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Ana Letícia Santos, 4 anos, lutou o ano inteiro contra a leucemia: a menina sorri por ter vencido a doença e poder voltar à escola em 2019
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Eleições, Copa do Mundo, greve dos caminhoneiros. Tragédias e alegrias permearam o ano de 2018 e mexeram com as emoções dos brasileiros. Para alguns, este foi um ano de renascimento.
Ana Letícia Santos, por exemplo, se mostrou uma guerreira aos 4 anos, enfrentando um câncer. Em janeiro, a mãe dela, Tuany Santos, 28 anos, então recém-contratada como atendente em um estabelecimento no aeroporto, precisou correr para o hospital quando a menina começou a apresentar os primeiros sintomas do que mais tarde seria diagnosticado como uma leucemia. “No dia 12 de janeiro, ela teve febre, vomitou e manchinhas vermelhas apareceram no corpo. A princípio, a suspeita era de dengue, mas depois veio o resultado com alterações no hemograma e a certeza do que realmente era”, lembra Tuany.
Divorciada e mãe também de uma garota de 9 anos, ela se viu sozinha com as crianças na casa em que mora no Setor Oeste da Cidade Estrutural. Como tinha de levar Ana Letícia ao hospital para tratamento quase diariamente, precisou largar o emprego e se dedicar exclusivamente à menina. “A gente a via tão bem e isso acontece de uma hora para a outra. A família ficou chocada, mas ela (Ana Letícia) sempre encarou muito bem. Tem uma luz que eu nunca vi na minha vida”, emociona-se Tuany.
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Luiz Fernando passou mal na aula de jiu-jitsu: médicos diagnosticaram um AVC
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Com três meses de tratamento e enfrentando a quimioterapia, os cabelos da garotinha começaram a cair. Quando chegava em casa, sentindo-se mal depois das sessões, dizia à mãe que ia se deitar, mas acordaria boa. Era o jeito dela de dizer que estava tudo bem. Em outubro, entrou no estágio de manutenção, o que quer dizer que ela não tem mais células de leucemia no sangue. As visitas diárias ao hospital passaram a ser mensais, mas o que mais alegrou foi a notícia de que em 2019 poderia voltar para a escola. “Ela estava no jardim 2, e o que mais a deixou triste foi deixar os coleguinhas. Quando soube que poderia retornar, saiu contando para todo mundo”, conta Tuany, que agora poderá voltar a trabalhar.
Para a família, fica o sentimento de batalha vencida. “A Ana renasceu e eu, também. Amadureci muito. Aprendi que a gente reclama muito quando não precisa e não agradece pelo que tem. Ver a força tremenda dessa menina tão pequenininha que enfrentou tudo isso e ainda está sorrindo nos faz rever muitos conceitos”, acredita Tuany.
O Natal mais especial
Em 29 de novembro o administrador Luiz Fernando Mota, 34 anos, viu de perto a morte. Naquela quinta-feira, ele seguia a rotina normal. Após trabalhar o dia inteiro, foi para a aula de jiu-jitsu, esporte que começou a praticar há um ano. Depois do aquecimento, enquanto praticava técnicas de estrangulamento, começou a passar mal. Perdeu a fala, sentiu formigamento no lado direito do corpo e a boca ficou torta. Era o começo de um acidente vascular cerebral (AVC). Os funcionários da academia chamaram a esposa dele, a servidora pública Érica Cortes, 28, formada em educação física, que foi quem identificou os sinais e percebeu que seria algo mais grave.
Luiz passou três dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular da Asa Sul e mais cinco, no quarto, até ter alta. Ele ficou dias sem andar, nem falar e usando uma sonda para urinar, mas aos poucos foi recuperando os movimentos. Uma semana depois, estava de volta ao trabalho, mas agora ele espera ir com mais calma.
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Thaís Amorim teve o intestino perfurado em uma cirurgia: 50 dias hospitalizada
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O administrador conta que os médicos ainda não sabem o que causou o AVC. “Pode ter tido a ver com o golpe que estava treinando, pode ter sido algo súbito, não se sabe. Ainda farei mais exames nas próximas semanas para tentar descobrir”, comenta Luiz. Durante toda a vida, ele praticou os mais diversos esportes e nunca teve problemas de colesterol ou pressão, o que aumenta o mistério das causas.
Mas de todo modo, o administrador está mais do que contente com a recuperação. “A minha sensação é de que Deus está me dando uma nova oportunidade para valorizar as coisas simples, como andar ou tomar banho sozinho. A gente começa a ver o que é mais importante na vida”, pondera. “Ficamos presos nas rotinas de trabalho e enchemos a vida de atividades. Queremos abraçar o mundo com as pernas, mas o corpo não aguenta e às vezes algo assim acontece para nos fazer refletir”, diz Luiz. Para ele, a meta em 2019 é viver os 365 dias da melhor forma possível e motivar outras pessoas a vencerem e prevenirem o AVC. “Este com certeza vai ser o Natal mais especial de todos.”
Ano da recuperação
O Natal de 2018 também vai ter gosto de vida nova para a publicitária Thaís Amorim, 26 anos. Em 4 de julho, ela foi internada para uma cirurgia de endometriose. Contudo, o que seria a correção de um problema virou algo muito pior quando a médica acabou perfurando o intestino de Thaís sem perceber. O corte infeccionou e ela ficou na UTI por sete dias até que os médicos percebessem o erro. Ela passou por mais duas cirurgias; em uma delas, cerca de dois litros de infecção foram retirados do abdômen.
Foram 50 dias hospitalizada e, por três vezes, a família foi chamada para se despedir. Ao fim, parte do intestino dela precisou ser retirado e uma bolsa de ileostomia (semelhante à usada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro) foi colocada. Emocionada, a mãe, Sônia Amorim, 49, lembra a angústia de todo o processo. “Ninguém imagina o que é ver a filha entre a vida e a morte. Quando ela estava em coma, peguei na mão dela e disse ‘você vai sair dessa’, e ela deixou uma lágrima escapar. Quando acordou, ela se lembrava daquele momento.”
Professora de educação física, Sônia deixou de trabalhar para ficar com Thaís. “Eu e o esposo dela fomos praticamente internados juntos”, conta a mãe da paciente. A família agora prepara um Natal especial, e chamou os parentes que moram em outros estados para comemorar. “No dia 17 de dezembro, foi o aniversário dela, e eu ganhei o melhor presente, que é tê-la comigo aqui”, ressalta Sônia.
Em fevereiro, Thaís passará por cirurgia de reconstrução do intestino e deixará de usar a bolsa de ileostomia. Mas ela já está levando uma vida normal. Voltou a trabalhar e usa as redes sociais para aconselhar quem passa por situações semelhantes. “Recebi uma nova chance e, no próximo ano, vou honrar isso. É o ano da recuperação, vou cuidar da saúde e com certeza pretendo ajudar quem está passando pela mesma condição para fazer valer a pena cada experiência que eu passei”, afirma a publicitária.
Segundo Thaís, apesar de 2018 ter sido um ano traumático, ela sente gratidão por tudo que aconteceu. “É um baque que coloca a gente no lugar. Minhas metas foram reprojetadas. Eu quero viver os momentos, por mais que simples, com a cabeça no presente, o coração naquilo e estar mais com as pessoas de que eu gosto”.