BRASÍLIA — Os apoiadores de Jair Bolsonaro que quiseram assistir às distintas cerimônias da posse do novo presidente da República viveram um verdadeiro dia de cão em razão do forte e restritivo esquema de segurança implantado na Esplanada dos Ministérios. A decisão dos ministros de Bolsonaro que cuidaram da posse foi cortar a presença de ambulantes; o porte de água pelas pessoas; a livre circulação pelos amplos espaços da Esplanada. O resultado foi uma disputa por água nos abarrotados pontos de distribuição, a impossibilidade de uso dos pouquíssimos banheiros químicos e uma retenção das pessoas nos quatro pontos de revista obrigatória por agentes de segurança. Além disso, uma multidão ficou presa em cercadinhos, impossibilitada, por exemplo, de voltar para casa, em razão dos sucessivos bloqueios para a passagem de comitivas.
Tudo ficou bloqueado a partir da Rodoviária, que fica no começo da Esplanada dos Ministérios, o que obrigava um périplo por diferentes pontos de bloqueio e revista. Os atos em si da posse estiveram compreendidos num intervalo de tempo de duas horas e meia. Assim, foram necessárias quase três horas a mais para que as pessoas estivessem nos pontos por onde Bolsonaro passou.
Pouco antes da linha da Catedral, no canteiro central da Esplanada dos Ministérios, havia a primeira revista. Ali, as pessoas eram obrigadas a deixar garrafas de água, sacolas que não fossem transparentes e outros objetos vetados pelo esquema de segurança, como guarda-chuvas, bolsas, mochilas e garrafas de vidro. Em segundos, policiais militares apalpavam os bolsos dos apoiadores de Bolsonaro e liberavam a passagem. Estavam permitidas apenas sacolas transparentes, com o porte de lanches, por exemplo.
Na altura da Catedral, os apoiadores de Bolsonaro que compareceram à posse – 115 mil pessoas, segundo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República – enfrentaram a primeira fila gigantesca. Bandeiras e faixas foram usadas para proteção do sol escaldante. Vinte e duas filas foram formadas por 11 aberturas em toldos dispostos no canteiro central. A reportagem precisou ficar 44 minutos na fila para passar por um detector de metais móvel. A agente de segurança fez uma revista pela frente e por trás. Questionou o que era o carregador do aparelho de celular e liberou a passagem.
— Vamos perder a posse aqui nesse sol quente – protestaram alguns apoiadores de Bolsonaro, em meio aos tradicionais gritos de "Eu vim de graça" e "A nossa bandeira jamais será vermelha".
— Não tem PT aqui não. Deixa todo mundo entrar — gritaram outros.
Um cartaz neste ponto de revista trazia um lembrete mais incisivo do que as mensagens distribuídas anteriormente à população. Estavam proibidas armas de fogo, "dispositivos neutralizantes", "objetos pontiagudos" e "ferramentas de trabalho". Um outro cartaz fazia um alerta sobre objetos "esquecidos" que poderiam ser, na verdade, artifícios terroristas.
A essa altura, já havia uma fila enorme para uso dos banheiros químicos e por um copo de água. Sem vendedores ambulantes e sem poder portar uma garrafa de água, a dependência era exclusiva dos pontos de distribuição de água pela empresa de saneamento do Distrito Federal. Saciar a sede foi uma dificuldade para milhares de apoiadores do presidente. O mesmo ocorreu com as necessidades fisiológicas básicas.
Já quase na frente do Congresso, os eleitores de Bolsonaro poderiam optar por dois pontos de revista. Um dava acesso ao gramado em frente ao Legislativo. O outro, à lateral do Parlamento e ao caminho em direção à Praça dos Três Poderes. Mais uma vez, as pessoas se viram em meio a uma confusão e a uma profusão de filas, sob um sol escaldante. O primeiro ponto contava com apenas duas passagens por detectores de metais. As filas se prolongaram a perder de vista. O segundo ponto foi repentinamente fechado, o que gerou protestos e gritos de "libera, libera, libera".
O bloqueio só foi reaberto 55 minutos depois. Neste intervalo, Bolsonaro fez o primeiro desfile em carro aberto, ovacionado aos gritos de "mito" dos apoiadores que, por aquele momento, esqueceram que estavam numa fila. Os agentes de segurança decidiram abrir as grades de quem se dirigia à lateral do Congresso. A revista seguiu apenas para quem se dirigia ao gramado em frente ao Parlamento.
— Se eu soubesse que ia ser essa loucura, eu não tinha vindo — disse uma apoiadora do presidente, enquanto se dirigia à Praça dos Três Poderes.
O período que Bolsonaro ficou dentro do Congresso — uma hora e meia — foi o mais entediante para os apoiadores que estavam do lado de fora. Não havia um telão, ouvia-se apenas a ressonância do que era retransmitido num telão na Praça dos Três Poderes, a alguns metros dali. O desânimo e o cansaço já eram notórios.
Depois de uma rápida revista de tropas em frente ao Congresso, Bolsonaro seguiu ao Planalto para subir a rampa e para receber a faixa presidencial, os gestos mais simbólicos da posse. Às 16h50, as pessoas que estavam nas imediações do Congresso seguiram para a praça, que fica em frente ao parlatório do Palácio do Planalto. Exatos 19 minutos separaram a saída do presidente do Congresso e o início do discurso, já com a faixa no peito. A última revista foi bem mais flexível, diante da correria das pessoas. Bastava retirar os celulares dos bolsos, colocá-los ao lado dos detectores de metal e ocupar um espaço na praça.
— O capitão chegou — gritaram os apoiadores de Bolsonaro.
Mesmo com a proibição de fogos de artifício, houve apoiadores que conseguiram entrar com fumaça colorida, nas cores verde e amarela, um claro indício do afrouxamento da vistoria no espaço mais importante da posse. Às 17h20, Bolsonaro pronunciou o último "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". As pessoas partiram em retirada. Ainda em tempo de ficarem presos em dois cercadinhos, à espera da passagem de comitivas intermináveis.