Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Cícero Tavares - Crônicas e Comentários segunda, 13 de novembro de 2017

A CELPE ERA UMA PUTA QUE A GENTE COMIA, MAS NÃO DAVA VALOR

Em 2006, com o Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe) ainda funcionando dentro da Celpe, privatizada em 2000 no governo Jarbas Vasconcelos, sendo arrematada por um consórcio composto pela Iberdrola da Espanha, Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil e Banco do Brasil Investimento, mantendo, portanto, a maioria da participação nacional. Em 2004 o consórcio controlador passou a se chamar Grupo Neoenergia. Na sede principal da Rua João de Barros, Boa Vista, eu fui até lá fazer um depósito em nome de um funcionário do então Grupo Neoenergia.

Lá chegando, encontrei uns vinte funcionários e ex funcionários da extinta Celpe na fila do caixa do banco aguardando serem atendidos. Dava para perceber que a maioria dos que estavam ali era de ex funcionários aposentados da extinta Celpe. Conversa vai conversar vem, João se dirigi a um tal de Manuel, e pergunta:

– Manuel, como estão aquelas reuniões que a gente fazia no pátio depois do almoço, aquelas mesas de dominós, de baralhos, porrinhas, palitos de fósforos?…

Desolado, Manuel, que ainda trabalhava na empresa, responde:

– Ah! Meu filho, as coisas mudaram! Aquelas mamatas acabaram! Hoje a Celpe tem dono! E a gente que reclamava tanto na época de Pai Arraes, chamando-o de corno velho, filho da puta, comunista; e Jarbas Vasconcelos, de veado, filho de rapariga, traidor, entreguista, querendo todo lucro da empresa para a gente!… A gente era feliz e não sabia! A gente era dono da Celpe e não tinha consciência disso!

E Joaquim e outros ex funcionários de outros setores da extinta Celpe que estavam também na fila, curiosos com a conversa entre o funcionário da ativa e o aposentado, entraram no convence e perguntaram:

– E aquelas liberdades que agente tinha de entrar na cozinha, tomar um cafezinho, comer uma bolachinha cream cracker, ir à sala da contabilidade, à sala do gerente para saber de tudo que estava por vir em beneficio da gente por meio do nosso sindicato, ainda existe?

Mais desolado ainda, Manoel e outros responderam:

– Um caralho!!, Aquelas mamatas acabaram! Hoje a palavra lá dentro é: TRABALHO, ORDEM E PROGRESSO! Não trabalhou, rua! Rua!!! Acabou-se o que era doce! A Celpe era uma puta que a gente comia, pagava a gente e a gente não dava valor!

Foi nesse momento que um ex funcionário, que estava na fila, sem se importar com o mau caratismo explícito, falou para todos que estavam presentes ouvir:

– Vocês lembram quando mandavam a gente ir para as noites naquelas Toyotas Bandeirantes fazermos serviços noturnos em redes elétricas em bairros inteiros? Pois é, amigos, a gente já puto da vida, cheio da manguaça, quebrava o freio do carro, furava os pneus, quebrava a caixa de marcha, desligava o rádio amador, parava o carro e ficava tomando caéba e raparigando até o cu do amanhecer! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

Eita tempo bom da porra!!

Foi quando um funcionário neófito que havia entrado já com a Celpe privatizada, se intrometeu na conversa e indagou inocentemente para todos que estavam na fila que eram do quadro de funcionários antigos, e perguntou:

– Mas, realmente isso acontecia mesmo?! E ninguém tomava providência?! E o administrador geral onde estava que não via essas ações irresponsáveis e criminosas?!

Foi quando o aposentado que estava na fila, gaiato e malandro, se atravessou, e rindo com a cara mais deslavada do mundo do funcionário novato, respondeu:

– Meu jovem, quem mandava nessa porra era a política! E onde a política entra a moral, a ética, a honestidade e a responsabilidade procuram uma fresta na porta, botam o rabo entre as pernas, e se recolhem a suas insignificâncias, envergonhadas sem poder fazer porra nenhuma, entendeu!?

Aprenda uma lição, continuou o ex-funcionário aposentado da extinta Celpe: toda empresa pública é feito cachimbo de cachorra no cio, todo cachorro quer empurrar a vara e gozar dentro, mas nenhum quer se responsabilizar pelos cachorros que nascem!

Se a Celpe não tivesse sido privatizada, Pernambuco, hoje, estaria sendo iluminado por lamparinas da época do Império – conclui ele.

 

 


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