou-se, estirou a mão, ficou olhando a filha de Tonho maravilhado. Que bela mulher!
Duas semanas depois ele a convidou para trabalhar no escritório, auxiliar de secretária. A convivência entre os dois se estreitou. Aécio tinha maior carinho pela filha do amigo. Ao olhar as pernas da jovem esquentava o sangue na veia, tentava se policiar. Certo dia no final do expediente ele dirigia quando avistou Nilda no ponto de ônibus, ofereceu carona, ela abriu a porta do carro, sentou-se como uma princesa. No primeiro sinal vermelho parou o carro, olhou nos olhos de Nilda, aconteceu o inevitável abraço e beijo, deixou-a perto de sua casa. No dia seguinte ela estava encabulada mal olhou para o patrão. Ele fez o convite inevitável. Passarem uma tarde inesquecível num motel da Jacarecica. A vida estabilizada, toda semana repetiram as tardes maravilhosas por mais de dois anos.
Aconteceu o inesperado, um italiano bonito e forte conheceu Nilda numa festa. Conversaram, tomaram champanhe, dormiram juntos.
Paolo se apaixonou, prolongou as férias, preparou a família, levou Nilda. A jovem agora mora em Gênova preparando-se para o casamento. Aécio, chocado, está em depressão. Em vez em quando bate saudade da fase maravilhosa que passou com a filha do Tonho, e também saudade da juventude jogando futebol com Tonho.