O Brasil celebra em 25 de julho os 200 anos da imigração alemã para o país. Brasília é bem mais jovem. Ainda assim, é possível ver as marcas dessa cultura e daqueles que vieram de longe, mas adotaram o planalto central como um novo lar e, em meio ao Cerrado, construíram um legado.
A embaixadora da Alemanha no Brasil, Bettina Cadenbach, celebra o aniversário da imigração e chama atenção para os laços familiares e de amizade entre os dois países. "Programas de geminação de cidades completam esse cenário. A Alemanha e o Brasil são parceiros estratégicos. Esse é o estreito vínculo político do outro lado do Atlântico. O Brasil é o parceiro comercial mais importante da Alemanha na América do Sul. A Alemanha é o parceiro econômico mais importante do Brasil na União Europeia", ressalta.
De acordo com Bettina, estima-se que existam mais de mil empresas teuto-brasileiras operando no Brasil. "Trabalhamos juntos nas áreas de energia, meio ambiente, clima, ciência, comércio e defesa, bem como em direitos humanos e na proteção de florestas tropicais. Temos um intenso intercâmbio cultural. É uma grande variedade de temas. A comunidade de língua alemã no Brasil ainda está concentrada no Sul — no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. E há também uma pequena comunidade alemã aqui no DF", elenca.
O Goethe-Zentrum, na Asa Sul, ponto de ancoragem para a cultura e a língua alemãs no coração de Brasília, é destacado pela embaixadora. O espaço abriga biblioteca com amplo acervo, tem programação de filmes e outros eventos, e cursos de idiomas. "É um instituto cultural responsável pela divulgação da língua e da cultura alemã em Brasília. Fazemos isso com os cursos de idiomas, atividades culturais em serviço de informações sobre Alemanha, sempre em parceria com a Embaixada da Alemanha", detalha Sabine Plattner, gerente executiva do Goethe-Zentrum, que nasceu em Berlim e mora há 31 anos em Brasília.
Raízes
Descendente de alemães, a socióloga Anna Flavia Hartmann relembra como a história da família cruzou com a do Brasil. "Eram pequenos agricultores que imigraram em 1846 da região de Hunsrück para o Rio Grande do Sul. Nessa época, a Alemanha não existia enquanto estado-nação. Era um conjunto de 'feudos', e diversas regiões da Europa viviam um momento de excedente populacional e turbulência social. Por isso, esse movimento imigratório para o Brasil", explica.
"A minha família, Hartmann, morou no Rio Grande do Sul e, até a geração do meu pai, nascido em 1957, todos aprenderam alguma variação do hochdeutsch (língua alemã). O meu pai se formou e foi fazer residência em Belo Horizonte (MG), onde se casou com a minha mãe, que é mineira. Depois, mudaram-se para o Distrito Federal, em 2003, porque ambos ingressaram no serviço público", relata.
O morador da Asa Norte Hartmut Gunther, 78 anos, cresceu na cidade de Erfurt, na Alemanha. Em 1975, decidiu conhecer o Brasil, começando pela capital gaúcha, Porto Alegre. O plano era ficar no Rio Grande do Sul por dois anos. À época, teve a oportunidade de visitar João Pessoa, na Paraíba. Foi quando conheceu sua esposa, com a qual teve uma filha. Em 1988, o casal mudou-se para a capital federal, onde Hartmut foi lecionar no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).
"Quando cheguei ao Brasil, não falava português. Em Porto Alegre, senti a presença da cultura alemã e era fácil encontrar alguém que falasse a mesma língua. Quando cheguei a Brasília, havia poucos rastros da cultura aqui e era difícil encontrar alguém que soubesse alemão", recorda. "Eu tenho o esforço consciente de manter a cultura alemã e um exemplo desse empenho foi ensinar alemão para minha filha", conta o professor, que está aposentado.