A CRIA DO PT
A. C. Dib
Bolsonaro é cria do PT!
Calma, leitor amigo! Sei que a afirmação bombástica, à primeira vista, pode parecer estapafúrdia, inverossímil, absurda.
Tal afirmação teria o condão de promover o inimaginável: unir petistas e bolsonaristas. Assim, ambos os grupos se aproximariam em um abraço fraterno para, irmanados, descerem a porrada neste humilíssimo escriba. Urge, com isso, a fim de proteger meu lombo de possíveis pancadas, cuidar de reestruturar o pensamento, de forma mais didática e palatável.
E aí está: o PT criou todas as condições que levaram Bolsonaro à presidência da República. Essa, portanto, é a tese que defendemos no presente artigo: Bolsonaro, curiosamente, deve sua eleição ao Partido dos Trabalhadores, o grande responsável por dita eleição.
Após quatorze anos de poder, profundamente impopular e desgastado pela escandalosa corrupção que quase quebrou a Petrobras, o PT caiu como jaca podre, espalhando fedor e sujeira para todos os lados.
Até então, Bolsonaro, em seus longos e obscuros anos na Câmara dos Deputados, não passava de mais um deputado do chamado “baixo clero”, sem peso ou influência alguma. Elegia-se como lobista dos interesses dos Servidores Públicos da caserna. Até aquele momento, não passava de um tipo bizarro e bisonho, saudosista da ditadura militar e defensor de torturadores, tipo inexpressivo e risível, sem credibilidade, mantido em seu cantinho a acumular poeira.
Fenômeno curioso se deu quando o PT começou a soçobrar: em condições inversamente proporcionais, enquanto o PT ruía, Bolsonaro ascendia, crescia, se impunha. O Capitão ― que controla as redes sociais com rara habilidade ― converteu-se no antipetista por excelência. Passou a personificar, melhor que ninguém, o antipetismo, a oposição dura e sistemática ao PT, ao comunismo e a todos os valores agregados a essas duas instituições. Na cabeça de muitos, ninguém melhor que um radical de extrema direita para fazer frente ao petismo/comunismo reinantes. Surge o lídimo antagonista do PT.
Uma das consequências mais nefastas e deletérias da roubalheira desenfreada promovida pelo PT e por seus apoiadores foi a de destruir, no coração de milhares de jovens, a crença e a fé no regime democrático. O PT desmoralizou a ― não muito hígida ― democracia brasileira. Vários grupos se formaram, nas redes sociais, defendendo golpe de estado e a materialização de nova ditadura militar. Esse grupo de descrentes da democracia terminou por desaguar seus votos no candidato que melhor identificava esse “ideal autoritário”: o nosso Jair. Melhor assim, já que a alternativa possível seria a de partirem pra luta armada, pela guerrilha ou pelo terrorismo de extrema direita. Felizmente, o processo eleitoral democrático canalizou a ira e a grande frustração desses eleitores, que se identificaram com “O Mito”.
Outro grupo expressivo que se formou na sociedade brasileira foi o de apoiadores da Operação Lavajato. Caía por terra a impunidade que sempre imperou em selvas tupiniquins. Políticos poderosos, empresários riquíssimos e servidores públicos de alto escalão purgavam seus crimes no xilindró. Sérgio Moro, o destemido Juiz da Lavajato, converteu-se em herói nacional.
Respeitosamente, não tenho lembranças de discursos ou manifestações de Bolsonaro contra a corrupção, enquanto estava na Câmara dos Deputados. Ao contrário, o então Deputado parecia guardar ótimas relações com seus colegas do famigerado Centrão. Se alguma vez bateu na corrupção, o fez por estar associada ao PT, seu arqui-inimigo. Golpe de mestre foi o de cooptar Moro para seu time. Juntou-se ali a fome com a vontade de comer. O ingênuo Magistrado acreditou que conseguiria fazer muita coisa no Ministério da Justiça. Não se deu conta de que teria que negociar seus projetos anticrime com o Centrão e com Rodrigo Maia. Isso sem falar na oposição acirrada do PT a toda e qualquer pretensão de seu antigo algoz.
De toda sorte, os apaixonados apoiadores da Lavajato viram em Bolsonaro a determinação de que o Executivo Federal encamparia a luta contra a corrupção travada por Moro e pelo Ministério Público. Mal sabiam que o Capitão recuaria de seu ardor anticorrupção com a eclosão de escândalos e investigações envolvendo seu 01.
Por fim, expressiva parcela do eleitorado brasileiro ― talvez parcela majoritária ― despejou votos em Bolsonaro, no segundo turno da eleição, frente à possibilidade de continuação do reinado petista. Temos, aqui, eleitores de centro, fartos do PT ― com sua política externa ideológica e seus mimos a caudilhos, ditadores e tiranos, operados com dinheiro público ― que não foram jamais partidários de Bolsonaro, mas viram nele o chamado “mal menor”. Se Bolsonaro, no segundo turno, tivesse enfrentado um candidato de centro ou da esquerda moderada, cremos que dificilmente teria conquistado a Presidência. Desgraçadamente, foi o PT pro segundo turno eleitoral, colocando em verdadeiro pânico o Brasil. Muitos dos eleitores de Bolsonaro, portanto, votaram premidos pelo pavor, sem qualquer opção.
A grande polarização que se viu formada na sociedade, pelas duas últimas eleições, foi, em grande medida, criada pelo próprio PT. Com suas camisetinhas e bandeiras vermelhas com estrelinha, estabeleceram o slogan do “nós e eles”. Lula passou a atacar seus opositores, apresentando-se como vítima da perseguição da “elite branca” e dos “coxinhas”. Com sua inigualável truculência e seu talento para polêmicas, Bolsonaro cuidou de amplificar esse patético acirramento de ânimos e a trágica divisão no seio de nossa sociedade. Seu proveito foi indiscutível.
Já se disse que o espectro ideológico não é uma linha horizontal, mas apresenta o formato de uma ferradura na qual as pontas extremas se aproximam. Comunismo e fascismo têm muito em comum, se identificam em inúmeros pontos. Não causa surpresa observar que muitos petistas ― em pleno Século XXI, pós queda do muro de Berlim e do comunismo ― ainda falam em “mais valia”, “luta de classes”, “dialética marxista” e “revolução”. Nas hostes bolsonaristas, bolsominions divulgam mensagens fascistas, com ataques à imprensa ― ou a jornais que não lambem as botinas do Chefe ―, ataques a instituições da República ― Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal ― e apologia de golpe de Estado. Curiosíssimo observar que tanto Lula como Bolsonaro ― e os respectivos seguidores de cada ― voltam a artilharia contra a Rede Globo de Televisão e, notadamente, contra a jornalista Miriam Leitão.
Vale observar que, em muitos aspectos, Bolsonaro e Lula se parecem: ambos são populistas, centralizadores e personalistas. Lula sempre inviabilizou o aparecimento e crescimento de lideranças que pudessem ofuscar, no PT, a sua própria. Bolsonaro converte em inimigo a qualquer aliado que falar em disputar a Presidência da República.
Triste, pois, o legado petista. Além de desacreditar, aos olhos de muitos, a nossa democracia, o Partido dos Trabalhadores lega ao Brasil esse presentinho ― de grego: Bolsonaro Presidente.