Jerson sempre foi uma criança tímida. Apanhava dos coleguinhas e, mesmo instigado pelos pais, não tinha coragem de reagir. Não levava jeito para esportes, que exigissem esforço físico. Gostava de futebol, mas se fosse jogo de botão ou totó.
Os pais eram católicos e o acostumaram a frequentar a Igreja aos domingos. No colégio, seus colegas o disputavam nos trabalhos de grupo, por ser bastante inteligente e um aluno exemplar.
Tornou-se adolescente, com a mesma timidez. Não paquerava, não namorava nem gostava de dançar. Já rapaz, beirando os 18 anos, era sempre assediado por amigas, mas não se envolvia com nenhuma.
Os colegas achavam estranho o seu comportamento e a rejeição que demonstrava pelas moças. Começaram a achar que ele tinha outras preferências. Entretanto, nunca o viram investir em rapazes, como também não apresentava trejeitos efeminados.
Todos os seus amigos eram pegadores e não podiam ver um rabo de saia. Todos tinham namorada fixa e pensavam em casar.
Os rapazes combinavam com as amigas, para se insinuarem para Jerson, mas as tentativas eram em vão. Jerson fugia de namoro, como o diabo foge da cruz.
Certo dia, Josué, seu melhor amigo, criou coragem e conversou com ele sobre o seu estranho comportamento. Disse-lhe que ele estava dando margens a comentários maldosos no que se referia à sua masculinidade. Indignado, Jerson reagiu e disse que era um homem normal. Era romântico e sonhador. Apenas, ainda não havia encontrado a parceira ideal. Ainda não tinha sentido atração sexual por nenhuma moça. Mas tinha certeza de que a sua alma gêmea estava a caminho. Lembrava as palavras da sua avó materna:
“Casamento e mortalha, no céu se talha”.
Pretendia se casar, futuramente, em vez de ficar de galho em galho, como a maioria dos rapazes.
Disse ao amigo que, em todas as moças que se insinuavam para ele, faltava o brilho no olhar, que ele tanto procurava. Antes de qualquer atributo físico, admirava nas pessoas a beleza interior.
Afinal, como já disse o poeta, os olhos são o espelho da alma.
Certo dia, os amigos convidaram Jerson para o aniversário de 19 anos de um deles. Por influência, ele também tomou algumas cervejas. De repente, chegaram ao restaurante algumas moças conhecidas, acompanhadas de amigas bastante atraentes. Uma delas passou a se insinuar para Jerson e, no final, amanheceu o dia com ele num motel. Foi a primeira experiência sexual de Jerson. Rápida e sem graça.
Logo depois, Jerson alegou estar com dor de cabeça e os dois foram para suas respectivas casas, sem trocar uma só palavra.
Jerson se sentiu um babaca, por ter cedido às pressões dos amigos, ainda mais com uma moça de programa. Isso lhe provocou uma certa revolta. Resolveu que, pelo menos por uns tempos, iria se afastar de todos e se dedicar apenas aos estudos.
Os amigos estavam curiosos, para saber como tinha sido a noitada de Jerson com a garota. Também estavam certos de que, depois daquele encontro, o querido amigo despertaria para as alegrias do sexo e passaria a se interessar pelas mulheres.
Depois de dois dias sem se encontrar com a turma, nem atender telefone, Jerson resolveu procurá-los. Todos queriam saber, ao mesmo tempo, como tinha sido aquela famosa noite. E a pergunta era a mesma:
– E então, Jerson, valeu a pena? Mulher é bicho bom ou não é?
Demonstrando muita irritação, o rapaz respondeu:
– Querem saber a verdade?
Cheguei à seguinte conclusão:
– “XIRANHA” só tem mesmo é FAMA!!!