Matilde, 23 anos, vitalidade de 16 e juízo de um pinto com um dia de nascido, era alta, bonita, exuberante, seios e quadris avantajados. Depois de passar dois anos no Rio de Janeiro, voltou para Natal muito traquejada. Leviana e coquete, todo namorado que arranjava, só queria mesmo se aproveitar dos seus dotes físicos.
Estava no auge, a marchinha de carnaval que dizia:
“Ei, como é que é? É pra casar, ou pra que é?”
Matilde só arranjava namorados do tipo “pra que é”.
Conheceu Joanildo, contador, 23 anos, noivo da sua amiga Soninha. Na mesma hora, lançou sobre o rapaz um olhar “pidão”, e a atração foi mútua. Surgiu entre os dois uma paixão violenta. Nas “entrelinhas” do dia, Joanildo investiu em telefonemas e galanteios, marcando encontros para “bater papo” com a amiga de sua noiva. Como grande caçador que era, sua intenção era apenas levar a rês ao “matadouro”. Afinal, era noivo de Soninha e a data do casamento estava próxima.
Entretanto, conseguido o seu intento, Joanildo sentiu-se perdidamente apaixonado por Matilde, sendo por ela correspondido. Sem que a noiva suspeitasse, passaram a se encontrar diariamente, e os encontros eram cada vez mais quentes. A paixão entre os dois tornou-se avassaladora e já não dava para controlar.
Joanildo e Soninha estavam noivos há mais de um ano e já de casamento marcado. A casa onde iriam residir já estava mobiliada. Diariamente, Soninha ia até lá, levando coisas do enxoval para guardar. Às vezes, a amiga Matilde a acompanhava e a ajudava a guardar peças do enxoval, na cômoda e no guarda-roupa. Sem escrúpulos, Matilde dava risadas, vendo a pureza de Soninha, preocupada com a noite de núpcias, que estava próxima.
O noivo passou a viver um dilema. Chegara à conclusão de que o amor de sua vida era Matilde. Entretanto, não tinha coragem de acabar o noivado com Soninha. Estava envolvido com os sogros, que lhe confiaram a mão de sua filha. A festa já estava organizada, convites distribuídos e a casa onde iriam morar estava pronta para recebê-los.
Na hora em que Joanildo trocava juras de amor com Matilde, confessava que não sabia o que fazer para acabar o noivado com Soninha. Seria uma grande desfeita, dar um fora na noiva, quase na porta da Igreja e sem motivo aparente.
Todos da família de Soninha acreditavam que ela e Joanildo eram perdidamente apaixonados. A virgem cheia de candura, inocente como um anjo, não imaginava a falsidade da “amiga”.
Soninha tinha o firme propósito de se conservar virgem, até a noite de núpcias. Essa lição de castidade temporária, havia recebido da avó paterna, Dona Luíza, que procurava lhe transmitir preceitos do “tempo do ronca.” Segundo ela, a virgindade, era um atributo moral que deveria ser levado até o leito conjugal. Soninha não admitia qualquer investida do noivo, antes do casamento.
À medida que a data do enlace de Joanildo e Soninha se aproximava, aumentava o envolvimento do noivo com Matilde. Ele entrou em “parafuso”. A paixão desenfreada e uma atração física, que nunca sentira por Soninha, deram-lhe coragem de tomar uma decisão brusca e inesperada. Os dois se sentiam como se fossem “a casa e o botão”. Não podiam mais recuar.
Na véspera do casamento com Soninha, Joanildo e Matilde fugiram. Foram viver seu grande amor bem longe de Natal.
Foi um escândalo.