No dia 16 de maio de 1929, acontecia a primeira edição do Oscar, hoje a maior premiação cinema mundial, em Los Angeles, na Califórnia. Criada para exaltar a indústria americana de filmes, a cerimônia anual de entrega das famosas estatuetas douradas construiu sua própria história ao longo das décadas. Nesta quinta-feira, dia em que o Oscar completa 90 anos, o Blog do Acervo reuniu 11 episódios inesquecíveis dessa trajetória. São acontecimentos como o primeiro prêmio para uma pessoa afrodescente, em 1940; o protesto de Marlon Brando, que não foi receber sua estatueta de Melhor Ator por "Poderoso chefão", em 1973; a primeira estatueta de Melhor Diretor entregue a uma mulher, em 2010; a selfie promovida por Ellen Degeneres, em 2014; e o discurso de Patricia Arquette em defesa da igualdade de gênero, ao receber a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante, em 2015.
O primeiro Oscar para uma pessoa negra, em 1940
O Hotel Ambassador, em Los Angeles, tinha por política não permitir a entrada de negros, mas fez um "favor" ao abrir exceção para Hattie McDaniel. Graças à sua atuação como a empregada doméstica Mammy, no clássico "...E o vento levou" (1939), a americana se tornara a primeira pessoa afrodescendente a receber uma indicação para o Oscar, como Melhor Atriz Coadjuvante. Mas, naquela noite de 29 de fevereiro de 1940, quando a segregação racial era algo institucionalizado nos Estados Unidos, ela teve que se sentar numa mesa nos fundos do salão.
Primeiro Oscar de Melhor Ator para um artista negro
Sidney Poitier foi o primeiro artista negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, em 1964, pela sua atuação em “Uma voz nas sombras”, lançado no ano anterior. Quando recebeu a estatueta das mãos de Anne Bancroft, a renomada atriz lhe deu um beijo no rosto, o que incomodou muitos conservadores. Naquela época, os Estados Unidos ainda viviam sob o manto da segregação racial. O casamento inter-racial, por exemplo, era proibido. Toda essa realidade de preconceito se refletia na entrega dos prêmios do cinema. A premiação a outro ator negro só viria a acontecer em 1982, quando Louis Gossett Jr. recebeu a estatueta na categoria de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel de sargento Emil Foley no filme "A força do destino".
Mais uma vez, outro grande intervalo de tempo se passou até outro ator negro ganhar o Oscar de Melhor Ator. Foi apenas em 2002, quando Denzel Washington foi premiado por sua atuação como o policial corrupto Alonzo Harris, no filme "Dia de Treinamento". Naquela cerimônia, Sidnei Poitier ganhou um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra, e a atriz Hale Barry se tornou a primeira artista negra a receber a estatueta de Melhor Atriz. Era o Oscar tentando se emendar após décadas de pouca diversidade. Anos mais tarde, Poitier disse que aquela noite foi "especial" e que, na opinião dele, "significou progresso" em Hollywood.
Marlon Brando protesta com ausência na premiação de 1973
O astro Marlon Brando foi uma das primeiras estrelas do cinema americano a fazer da cerimônia de entrega do Oscar uma plataforma para protesto político. Em 1973, quando foi eleito o Melhor Ator por sua atuação no clássico "Poderoso Chefão", o artista, sabendo que era o favorito para vencer o prêmio, não compareceu ao evento e enviou, em seu lugar, a atriz e ativista indígena Sacheen Littlefeather, da etnia Apache. Ao subir no palco, Littlefether se recusou a receber a estatueta e fez um rápido discurso. Ela parecia constrangida, mas demonstrou classe e não se acovardou: “Ele não pode aceitar esse generoso prêmio. E a razão para isso é o tratamento que os índios americanos recebem da indústria cinematográfica”.
Durante o discurso, a plateia ensaiou algumas vaias, mas, quando terminou de falar, Littlefeather foi bastante aplaudida. Posteriormente, porém, a atriz afirmou que passou a ser marginalizada por Hollywood e que alguns veículos de imprensa chegaram a questionar suas origens indígenas, alegando até mesmo que as roupas usadas por ela na cerimônia haviam sido alugadas. Décadas depois, em 2014, a 87ª edição do Oscar foi criticada pela falta de diversidade, e a atriz negra Jada Pinkett Smith boicotou o evento citando Littlefather como uma inspiração.
Primeira artista negra eleita Melhor Atriz
O primeiro Oscar de Melhor Atriz para uma mulher negra aconteceu mais de 70 anos após a primeira edição da premiação. Halle Berry venceu o prêmio em 2002 pela sua atuação em “A última ceia”. Quando seu nome foi anunciado, Berry se mostrou muito surpresa e emocionada enquanto subia ao palco para receber a estatueta. Em seu discurso de agradecimento, ela disse que “Esse momento é tão maior do que eu. É para cada mulher de cor que não tem nome, não tem rosto, e que agora tem uma chance porque essa porta foi aberta hoje à noite”. Porém, desde então, a artista permanece como única negra a levantar a estatueta.
A primeira e única mulher a receber prêmio de direção
A estatueta dourada de Melhor Direção só foi entregue a uma mulher na 82ª edição da cerimônia, em 2010. A americana Kathryn Bigelow ganhou o prêmio, um dos mais prestigiados da cerimônia, por seu trabalho à frente do filme “Guerra ao terror”. O longa, que mostrou o trabalho tenso de uma equipe do esqudrão anti-bombas durante a Guerra do Iraque, faturou outras cinco categorias naquele ano: Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Mixagem de Som, Melhor Montagem e Melhor Edição de Som. Desde aquele ano, nenhuma outra mulher venceu o mesmo prêmio, o que evidencia a tímida participação de cineastas mulheres na indústria.
