Um atentado ao decoro, à estética e aos bons costumes surpreendeu os brasileiros que assistiam à sessão da Câmara de 23 de março de 2006. Sacudindo os braços roliços, balançando o opulento quadril e exibindo um sorriso irônico, a deputada federal Ângela Guadagnin (PT-SP) percorreu o plenário da Câmara comemorando a absolvição do mensaleiro João Magno (PT-MG) pelos colegas da Casa.
Flagrada pelas câmeras de televisão, a imoralidade entrou para o capítulo brasileiro História Universal da Infâmia como a Dança da Pizza.
Nesta quarta-feira, depois de encerrada a sessão que arquivou a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça, os brasileiros foram vítimas um atentado semelhante. Sacudindo os braços roliços, balançando o enorme quadril e exibindo um sorriso irônico, o deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) cantarolou diante das câmeras uma paródia da música “Tudo está no seu lugar”, consagrada na voz de Benito de Paula:
“Tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus”, começou Marun. “Surramo (sic) mais uma vez essa oposição, que não consegue nenhuma ganhar”, improvisou o deputado, antes de aplaudir-se e sair de cena.
Ex-prefeita de São José dos Campos, Ângela não conseguiu reeleger-se deputada nas eleições seguintes. Em 2008, teve de contentar-se com uma cadeira na Câmara Municipal. Reeleita em 2012, não conseguiu o terceiro mandato no ano passado. Carlos Marun, ainda no primeiro mandato, é um forte candidato a seguir o mesmo destino de Ângela Guadagnin.
Como esta coluna já registrou, a urna pune. Pena que não puna sempre. Pena que não puna a todos. Mas pune. “Graças a Deus”, cantarão no próximo ano os brasileiros que lembrarem de Marun e sua Dança da Vassalagem.