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Ana Paula e Marcelino Alves levaram as filhas Mariana e Manuela para a votação: lição sobre democracia |
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O sonho de Patrícia de Sousa é que os filhos, Nathan e Layla, possam estudar em escola pública |
“Quero que os eleitos façam um bom governo e olhem para a educação, porque, sem ela, não se faz nada. Até a saúde depende da educação.” Foram o sentimento de esperança no futuro e o senso de responsabilidade cidadã que moveram a professora aposentada Neide Cesar Bussacos, 86 anos, a participar do pleito de ontem.
Mesmo sem a obrigatoriedade do voto, ela foi uma dos quase 1,7 milhão de eleitores que compareceram às urnas no Distrito Federal. Eles escolheram 24 deputados distritais, oito deputados federais e dois senadores, além dos dois candidatos que disputam o governo do Distrito Federal no segundo turno das eleições, marcado para 28 de outubro.
Neide votou na Escola Francesa François Mitterand acompanhada das duas filhas e do genro. Moradora de Brasília há 40 anos, nunca perdeu uma eleição desde o pleito presidencial de 1989, o primeiro após o fim da ditadura. “É um dever do cidadão e, como educadora, é uma obrigação maior ainda”, frisou.
Assim como Neide, o aposentado Francisco Bandeira de Sousa, 84 anos, nunca deixou de votar e garantiu que a idade nunca o impediu de exercer seu papel de cidadão. “Se a gente está em casa, se tem boa saúde e tem condições, vamos votar, sim”, declarou.
Na Escola Classe 28 em Ceilândia, sentado num banco, observava o movimento das pessoas, enquanto recuperava o fôlego para ir embora. Ele se mostrou otimista, desejando melhorias e uma maior atenção aos mais necessitados. “Neste momento, o pobre não ganha nada, é preciso mudar. Por isso, o voto é importante, é uma obrigação que nós temos, escolher um candidato que ajude os mais pobres.”O aposentado mora em Águas Lindas no Goiás, mas nunca quis transferir o título para o estado vizinho. Em todas as eleições, levanta bem cedo e costuma ser um dos primeiros a chegar à zona eleitoral onde vota, em Ceilândia. Afirma que o caminho vale muito a pena.
A primeira eleitora do colégio Ciman, na Octogonal, foi a aposentada Wang Rufino, 79. Mesmo sem a obrigação de votar, ela fez questão de ir à urna. “Pela situação que eu vejo o país, resolvi votar. Pesquisei muito e fui atrás de currículos para tomar minha decisão”, disse a moradora do Sudoeste.
O aposentado Messias Moreira Borges, 74, teve a mesma motivação para votar. “A gente tem que exercer a democracia. Tenho um netinho de poucos meses e quero que o futuro do país seja melhor para ele e todo mundo, com melhor distribuição de renda e justiça social”, relatou.
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"É um dever do cidadão e, como educadora, é uma obrigação maior ainda" Neide Cesar Bussacos, 86 anos |
Em família
Além dos muitos idosos que optaram por votar com a esperança de um país melhor, diversos pais e mães levaram as crianças para acompanhar o processo eleitoral.
A empresária Ana Paula Alves, 31, e o comerciante Marcelino Alves, 42, levaram as filhas Mariana e Manuela Sousa Alves, 8 e 2 anos, para o local de votação. A mais velha quis entrar com o pai na cabine, mas não pôde. “Queria saber como era apertar o botão. A gente estuda sobre eleição na escola. A professora disse que a partir dos 16 anos pode votar, e eu vou querer, mesmo não sendo obrigatório ainda. Também aprendi sobre direitos e deveres dos cidadãos, contou.
Marcelino reforçou a angústia com o futuro das filhas. “Vim escolher o meu candidato para ajudar no futuro delas. É a esperança de algo melhor. Vamos acompanhar a apuração dos votos com a ansiedade de a nossa escolha vencer”, destacou o comerciante.
A vendedora Patrícia de Sousa, 38, tem como maior desejo uma melhor educação no país. Atualmente, os filhos estudam em uma escola particular, mas o seu desejo era de que eles estivessem matriculados no Centro Educacional 7 do Gama, escola pública em que ela estudou.
“Antigamente, o ensino aqui era maravilhoso, mas, agora, é totalmente diferente. Todo pai se preocupa com a educação do filho, portanto, nós não vamos deixá-los em qualquer escola. O meu voto de hoje (ontem) foi um apelo para que os governantes do país olhem com mais carinho para os colégios públicos”, disse.
Durante a votação de ontem, os filhos de Patrícia, Nathan Ahmad, 10, e Layla Ibrahim, 3, estiveram ao seu lado. Assim como a mãe, o garoto sente que a educação do país poderia receber mais incentivos. Segundo ele, isso ajudaria as pessoas a não fazerem escolhas ruins. “Só assim teremos um Brasil melhor”, disse Nathan.
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"Pesquisei muito e fui atrás de currículos para tomar minha decisão" Wang Rufino, 79 anos |
Descrença
Apesar do sentimento de esperança de tantos eleitores, alguns afirmaram estar totalmente descrentes de uma mudança real na política brasileira. O assistente administrativo Gerson Guimarães, 43, anulou todos os votos. Para ele, a política nunca vai mudar. “Vão se passar 500 anos e tudo continuará do mesmo jeito. As ideologias dos candidatos são todas as mesmas”, afirmou.
Ele votou no Centro de Ensino 203, no Recanto das Emas, acompanhado da filha Ana Beatriz Guimarães, 8, e, apesar de estar descrente na política do país, incentiva a filha a conhecer e a entender a importância do voto. “Eu queria votar. Mesmo pequena, sei como tudo funciona. Sei que tem que escolher um candidato e vai aparecer o nome e o número dele. Se você quiser, é só aceitar; se não, cancelar tudo”, ensina a criança.
*Estagiário sob supervisão de Sibele Negromonte