A cuidadora da portadora de Alzheimer
“Todo dia, naquela mesma hora, um homem idoso esquecia obstáculos, problemas, ou momentos de alegria, e se dirigia ao Abrigo de Idosos, onde a esposa, acometida da doença de Alzheimer vivia seus últimos dias, esperando o chamado do Criador de tudo e de todos.
Ali, desempenhava com alegria e responsabilidade, o prazer do café matinal com a esposa. Cumprimentava-a com um semblante de Paz, limpava-lhe as mãos, a boca, os olhos. Beijava-a, respeitosamente. Tomavam café juntos, todos os dias. Pelo tempo que Deus permitiu à ela, a vida.
Certa vez, a Enfermeira, que sempre assistia aquela cena, entre intrigada e comovida, perguntou:
– Ela é o que para o senhor?
No que ele, sem mudar a fisionomia da satisfação e do zelo, respondeu:
– Minha querida esposa!
E a Enfermeira, incrédula, continuou:
– Ela está há anos nessa cama, sofrendo com o Alzheimer, não sabe o que faz, não reconhece ninguém. Ela sabe quem o senhor é?
Mantendo a calma, demonstrando satisfação por aqueles minutos convividos com a esposa, ele respondeu:
– Ela não sabe mais quem eu sou. Mas, eu continuo sabendo quem ela é!”
Pois, ontem, nesse País onde pessoas insistem em tratar animais como se humanos fossem, e esquecem pais e parentes em asilos e abrigos, estava eu assistindo o foguetório perdulário da passagem do ano, quando voltei meus pensamentos para aquele quarto escuro ou em penumbra, e vi alguém cuidando de uma idosa acometida de Alzheimer. Provavelmente os familiares estavam na bem decorada sala consumindo a ceia que vai sempre além das possibilidades de muita gente.
Trocando fraldas geriátricas molhadas de urina ou sujas de fezes; dando banho, secando, trocando roupa de cama, tentando alimentar – enquanto o champagne “corre solto” nos tim-tins da vida.
E é exatamente aquela(e) Cuidadora, distante da família, da ceia de casa com uma banda de galeto, arroz branco e farofa, que divide esses momentos – e há quem pense que essas pessoas estão apenas fazendo suas obrigações, pois são pagas para isso.
Não. Isso, dinheiro não paga.
* * *
Os privilégios curitibanos não acabaram ontem. Carceragens limpas, higienizadas e a manutenção do direito de assistir televisão na hora que desejar.
Infelizmente, a inscrição em inglês na roupa do “amigo” pode sugerir “montagem”.
Agora, o luxo e a limpeza da jaula dizem tudo.
Afinal, foi o próprio Lula que “investiu” na melhoria dos presídios, com o mesmo luxo do tríplex.