Ingrid Bergman, três vezes vencedora do Oscar, brilha em "Casablanca"
Erro histórico! Longa foi anunciado como Melhor Filme por engano
Em 2017, os apresentadores Faye Dunaway e Warren Beatty receberam o envelope que deveria conter o nome da produção vencedora do Oscar de Melhor Filme e leram o que estava escrito ali: “La la land”. Os produtores Jordan Horowitz, Marc Platt e Fred Berger comemoraram ainda na plateia, subiram ao palco, receberam o prêmio e começaram o discurso de agradecimento, mas foram interrompidos. É que Dunaway e Beatty haviam recebido o envelope errado. O filme eleito como o melhor daquele ano pelos membros da Academia foi, na verdade, o aclamado longa “Moonlight”, que conta a história de um jovem negro e gay. O papel lido pelos apresentadores foi entregue a eles por engano, o que levou ao erro inédito na cerimônia.
Indicado a cinco categorias naquele ano, "Moonlight" ainda ganhou outras duas estatuetas: Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante, graças à atuação de Mahershala Ali. Era a consagração do corajoso trabalho auto-biográfico do diretor Barry Jenkins, então com apenas 38 anos de idade. Já o longa "La la land", por sua vez, conquistou seis estatuetas entre as 14 nomeações que recebeu.
Oscar para a melhor selfie para Ellen DeGeneres
3,3 milhões. Esta é a quantidade de retweets que consagrou a selfie de Ellen DeGeneres na qual ela aparece com diversos astros do cinema, como Brad Pitt, Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Jared Leto e Angelina Jolie. Foi a publicação mais compartilhada no Twitter em 2014. A foto foi clicada durante a cerimônia do Oscar daquele ano. Depois, foi descoberto que essa selfie era uma jogada de marketing da fabricante do telefone usado para fazer a foto. Segundo o "Wall Street Journal", a empresa investiu cerca de R$ 45 milhões na ação.
O poderoso discurso por igualdade de Patricia Arquette
Patricia Arquette faturou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, em 2015, pela sua atuação em “Boyhood”, interpretando a personagem Olivia Evans. Porém, o que mais chamou atenção do público foi seu discurso. A artista fez uma fervorosa declaração destacando a diferença salarial entre homens e mulheres: “É a nossa vez de ter igualdade salarial de uma vez por todas e igualdade de direitos para as mulheres nos Estados Unidos da América". Suas palavras foram muito aplaudidas na cerimônia e geraram repercussão internacional como o grande momento da cerimônia.
O Oscar póstumo de Heath Ledger
O ator Heath Ledger morreu tragicamente, aos 28 anos, devido a uma overdose acidental de remédios prescritos. No ano seguinte, ele foi eleito o Melhor Ator Coadjuvante, por sua brilhante peformance como Coringa, em "Batman - O Cavaleiro das Trevas". A estatueta foi recebida pela sua família, num momento que emocionou a plateia e o público espectador. "Este prêmio... validou a determinação de Ledger de ser realmente aceito por todos vocês aqui, seus colegas, em uma indústria que ele amava tanto", disse o pai de Ledger, Kim, ao aceitar o prêmio em nome do filho, ao lado da mãe de Ledger, Sally.
Finalmente, Leonardo DiCaprio vence
Depois de 27 anos em Hollywood, com seis nomeações — incluindo uma pela atuação em “Titanic” —, Leonardo DiCaprio, enfim, conquistou um Oscar. O engajado artista levou a estatueta pela sua atuação como protagonista de "O regresso", em 2016. O ator aproveitou a oportunidade para discursar sobre o aquecimento global: “É a ameaça mais urgente que a nossa espécie precisa enfrentar. Precisamos trabalhar juntos e deixar de procrastinar. Precisamos apoiar os líderes de todo o mundo que não falam em nome das grandes corporações poluentes, mas sim de toda a humanidade, dos povos indígenas, de bilhões de pessoas desfavorecidas”.
As indicações anteriores de DiCaprio foram na categoria de Melhor Ator nos filmes "O lobo de Wall Street" — neste, concorreu a Melhor Filme também —, "Diamante de sangue" e "O aviador", além de ter sido nomeado na categoria Melhor Ator Coadjuvante pela sua atuação em "Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador".
Finalmente, Martin Scorsese vence
Após 40 anos de seu primeiro filme, o renomado diretor Martin Scorsese conseguiu faturar seu único Oscar de Melhor Diretor pelo filme "Os infiltrados". Ele recebeu outras sete nomações à premiação pela sua direção em: "Touro indomável", "A última tentação de Cristo", "Os bons companheiros", "Gangues de Nova York", "O aviador", "Hugo" e "O lobo de Wall Street".
Ao receber a estatueta, o diretor de outros clássicos como "Taxi driver", "Cassino" e "Cabo do medo" brincou: "Vocês poderiam checar o envelope?". Scorsese ainda foi nomeado a outras premiações do Oscar, como por Melhor Filme em "Hugo" e "O lobo de Wall Street". Ele também fundou o "Film production", uma organização sem fins lucrativos dedicada à preservação de filmes.