No meio do caminho de minha casa até a Vila União, chão de terra batida que percorria a cada domingo, pela manhã, havia a pequena capelinha de Santa Luzia, sempre de portas fechadas, mesmo domingo sendo. Nunca entendi porque fechadas, sempre, mas assim era. A parada era obrigatória na minha rotina dominical para rezar uma Ave-Maria em intenção àquela Santa, protetora da visão, agradecendo a dádiva do ver, o dom do enxergar, a graça do olhar. Ficava a imaginar o quão triste devia ser não vislumbrar o degrau entre o chão e a calçada da capela ou a espessura daquela porta sempre cerrada ou, ainda, a desventura do não poder se deleitar com o futebol daqueles meninos magros, pés descalços, camisas rotas, a correr atrás de uma bola gasta no campinho de areia fofa que ficava bem atrás da capelinha. Em minha inocente prece pedia que Santa Luzia olhasse por aqueles meninos franzinos e por todos nós, privilegiados, olhos atentos ao belo, corações sensíveis à fé.
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