No Brasil, é considerado que o pai do futebol foi Charles Miller, filho de um empregado de uma empresa ferroviária. Nascido no Brasil, Miller foi à Inglaterra para estudar na Banister Court School. Lá, tornou-se um admirador do futebol e quando retornou, em 1894, trouxe com ele duas bolas na mala.
Apesar de ter se firmado como o esporte preferido dos brasileiros já na década de 1920, o futebol não foi visto com bons olhos, durante sua popularização pelo país. As mais fortes críticas vieram de setores da elite intelectual.
O escritor Graciliano Ramos escreveu, em sua crônica “Traças a Esmo”, que o futebol era a prova da superioridade européia sobre o brasileiro, afirmando que sua popularidade seria passageira, em consequência do fraco biotipo dos brasileiros. E Graciliano Ramos terminava a crônica, com perversa ironia:
“Os verdadeiros esportes regionais estão aí abandonados: o porrete, o cachação, a queda de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o calto, a cavalhada, e o melhor de tudo, o cambapé, a rasteira. A rasteira! Esse sim é o esporte nacional por excelência!”
As críticas mais sarcásticas, entretanto, partiram do escritor Lima Barreto (13.5.1881 – Rio de Janeiro- RJ – 1.11.1922 – Rio de janeiro – RJ).
Ele via no futebol um fator de conflito, e considerava os clubes, agremiações comandadas por descendentes dos senhores de escravos. Em seu artigo “Como Resposta, Careta”, na publicação “Marginália”, o escritor afirma ser o futebol “primado da ignorância e da imbecilidade“. Por essas opiniões, Lima Barreto chegou a criar a “Liga Contra o Foot-ball“, na qual tentava a proibição do esporte no País, usando como justificativas supostos malefícios da sua prática, como brigas e mortes.
A popularização do esporte iniciou a briga entre o amadorismo, a realidade da época, e o profissionalismo. Os primeiros indícios de jogadores assalariados vêm do futebol operário. Inicialmente, usado como lazer e fonte de disciplinarização para seus funcionários, os donos de fábricas logo perceberam que o sucesso das equipes que levavam o nome da fábrica era um ótimo meio de divulgação dos seus produtos. Os trabalhadores que se destacavam com a bola nos pés começaram, então, a gozar de vários benefícios, como prêmios por vitória (o ‘bicho’), dispensa para treinos, e trabalhos mais leves. Ocorria assim, pela primeira vez, a valorização do ‘capital esportivo’. Surgia, então, o que foi chamado de ‘operário-jogador’. Sobre isso, o escritor Mário Filho, abordando o caso específico do Bangu, fala no livro O Negro no Futebol Brasileiro:
“Operário que jogasse bem futebol, que garantisse um lugar no primeiro time, ia logo para a sala do pano. Trabalho mais leve. Os garotos que jogavam no largo da igreja sabiam que, quando crescessem, se fossem bons jogadores de futebol, teriam lugares garantidos na fábrica. Depois de trabalhar muito, e principalmente, de jogar muito, o operário-jogador ganhava o prêmio da sala do pano. E podia ser ainda melhor se continuasse a merecer a confiança da fábrica, do Bangu. Havia o escritório, o trabalho mais suave do que na sala do pano. E o ordenado era maior.”
O aparecimento do ‘operário-jogador’ proporcionou aos operários a possibilidade do esporte ser uma segunda fonte de renda, além de uma relativa mobilidade social dentro da fábrica. A prática começou, então, a ser vista como possibilidade de ascensão social. Exemplo claro desse processo, o jogador Domingos da Guia, que fez muito sucesso na década de 30, relatou numa entrevista, que seu início no futebol começou muito mais por necessidade, do que por vontade própria. Seu interesse na atividade se dava pelos lucrativos ‘bichos’, que recebia após cada vitória.
Depois de uma escalada de lutas contra os preconceitos sociais, o futebol é hoje o esporte mais amado pelos brasileiros e um dos mais populares do mundo.
Décadas atrás, Otávio e Sérgio, jogadores de futebol de um conhecido time de São Paulo, não foram presos dentro de um ônibus, por um triz. Tudo por causa de uma animada conversa que os dois travaram, acerca da contratação de um novo jogador, pelo Corinthians.
No mesmo transporte, iam duas senhoras “de idade”, uma cochilando e a outra lendo a Bíblia Sagrada. Com a conversa dos rapazes, sentados no banco vizinho, a mulher que cochilava despertou. As duas, então, ficaram atentas ao que eles falavam.
Este era o diálogo dos dois jogadores de futebol:
– Otávio, você gostou da contratação de Bento?
E Otávio respondeu a Sérgio:
– Achei excelente! Ele brinca muito bem com “a menina”. Sabe meter com perfeição, por dentro e também por fora.
Sérgio, então, perguntou:
– Você acredita que Bento irá aguentar o serviço, durante 90 minutos?
Otávio respondeu:
– Claro! E ainda tem mais: Garanto que, durante esse tempo, ele vai meter cinco ou seis “meninas” no “corredor”…Vai ser um furacão!
Aí o bicho pegou… As duas senhoras, indignadas, “armaram um barraco”. Exigiram que o motorista expulsasse do ônibus aqueles dois tarados, que estavam lhes faltando com o respeito e conversando imoralidade. Exigiram, ainda, que o motorista levasse os tarados até uma delegacia de polícia, para que fossem presos em flagrante.
O escândalo que as duas mulheres fizeram foi enorme, e maior ainda foi o rebuliço dentro do ônibus, com os outros passageiros querendo ver a cara dos tarados.
O que salvou a “pátria” foi o fato do motorista ser louco por futebol, torcedor do Corinthians e conhecer os dois jogadores. Caso contrário, teria sido difícil explicar às pudicas senhoras, que “menina” era a bola e “corredor”, era uma parte do campo, nas proximidades das balizas.