– Me dá vontade de trair o Zacarias. Aconteceu de repente esse desprezo pelo meu marido. Vontade de sair com um cara, transar muito, sou a mulher mais carente e idiota do mundo.
Desabafou Augusta à amiga Elizabeth.
– Entendo sua inquietação. Esse negócio de trair é complicado, a maioria das vezes vem arrependimento, piora as coisas. Mas, faça o que seu coração mandar. Tenha calma, reflita para depois não se arrepender. Aconselhou a amiga.
– Você condena essa vontade de eu trair o banana do Zacarias?
– Quem sou eu para julgar? Para condenar alguém. Como amiga posso dar uma opinião, apenas isso. É uma situação passageira, aconselho a pensar, tome um ônibus, passe um bom tempo contemplando o mar, faz bem a cabeça e ao coração
– Eu me enjoiei de Zacarias. Cara fraco, perdedor, desde que foi despedido do emprego há mais de sete meses, vive dentro de casa, esperando um emprego cair do céu, assistindo televisão, tomando cerveja. Ainda bem que temos essa casa aqui no bairro de Antares. Meus pais me deram. Todo dia é uma desculpa ou uma mentira de promessa de emprego, culpando o governo. Eu sustento a casa, comida, água, luz, telefone, a cerveja, o colégio do Carlinhos, tudo com meu trabalho de barbeira na Barbearia de Seu Onório. Zacarias nem aí, só sai para o botequim, chega na hora do jantar, o português da bodega já não vende fiado. É uma tristeza. Minha única reação é não transar quando ele se achega querendo coisas. Uma noite me pegou a pulso, não sei mais o que fazer. Que ele merece um chifre, merece. Tenho um cliente, coroa alinhado, elegante, faz o cabelo toda semana, me olha demais, conversamos muito, eu deixo meu decote bem aberto ele fica contemplando, mas é um homem sério. Da última vez que no salão, ele estava lendo numa revista a reportagem sobre o filme “50 Tons de Cinzas”, disse que viu o filme, gostou das cenas. Eu sorri para ele perguntando se gostava da fruta. O coroa deu uma gargalhada, me respondeu, ainda gosto e é bom. Apesar de ele ter mais ou menos sessenta anos, tenho certeza, se eu quiser, sai comigo.
– Augusta veja o que vai fazer. A melhor solução para briga ou desentendimento é o diálogo. Faça uma força, fale francamente, com o Zacarias, diga tudo que pensa, que ele arranje um emprego, nem que seja de varredor, não é desonra alguma.
Augusta tirou o fim-de-semana para refletir. Sábado ao entardecer foi contemplar o mar azul-esverdeado da praia de Jatiúca. Pensou bastante nas palavras da amiga Elizabeth. Consultou seu coração e sua mente, pensou no Zacarias, no Carlinhos e no sessentão cheiroso.
– Que ares de felicidades são esses? Perguntou, dias depois, Elizabeth encontrando Augusta. Resolveu seus problemas? Gostei dessa transformação jovial, acabou-se a tristeza, voltou sua alegria.
– Minha amiga, tudo começou com o contemplar do belo verde mar, me senti bem, pensei no que meu coração queria. A primeira decisão foi ter uma conversa aberta com o Zacarias, disse que estava a fim de me separar, fui franca, critiquei as grossuras dele comigo, a preguiça de arranjar trabalho. Finalmente acertamos, outra chance no casamento, eu ajudaria a procurar-lhe emprego. As coisas se arrumaram, estamos vivendo melhor, ele agora tem um emprego arranjado por mim, ajuda no sustento da casa, sua autoestima melhorou.
– Ainda bem que você apagou a ideia, a vontade de trair com o coroa elegante. Disse Elizabeth sorrindo.
– É o que você pensa, o coroa elegante chama-se Humberto, com ele arranjei um trabalho de almoxarife para o Zacarias. O Doutor é engenheiro, tem uma construtora. Homem generoso e discreto. Aqui para nós, satisfiz minha vontade. O coroa é ótimo, suas invencionices na cama me deixam nas nuvens.