A FESTA DA MARICOTA (POEMA DO CEARENSE PATATIVA DO ASSARÉ)
A FESTA DA MARICOTA
Patativa do Assaré
SEU MOÇO QUE VAI PASSANDO
COM SEU MAÇO DE PAPÉ,
DESCURPE EU TÁ LHE FALANDO,
MAS ME ESCUTE SE PUDÉ.
APOI, QUANDO EU FUI OIANDO
QUE LHE VI, FIQUEI PENSANDO
E SOU CAPAZ DE JURÁ,
LOGO DA PREMÊRA VISTA,
QUE O SENHÔ É JORNALISTA,
E EU TENHO O QUE LHE CONTÁ.
O QUE EU QUERO LHE CONTÁ
NÃO É COISA BOA NÃO!
É UM BARUIO INFERNÁ
QUE SE DEU LÁ NO SERTÃO.
VOU DIZENDO, VOU DIZENDO
E O SENHÔ VAI ESCREVENDO,
NO PAPÉ TOMANDO NOTA,
MODE BOTÁ NO JORNÁ
CUMO FOI O GRANDE AZÁ
DA FESTA DE MARICOTA.
FOI ANTONTE ÁS DOZE HORA
DA NOITE O TÁ BRUBURINHO,
EU CORRI DE MUNDO AFORA
SEM PREGUNTÁ POR CAMINHO.
QUANDO CHEGUEI NA RODAGE,
ARRANJEI UMA PASSAGE
NUM CAMINHÃO QUE PASSOU;
DE MEDO CHEGUEI TREMENDO,
NÃO TOU AINDA SABENDO
QUEM MORREU, NEM QUEM MATOU.
MAS PORÉM É DO COMEÇO
QUE A HISTÓRA EU VOU PRINCIPIAR
APOIS EU TUDO CONHEÇO,
FALO SEM MEDO DE ERRÁ.
EU ME CHAMO JOÃO MOIRIÇO,
NESTE MUNDO O MEU SERVIÇO
É CANTÁ E TOCÁ VIOLA.
VIVO CANTANDO NO PINHO,
LIVRE CUMO UM PASSARINHO
QUE NUNCA ENTROU NA GAIOLA.
NO NORDESTE BRASILÊRO
CONHEÇO OS CANTÔ MAIS FINO,
CUMO O VICENTE GRANGÊRO,
MENDONÇA E SIRVA RUFINO,
JOÃO ALEXANDRE E DEDÉ,
CEGO BOBÔCO E CAZÉ,
E OS MIÓ DO CEARÁ,
QUE É JOÃO SIQUÊRA E FONSECA,
QUE INDA TANDO DE ENXAQUECA
NÃO SE ESCORA PRA CANTÁ.
FAÇO A MINHA VIDA INTÊRA
NO SERTÃO, SEM NEM ME OSTENTÁ.
É COM ESTA A VEZ TERCÊRA
QUE EU ANDO NA CAPITÁ.
NA VIDA DE VIOLÊRO
SOU QUAGE CUMO DINHÊRO,
QUE VEVE DE MÃO EM MÃO,
EU SOU, COM MEU INSTRUMENTO,
O MIÓ DIVERTIMENTO
DAS FAMIA DO SERTÃO.
AGORA, SEU JORNALISTA,
JÁ LHE DIXE QUEM SOU EU:
JOÃO MOIRIÇO, O REPENTISTA
QUE A RIMA NUNCA PERDEU.
É BOM QUE COIDADO TOME,
ESCREVA LOGO O MEU NOME
ANTE QUE O SENHÔ SE ESQUEÇA,
E VAMO PRA DIANTE AGORA,
SENÃO COM PÔCO ESTA HISTÓRA
FICA SEM PÉ E SEM CABEÇA.
LÁ NAQUELA BELA ZONDA
DO MEU QUERIDO SERTÃO,
NO LUGÁ BAXA REDONDA,
MORA SEU ZÉ DAMIÃO,
UM DOS AGRICURTÔ POBRE
QUE O CÉU DO CEARÁ COBRE,
NÃO É RICO, NÃO SENHÔ,
MAS É HOME AJUIZADO,
SINCERO, CONSIDERADO,
HONRADO E TRABAIANDÔ.
POBRE, MAS NÃO VEVE A RASTO
APOIS SEU ZÉ DAMIÃO
SEMPRE GUARDA PRA SEU GASTO
MIO, FARINHA E FEIJÃO.
