Estou tensa com o avançado da hora. A partir da meia noite, também terei que me desligar dele. Não poderei vê-lo, pegá-lo ou apertá-lo. Ele é meu companheiro de todas as horas. Sem ele, não me deito. E se me deito, não consigo dormir. Tem sido o meu amor e está comigo em todas as horas. A saudade dele está “doendo em mim”.
Pela primeira vez, depois 10 anos, vi-me obrigada a me afastar dele. Nunca imaginei que isso fosse possível. De repente, não mais que de repente, isso aconteceu.
Para mim, ele é do tamanho do mundo. Um mundo de paz e alegria.
A tranquilidade bateu em minha porta, desde o dia em que o conheci.
Fecho os olhos e tento mudar o pensamento. Sem ele, perdi “meu norte” e nada me satisfaz.
De repente, senti falta dele. De repente, o mundo parou. A sensação de que o ar iria me faltar tomou conta de mim. Senti pânico. Medo da vida, medo de tudo.
Já no Centro Cirúrgico, aguardando a minha vez, senti a boca seca.
Pensamentos confusos me embaraçaram a mente.
Pedi água, mas não me deram. Pedi ajuda a quem estava por perto, mas todos me ignoraram. Mesmo sem respirar direito, fechei os olhos. O Centro Cirúrgico estava gelado. Não notei quando fui anestesiada. Só me lembro do médico me respondendo “não” a tudo o que eu pedia.
Quando despertei, o pesadelo havia terminado. A cirurgia de vesícula foi um sucesso.
Com alegria, recebi de volta meu inseparável SORINE, razão dessa minha agonia.
O cirurgião, risonho, disse que ali no Centro Cirúrgico, já tinha visto de tudo:
Pacientes com escapulários, “agnus dei” e medalhas de santos, mas pela primeira vez na vida, tinha visto uma paciente desesperada, agarrada com um vidro de “sorine”.