Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do DIB quarta, 25 de março de 2020

A CRIA DO PT

 

A CRIA DO PT

A. C. Dib

 

                   Bolsonaro é cria do PT!

 

                   Calma, leitor amigo! Sei que a afirmação bombástica, à primeira vista, pode parecer estapafúrdia, inverossímil, absurda.

 

                   Tal afirmação teria o condão de promover o inimaginável: unir petistas e bolsonaristas. Assim, ambos os grupos se aproximariam em um abraço fraterno para, irmanados, descerem a porrada neste humilíssimo escriba. Urge, com isso, a fim de proteger meu lombo de possíveis pancadas, cuidar de reestruturar o pensamento, de forma mais didática e palatável.

 

                   E aí está: o PT criou todas as condições que levaram Bolsonaro à presidência da República. Essa, portanto, é a tese que defendemos no presente artigo: Bolsonaro, curiosamente, deve sua eleição ao Partido dos Trabalhadores, o grande responsável por dita eleição.

 

                   Após quatorze anos de poder, profundamente impopular e desgastado pela escandalosa corrupção que quase quebrou a Petrobras, o PT caiu como jaca podre, espalhando fedor e sujeira para todos os lados.

 

                   Até então, Bolsonaro, em seus longos e obscuros anos na Câmara dos Deputados, não passava de mais um deputado do chamado “baixo clero”, sem peso ou influência alguma. Elegia-se como lobista dos interesses dos Servidores Públicos da caserna. Até aquele momento, não passava de um tipo bizarro e bisonho, saudosista da ditadura militar e defensor de torturadores, tipo inexpressivo e risível, sem credibilidade, mantido em seu cantinho a acumular poeira.

 

                   Fenômeno curioso se deu quando o PT começou a soçobrar: em condições inversamente proporcionais, enquanto o PT ruía, Bolsonaro ascendia, crescia, se impunha. O Capitão ― que controla as redes sociais com rara habilidade ― converteu-se no antipetista por excelência. Passou a personificar, melhor que ninguém, o antipetismo, a oposição dura e sistemática ao PT, ao comunismo e a todos os valores agregados a essas duas instituições. Na cabeça de muitos, ninguém melhor que um radical de extrema direita para fazer frente ao petismo/comunismo reinantes. Surge o lídimo antagonista do PT.

 

                   Uma das consequências mais nefastas e deletérias da roubalheira desenfreada promovida pelo PT e por seus apoiadores foi a de destruir, no coração de milhares de jovens, a crença e a fé no regime democrático. O PT desmoralizou a ― não muito hígida ― democracia brasileira. Vários grupos se formaram, nas redes sociais, defendendo golpe de estado e a materialização de nova ditadura militar. Esse grupo de descrentes da democracia terminou por desaguar seus votos no candidato que melhor identificava esse “ideal autoritário”: o nosso Jair. Melhor assim, já que a alternativa possível seria a de partirem pra luta armada, pela guerrilha ou pelo terrorismo de extrema direita. Felizmente, o processo eleitoral democrático canalizou a ira e a grande frustração desses eleitores, que se identificaram com “O Mito”.

 

                   Outro grupo expressivo que se formou na sociedade brasileira foi o de apoiadores da Operação Lavajato. Caía por terra a impunidade que sempre imperou em selvas tupiniquins. Políticos poderosos, empresários riquíssimos e servidores públicos de alto escalão purgavam seus crimes no xilindró. Sérgio Moro, o destemido Juiz da Lavajato, converteu-se em herói nacional.

 

                   Respeitosamente, não tenho lembranças de discursos ou manifestações de Bolsonaro contra a corrupção, enquanto estava na Câmara dos Deputados. Ao contrário, o então Deputado parecia guardar ótimas relações com seus colegas do famigerado Centrão. Se alguma vez bateu na corrupção, o fez por estar associada ao PT, seu arqui-inimigo. Golpe de mestre foi o de cooptar Moro para seu time. Juntou-se ali a fome com a vontade de comer. O ingênuo Magistrado acreditou que conseguiria fazer muita coisa no Ministério da Justiça. Não se deu conta de que teria que negociar seus projetos anticrime com o Centrão e com Rodrigo Maia. Isso sem falar na oposição acirrada do PT a toda e qualquer pretensão de seu antigo algoz.

 

                   De toda sorte, os apaixonados apoiadores da Lavajato viram em Bolsonaro a determinação de que o Executivo Federal encamparia a luta contra a corrupção travada por Moro e pelo Ministério Público. Mal sabiam que o Capitão recuaria de seu ardor anticorrupção com a eclosão de escândalos e investigações envolvendo seu 01.

 

                   Por fim, expressiva parcela do eleitorado brasileiro ― talvez parcela majoritária ― despejou votos em Bolsonaro, no segundo turno da eleição, frente à possibilidade de continuação do reinado petista. Temos, aqui, eleitores de centro, fartos do PT ― com sua política externa ideológica e seus mimos a caudilhos, ditadores e tiranos, operados com dinheiro público ― que não foram jamais partidários de Bolsonaro, mas viram nele o chamado “mal menor”. Se Bolsonaro, no segundo turno, tivesse enfrentado um candidato de centro ou da esquerda moderada, cremos que dificilmente teria conquistado a Presidência. Desgraçadamente, foi o PT pro segundo turno eleitoral, colocando em verdadeiro pânico o Brasil. Muitos dos eleitores de Bolsonaro, portanto, votaram premidos pelo pavor, sem qualquer opção.

 

                   A grande polarização que se viu formada na sociedade, pelas duas últimas eleições, foi, em grande medida, criada pelo próprio PT. Com suas camisetinhas e bandeiras vermelhas com estrelinha, estabeleceram o slogan do “nós e eles”. Lula passou a atacar seus opositores, apresentando-se como vítima da perseguição da “elite branca” e dos “coxinhas”. Com sua inigualável truculência e seu talento para polêmicas, Bolsonaro cuidou de amplificar esse patético acirramento de ânimos e a trágica divisão no seio de nossa sociedade. Seu proveito foi indiscutível.

 

                   Já se disse que o espectro ideológico não é uma linha horizontal, mas apresenta o formato de uma ferradura na qual as pontas extremas se aproximam. Comunismo e fascismo têm muito em comum, se identificam em inúmeros pontos. Não causa surpresa observar que muitos petistas ― em pleno Século XXI, pós queda do muro de Berlim e do comunismo ― ainda falam em “mais valia”, “luta de classes”, “dialética marxista” e “revolução”. Nas hostes bolsonaristas, bolsominions divulgam mensagens fascistas, com ataques à imprensa ― ou a jornais que não lambem as botinas do Chefe ―, ataques a instituições da República ― Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal ― e apologia de golpe de Estado. Curiosíssimo observar que tanto Lula como Bolsonaro ― e os respectivos seguidores de cada ― voltam a artilharia contra a Rede Globo de Televisão e, notadamente, contra a jornalista Miriam Leitão.

 

                   Vale observar que, em muitos aspectos, Bolsonaro e Lula se parecem: ambos são populistas, centralizadores e personalistas. Lula sempre inviabilizou o aparecimento e crescimento de lideranças que pudessem ofuscar, no PT, a sua própria. Bolsonaro converte em inimigo a qualquer aliado que falar em disputar a Presidência da República.

 

                   Triste, pois, o legado petista. Além de desacreditar, aos olhos de muitos, a nossa democracia, o Partido dos Trabalhadores lega ao Brasil esse presentinho ― de grego: Bolsonaro Presidente.


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