NÃO É LÁ CUMO QUEM PODE,
MAS POSSUI OVEIA E BODE,
E DE TRÊS VACAS QUE TEM
NO INVERNO UM LEITINHO COME,
E NUNCA PADECE FOME
QUANDO OS REPIQUETE VEM.
ELE É O PAI DE MARICOTA,
MUIÉ TÃO SIMPATE E BELA
QUE O SERTÃO NUNCA MAIS BOTA
OUTRA FULÔ CUMO AQUELA,
O SENHÔ FIQUE CIENTE
QUE É VISTO POR TODA GENTE
QUE DERNE DELA MENINA
NA SUA DOCE INOCENÇA
DEU UMA CERTA PARENÇA
DAS COISAS SANTA E DIVINA.
TODO O POVO TAVA VENDO
QUE O TEMPO IA SE PASSANDO,
MARICOTA IA CRESCENDO,
E A BELEZA ACOMPANHANDO.
QUANTO MAIS ELA CRESCIA
MAIS BELEZA RECEBIA,
E QUANDO CHEGOU ENFIM
NA CASA DOS DEZASSEIS,
NEM A PRECENZA DO REIS
ERA TÃO BONITA ASSIM.
SUA FROMOSURA É TÁ,
QUE SE O POVO INDA FIZÉ
DOIS PARTIDO PRA VOTÁ
NA BELEZA DAS MUIÉ,
VAI SÊ GRANDE O MOVIMENTO.
E QUANDO CHEGÁ O MOMENTO
DO PREITO DESSA INLEIÇÃO,
TODO SERTANEJO VOTA
NA BONITA MARICOTA,
FIA DO ZÉ DAMIÃO.
NUNCA ELA GOSTOU DO MOÇO
DERRETIDO POR MUIÉ,
DE GRUVATA NO PESCOÇO
E OS DEDOS DURO DE ANÉ.
ELA SÓ SIMPATIZAVA
O RAPAZ QUE TRABAIAVA
E DERRAMAVA SUÓ.
POR ISSO TINYHA DESEJO
DE CASÁ COM O SERTANEJO
QUE SE CHAMA ZÉ LOLÓ.
ZÉ LOLÓ, SEU JORNALISTA,
É UM DISPOSTO FREGUÊS
QUE NÃO HAI QUEM LHE RESISTA,
TRABAIA POR DOIS OU TRÊS.
TUDO QUE FAZ É BEM FEITO,
SUAS CERCA É DUM TÁ JEITO
QUE MESTRE NENHUM PROTESTA,
É BEM FEITA, É DE PREMÊRA,
TÃO APRUMADA E LINHÊRA
QUE NEM A FRECHA DA BESTA.
PRA FAZ^CERCA É O ARTISTA
MIÓ QUE O SERTÃO CRIOU,
PARECE QUE TEM NA VISTA
AGÚIA DE AGRIMENSÔ.
TODO SERVIÇO ELE TOPA,
É RAPAZ QUE NÃO SE POPA,
NO ROJÃO ELE TÁ SÓ.
QUEM CONVENÇA EM ADJUNTO,
ALI, O PREMÊRO ASSUNTO
É O CABOCO ZÉ LOLÓ.
JÁ TENHO ASSISTIDO MUNTO,
JÁ GOSTEI MUNTO DE VÊ
ZÉ LOLÓ NOS ADJUNTO
BOTANDO OS ÔTO A SOFRÊ.
SE UM ROJÃO ELE PUXAVA,
OS COMPANHÊRO SUAVA,
E ELE ADIANTE, TODO ESPERTO,
LIGÊRO QUE SÓ UM GATO,
E TANTO ESPAIAVA O MATO
CUMO FAZIA COBERTO.
SE FALAVA UM CAMARADA
NO NOME DE MARICOTA,
ZÉ LOLÓ JOGAVA A ENXADA
DA DIREITA PRA CANHOTA,
DE ALEGRE DAVA DOIS GRITO,
PUXAVA UM ROJÃO BONITO
QUE O MATO VINHA DE ROLO.
NÃO TINHA QUEM LHE IGUAIASSE,
NÃO TINHA QUEM LHE ARCANÇASSE,
TUDO COMIA MIOLO.
ZÉ DAMIÃO E DONA ROSA,
A SUA ESPÔSA DE AMÔ,
DEU A DONZELA FROMOSA
AO MOÇO TRABAIADÔ;
MARIDO E MUIÉ QUERIA,
APOIS TODOS DOIS DIZIA
QUE A MOÇA É PRA SE CASÁ,
NÃO É COMO ESSES TESÔRO
DEPRATA, BRIANTE E DE ÔRO
QUE A GENTE POSSA GUARDÁ.
