A ESPERANÇA
Júlio Dinis
No passado, uma saudade, No presente, uma amargura, E no futuro, uma esp’rança
De imaginária ventura;
Eis no que consiste a vida Imposta por Deus ao homem. Nisto se consomem
dias!
Nisto anos se consomem!
Saudade é flor sem perfumes
Quando ainda verdejante,
Mas à medida que murcha,
Ai, que aroma inebriante!
A amargura é duro espinho Que nas carnes penetrando, Faz desesperar
da vida,
Suas flores definhando.
A esperança é frouxa luz
Que nas trevas nos fulgura;
Vendo-a, ousados caminhamos:
Mas, ai, que bem pouco dura;
Quantos mais passos andados Na agra senda desta vida, Mais amargo é
o presente,
E a saudade mais sentida.
Mas a esperança não; os anos Fazem-lhe perde r o brilho; Caem-lhe
uma a uma as folhas Da existência pelo trilho.
A velhice nada espera,
Nada da esperança lhe dura…
Mas não, cansada da vida,
Tem a paz da sepultura.
Tem a morada fulgente
Da inteligência divina;
Tem as regiões sagradas,
Que eterno sol ilumina.
Bendito sejas, meu Deus! Que nos dás na vida inteira
A filha dos céus, a esperança, Por suave companheira.
Ela nos enxuga o pranto
O pranto alegre e amargoso;
Não a acusemos de pérfida,
Esperar já é um gozo.
A mente, esperando, concebe, Concepção sempre iludida, Prazeres
talvez entrevistos
Nas cenas duma outra vida.
Esperemos, pois, companheiros
Desta fadigosa viagem!
Se a esp’rança é a imagem do gozo,
Adoremos essa imagem.
E cruzando este oceano Com os olhos no porvir. Esqueçamos no presente
Seu horroroso bramir.
E quando enfim, já cansados, Reclinarmos nossa fronte.
Que a esperança nos revele
Mais dilatado horizonte.