Nas festas de exposição de animais, comuns em algumas cidades nordestinas, o bode reprodutor, o chamado “pai-de-chiqueiro”, sempre se destaca, pelo porte elegante, desenvoltura, chifres belíssimos, cavanhaques e sacos enormes.
Os bodes são os machos reprodutores, criados e mantidos nas propriedades, para fazerem a monta, garantindo a geração de cabritos de alta qualidade. Há grande influência na qualidade da sua descendência. Enquanto a cabra produz um ou dois descendentes ao ano, o bode cobre 35 fêmeas, podendo ser o pai de até 70 crias.
Zé de Firmo era um empregado de confiança na Fazenda Curió, do “Major” Elomar, conhecido criador de bodes. O “Major” tinha um bode reprodutor de raça estrangeira, que pesava quase 60 quilos. Participava de todas as exposições de animais que havia na região e sempre era premiado. Esse bode, pai-de-chiqueiro, que era chamado de Belo, era o orgulho do fazendeiro. Belo não parava de cobrir as cabras, que viviam prenhas. Era uma fonte de renda inigualável.
Certa vez, um grupo de religiosas de um Colégio de Natal foi convidado para a abertura da Exposição de Animais, que acontece anualmente.
Como de costume, o dono da Fazenda Curió estava presente, expondo Belo, seu valioso bode reprodutor, verdadeiro pai-de-chiqueiro, escoltado por seu tratador. Zé de Firmo era um homem falante e gasguito, que mal sabia ler e escrever. Mas era um excelente empregado, fiel escudeiro do “Major” Elomar.
As freiras aceitaram o convite e lá estavam, felizes e deslumbradas com a beleza dos bovinos e caprinos, entre eles Belo, o bode reprodutor escoltado por Zé de Firmo. As religiosas, sob o comando da Madre Superiora, admiravam a beleza dos animais expostos, até que se aproximaram de Belo, e ficaram encantadas com o que viam em sua frente. Belo era um bode pai-de-chiqueiro, de postura elegante, exibindo seus enormes chifres, um belo cavanhaque, além de um avantajado saco, que balançava ao vento, no simples caminhar. Um belíssimo animal branco malhado, arisco, fogoso e berrante.
As freiras, como se sabe, são verdadeiras santas, incapazes de dizer ou admitir palavrões ou palavras irreverentes em sua frente. Estão acostumadas a ouvir as maravilhosas músicas sacras nas Missas e a fazerem suas orações.
A mais empolgada delas, impressionada com a “performance” do Bode Belo, puxou assunto com Zé Firmo, homem rude, e dono de um palavreado chulo, querendo saber se o precioso animal “dava conta” mesmo das cabras.
Diante dos visitantes, que arrodeavam o famoso bode reprodutor, a freira ouviu de Zé Firmo, a seguinte resposta, que soou como uma explosão nos seus ouvidos e das demais religiosas:
– Dona, a senhora não sabe como este bode é sem-vergonha!!! Só vive cobrindo as cabras!!! É um “fudedorzinho” da gota serena!!!
Nesse ínterim, a religiosa teve uma crise histérica e começou a gritar. Saiu da exposição numa maca do SAMU, direto para uma urgência hospitalar.