FÔRO LOGO BOTÁ OS BANHO
E O CASAMENTO MARCÁ.
O PRAZÊ ERA TAMANHO
QUE NINGUÉM PODE CONTÁ.
FOI GRANDE O CONTENTAMENTO
LÁ NO SERTÃO SE ESPAIOU
A MAIS ALEGRE NOTIÇA,
ARGUÉM PEDIU AS ARVIÇA,
E ARGUÉM DE INVEJA CHOROU.
NÃO TEM QUEM SABA NA VIDA
DOS PRANO DE UMA MUIÉ,
TODA MÃE É PERVENIDA.
E SABE O QUE AS FIA QUÉ.
APOIS DONA ROSA VINHA
CEVANDO MUNTA GALINHA
E PATO, PERU E CAPÃO,
SÓ PRUQUÊ ELA SABIA
QUE O MOÇO ZÉ LOLÓ IA
SÊ GENRO DE DAMIÃO.
AFINÁ VIU-SE ROMPÊ
O DIA DO CASAMENTO,
DIA QUE ENQUANTO EU VIVE
NÃO SAI DO MEU PENSAMENTO.
SEU MOÇO ZÉ LOLÓ IA
SÊ GENRO DE DAMIÃO.
AFINÁ VIU-SE ROMPÊ
O DIA DO CASAMENTO,
DIA QUE ENQUANTO EU VIVÊ
NÃO SAI DO MEU PENSAMENTO.
SEU MOÇO, EU NÃO SEI DE NADA,
MAS AS LEITURA SAGRADA,
O LIVRO DOS EVANGÉIO,
QUE É TÃO BOM, TÃO SANTO E PURO,
DEVIA DIZÊ O FUTURO
DAS COISA DO MUNDO VÉIO.
MAS A GRANDE HUMANIDADE
QUE DE TUDO QUÉ SABÊ,
NUNCA ADIVINHA A VERDADE
DO QUE VAI ACONTECÊ.
E TEM BICHINHO SERVAGE
QUE, COM A SUA LINGUAGE
E A MUSGA DA SUA VOZ,
CONTA TUDO CERTO E EXATO,
APOIS TEM BICHO NO MATO,
QUE SABE MAIS DO QUE NÓIS.
NO DIA DO CASAMENTO,
QUANDO TUDO SE APRONTOU,
QUE O GRANDE ACOMPANHAMENTO
ATRÁS DOS NOIVO MACHOU,
DO LADO ESQUERDO DA ESTRADA
LÁ NUMA FEIA QUEBRADA
NO FUNDO DE UM CAFUNDÓ
UMA COÃ GARGAIAVA,
GARGAIAVA E AGORAVA,
NA COPA DE UM PAU-MOCÓ.
SEU MOÇO, FIQUE SABENDO
QUE AQUELA BICHA É ASSIM:
GARGAIANDO, TÁ DIZENDO
QUE VAI SE DÁ COISA RIM.
DAQUI A PÔCA DEMORA,
QUANTO SE PASSOU,
O SENHÔ FICA CIENTE
QUE AQUELA COÃ NÃO MENTE,
POIS A BICHA ADIVINHOU.
EU CONHECI DO PERIGO,
MAS NÃO CONTEI A NINGUÉM.
FIQUEI A DIZÊ COMIGO:
- A DESGRAÇA LOGO VEM!
E SÓ NÃO SAÍ DA FESTA,
DEXANDO AQUELA PALESTRA,
PRUQUÊ SEU ZÉ DAMIÃO
NA FESTA DA SUA FIA
QUERIA UMA CANTORIA
DO CANTADÔ DO SERTÃO.
FINGUI QUE TAVA CONTENTE
E FUI AJUDÁ AS MUIÉ
TRABAIANDO DE SERVENTE
AO POVO DANDO CAFÉ;
TRABAIANDO NAS COMIDA,
E AFINÁ EM TODA LIDA,
DA DESPENSA PRO FOGÃO,
NAQUELE CONSTANTE JOGO,
BOTÁ PANELA NO FOGO,
BOTÁ PANELA NO CHÃO.
QUAGE ÁS SEIS HORA DO DIA
CHEGARO OS NOIVO, CASADO,
ZÉ LOLÓ FAZENDO GUIA
COM MARICOTA DE LADO,
E ATRÁS O RESTO DO POVO,
HOME, MUIÉ, VÉIO E NOVO,
UNS CASADO, OUTROS RAPAZ.
FOI TUDO BEM SUCEDIDO,
NADA TINHA ACONTECIDO,
CHEGARO NA SANTA PAZ.
MARICOTA, O ANJO PREFEITO,
A PRENCEZA DO SERTÃO,
VINHA BONITA, DE UM JEITO
DE MACHUCÁ CORAÇÃO.
DE PARMA, VÉU E CAPELA
NÃO SEI A BELEZA DELA
COM QUE POSSO COMPARÁ.
APOIS TÃO BONITA TAVA
QUE PRA SANTA, SÓ FARTAVA
SE ENCOLOCÁ NUM ARTÁ.
PRA VÊ A FIA CASADA,
PREMÊRO VEM MÃE E PAI.
QUE COM AS FALA CORTADA
AS ÁGUA DOS ÓIO CAI.
DESPOIS TUDO, DE UM EM UM,
NAQUELE PRAZÊ COMUM,
PRA PERTO DOS NOIVO VEM
COM GRANDE SATISFAÇÃO
DÁ UM APERTO DE MÃO,
E OS ALEGRE PARABÉM.
ERA COM PRAZÊ E ALEGRIA
CUMO EU NUNCA VI ASSIM,
SÓ EU, SEU MOÇO, SENTIA
UM CHOQUE DE COISA RUIM,
E NÃO TIRAVA A COÃ,
QUE GARGAIOU DE MANHÃ,
DA MINHA MAGINAÇÃO.
PARECE INTÉ QUE EU NOTAVA
QUE ÔTA COÃ GARGAIAVA
CÁ DENTRO, EM MEU CORAÇÃO.
SEU MOÇO, EU SEMPRE PENSAVA,
PENSAVA COMIGO SÓ,
QUE ARGUMA COISA SE DAVA
NA FESTA DE ZÉ LOLÓ.
MAIS TARDE, DESPOIS DA CEIA,
DESPOIS DAS BARRIGA CHEIA,
ME PEDIRO PRA CANTÁ,
E EU NÃO RESPONDI QUE NÃO,
POIS A SEU ZÉ DAMIÃO
EU NÃO PODIA FARTÁ.
ME FINGI DE SATISFEITO
E CUMO BOM CANTADÔ
ENCALOQUEI SOBRE O PEITO
O MEU PINHO GEMEDÔ.
DO BORDÃO PRAS ÔTAS CORDA
PERCUREI LOGO A CONCORDA,
DO COMEÇO ATÉ O FIM,
BOTEI OS DEDO NA ESCALA,
CORRI A VISTA NA SALA,
E ENTREI POR AQUI ASSIM:
- VIVA A NOIVA E VIVA O NOIVO,
VIVA SEU ZÉ DAMIÃO,
DONA ROSA, A SUA ESPOSA,
COM TODA A REUNIÃO,
E VIVA EU, JOÃO MOIRIÇO,
O CANTADÔ DO SERTÃO!
MEU BOM POVO, AGORA EU QUERO
LICENÇA PREMERAMENTE,
PRO MODE EU RIMÁ UNS VERSO
PROS NOIVO QUE TÁ PRESENTE
QUE A LUZ QUE MAIS ALUMEIA
DEVE SE BOTÁ NA FRENTE.
MARICOTA, DE HOJE EM DIANTE
VOCÊ NÃO VAI VIVE SÓ
ZÉ LOLÓ AGORA É SEU,
E VOCÊ DE ZÉ LOLÓ,
QUE OS DOIS VIVENDO ASSIM JUNTO
FICA A VIDA MAIS MIÓ.
CUMO UM CASÁ DE ASA BRANCA,
MORANDO N0 MÊRMO NINHO,
VOCÊS DOIS AGORA VÃO
TRIÁ O MÊRMO CAMINHO,
TROCANDO BÊJO POR BÊJO,
E CARINHO POR CARINHO.
VÃO VIVÊ DE UM PARA O ÔTO,
SE, OFENDÊ A NINGUÉM,
QUANDO ZÉ LOLÓ CHORÁ
VOCÊ SOLUÇA TOMBÉM,
E VÃO PASSANDO A VIDA
SE AMANDO E QU7ERENDO BEM.
ZÉ LOLÓ QUE É SEU MARIDO,
LHE TRAZ NA PARMA DA MÃO,
DANDO GOSTO A DONA ROSA
E AO SENHÔ ZÉ DAMIÃO,
FINAMENTE A TODO POVO
DO NOSSO BELO SERTÃO.-
ASSIM, SEU MOÇO, EU CANTAVA,
E QUANDO FINDAVA UM PÉ,
DO POVO QUE ALI SE ACHAVA,
HOME, MENINO, E MUIÉ,
PARMAS E VIVAS CHOVIA,
QUE VOSSEMICÊ PODIA
FAZÊ A COMPARAÇÃO
DE UM CANDIDATO FALANDO
NOS COMIÇO, CABALANDO
OS INLEITÔ DO SERTÃO.
A NOITE IA SE PASSANDO
E O POVO A SE DIVERTI,
EU JÁ TAVA INTÉ PENSANDO
QUE A COÃ IA MENTI,
QUANDO VI ENTRÁ NA SALA,
LIGÊRO, IGUÁ UMA BALA,
UM RAPAZ, E FOI DIZENDO
QUE TAVA LÁ NO TERRÊRO
O DIABO DUM CANGACÊRO
JOGANDO, PUIA E BEBENDO.
EU SENTI LOGO UM VEXAME
DAS PERNA PRO CORAÇÃO,
OS MEUS DEDO NOS ARAME
FOI AQUELA CONFUSÃO,
TREMIA A MINHA VIOLA,
O VERSO EM MINHA CACHOLA,
CACEI, MAS NÃO PUDE ACHÁ!
EU SOU MUNTO ESMORECIDO,
NÃO HERDEI NESSE SENTIDO
O GENO DO CEARÁ.
ERA MAIS NOITE EM PONTO,
HORA QUE O DIABO SE SORTA
LÁ DOS INFERNO, E VEM PRONTO
PRA DÁ NO MUNDO UMAS VORTA.
É NESSA HORA QUE O DIABO
SAI, DE ESPORÃO, CHIFRE E RABO,
POR ESTE MUNDO A VAGÁ,
AJUDANDO OS MAFAZEJO
E O SEU INSTINTO INFERNÁ.
O CABRA VINHA COBERTO
DA TENDA DA PERDIÇÃO,
EU REPAREI E TOU CERTO
QUE ELE TRAZIA NA MÃO
O MAIS PIÓ DOS FRAGELO:
UM RIFE PAPO-AMARELO,
E SEM COMPAXÃO NEM DÓ,
UM FEIO PUNHÁ DE UM LADO,
E UM GRANDE LENÇO ENCARNADO
AMARRADO NO GOGÓ.
CHAPÉU DE DOIS BRABICACHO,
UM NO QUÊXO, OUTRO NA TESTA,
ERA A PINTURA DO DIACHO
O CABRA NAQUELA FESTA.
QUE HORA DE GRANDE AGONIA!
TUDO DE MEDO TREMIA,
SÓ ZÉ LOLÓ NÃO MUDOU.
ESTE TAVA CARRANCUDO,
SISUDO, MUNTO SISUDO.
DÊRNE QUE O CABRA CHEGOU.
ENTONTECE, AQUELE SUJEITO
DE CARA LISA, LAMBIDA,
FARTANDO COM O RESPEITO,
TRÔXE UM COPO DE BEBIDA
ENTROU NA SOCIEDADE,
E COM CERTA LIBERDADE
A MARICOTA OFERECEU,
PEDINDO QUE ELA BEBESSE,
OU ENTONCE RECEBESSE,
MAS ELA NÃO RECEBEU.
SEU MOÇO, O SENHÔ PRECEBE
QUE NO SERTÃO, DE ONDE
EU SOU,
TEM PESSOA QUE NÃO BEBE
NEM MODE FAZÊ FAVÔ:
EU CONHEÇO SERTANEJA
QUE, MODE AS REZA DA IGREJA,
NUNCA TOMA UMA BICADA
NEM MÊRMO UMA BICADINHA,
PRA LHE SERVI DE MEIZINHA,
QUANDO ELA TÁ RESGUARDADA.
MARICOTA É DESTE JEITO,
POIS DURANTE A SUA VIDA
MODE NÃO QUEBRÁ O PERCEITO
NUNCA ELA TOMOU BEBIDA.
O CABRA, DESENGANANDO.
FOI DEPRESSA SE AFOBANDO,
E SEM MAGINÁ EM DERROTA,
SM PENSÁ NA PROPE VIDA,
JOGOU O COPE DE BEBIDA
EM RIBA DA MARICOTA.
SEU MOÇO! Ô QUE FUZUÊ!
FOI UM LELÊ DOS MAIÓ,
EU VI O CABRA GEMÊ
NA PEXÊRA DO LOLÓ.
QUANDO EU VI AQUELE EMBRUIO
DA SALA DEI UM MARGUIO,
LEVANDO O PINTO NA MÃO,
MINHA QUERIDA VIOLA,
QUE NEM BOTEI NA SACOLA,
Ô NOITE DE CONFUSÃO!
FOI O MAIÓ ALARIDO,
TUDO GRITAVA: AI, AI, AI!
MUIÉ CHAMANDO O MARIDO,
O FIO CHAMANDO O PAI,
SÓ O DIABO, CERTAMENTE,
PÔDE INVENTÁ DE REPENTE
UM TÃO GRANDE ESPAIAFATO,
CUMO UM TROVÃO QUANDO ESTRONDA,
POR TODA A BAXA REDONDA
CORRIA GENTE NOS MATO.
EU TOMBÉM CORRI COM MEDO,
NÃO VOU NEGÁ NEM MENTI,
TIVE QUE PISÁ NO BRÊDO,
TIVE QUE ME ESCAPULÍ,
E NUM MOMENTO MESQUINHO
CAÍ POR RIBA DO PINHO,
MEU PINHO DE ESTIMAÇÃO
FICOU TODINHO EM PEDAÇO,
FOI O DERRADÊRO ABRAÇO
QUE DEU NO MEU CORAÇÃO.
E ANTE QUE A HISTÓRA EU ACABE
SEU JORNALISTA, DÊ FÉ,
VELA A COÃ COMO SABE!
É COMO EU DIGO OU NÃO É?
ELA, QUANDO GARGAIAVA,
COM CERTEZA ME CONTAVA
QUE A DESGRAÇA IA SE DÁ.
MAS PORÉM NINGUÉM COMPREENDE,
NINGUÉM SABE NEM ENTENDE
A LÍNGUA DOS ANIMÁ.
MINHA QUERIDA VIOLA,
ALIVE DO MEU PENÁ,
VALIA MAIS QUE AS VITROLA
DAS SALA DA CAPITÁ
MINHA VIOLA QUERIDA
FOI DURANTE A MINHA VIDA
REMÉDIO DAS AFRIÇÃO,
DAS MINHAS CANSÊRA E PENA,
E ERA O PRAZÊ DAS MORENA,
NAS NOITE DE SÃO JOÃO.
VÁ-SE OS ANÉ, FIQUE OS DEDO:
É DITO BOM NATURÁ SÓ QUEBREI
POR VIM COM MEDO
AH, INFELIZ VAGABUNDO!
E INDA TEM GENTE NO MUNDO
QUE PENSA E DIZ INTÉ,
QUE RIM SÓ FOI LAMPIÃO,
MAS TEM CABRA NO SERTÃO
QUE ANDA FAZENDO O QUE QUÊ.
SEU MOÇO, EU FAÇO JUÍZO
DESTE MUNDO, E DIGO ASSIM:
- O MUNDO ERA UM PARAÍSO
SE NÃO FOSSE GENTE RIM,
SE NÃO FOSSE O GANGACÊRO,
O ROBADÔ, O DESORDÊRO.
ESSES ARGENTE DO DIACHO,
DA NATUREZA DE INCRÉU,
NÓS CONTAVA COM DOIS CÉU,
ERA UM EM RIBA E ÔTO EM BAXO.
MAS O MUNDO TÁ DE UM JEITO
QUE NO SERTÃO DO BRASIL,
A GENTE NÃO TEM DIREITO
NEM MÊRMO DE DIVERTI
EU, QUE NÃO GOSTO DE INTRIGA
E MUNDO MENO DE BRIGA,
QUANDO VEJO ESSES HORRÔ
SAIO CORRENDO, ASSOMBRADO,
CUMO O VEADO CHUMBADO
COM MEDO DO CAÇADÔ.
DAQUELA CENA MARDITA
EU AINDA TOU COM MEDO
TANTA MOCINHA BONITA
CORRÊ, PRA DORMI NO BRÊDO!
QUE ZOADA! QUE ARVOROÇO!
EU SÓ QUERIA, SEU MOÇO,
QUE PRO PAÍS BRASILÊRO
DEUS DO CÉU INDA MANDASSE
UM CASTIGO, QUE ACABASSE,
COM TUDO QUE É CANGACÊRO.