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A Ciganinha, balanço, com Carlos Alexandre:
Toque em Mim, canta Carlos Alexandre:
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NÚBIA LAFAYETTE, MINHA BREGA PREFERIDA
Raimundo Floriano
Idenilde Araújo Alves da Costa, a Núbia Lafayette
(Açu (RN), 21.01.1937 – Niterói (RJ), 18.06. 2007)
(Matéria publicada no mês de junho de 2007)
Pronto! Mais uma das minhas musas que partiu para a Grande Festa nos Salões Celestiais. No dia 18 de junho último, uma segunda-feira, Idenilde nos deixou. Viajou sem que disso a mídia tomasse conhecimento. Em conseqüência, o povão que a adorava, e que aos poucos, pela falta de divulgação nos jornais e na televisão, a ia esquecendo, nada soube desse terreno desfecho. Uma das vozes mais belas, agradáveis, nítidas, límpidas e cristalinas da MPB, embalou os corações apaixonados de minha geração. Aliado a todos os predicados artísticos que a lançaram no mercado fonográfico brasileiro, mais este que alimentou nossos sonhos e nossas fantasias: uma linda mulher!
Quatro dias após seu falecimento, a TV Globo levou ao ar, no Globo Repórter, quase hora e meia de um especial, dedicado à memória do cantor Luiz José da Costa, o Leandro, da dupla Leandro & Leonardo, alusivo ao nono aniversário de sua morte. Nada mais justo. Leandro, apenas com 38 anos, encarou a fatalidade, soube da presença iminente da Ceifadeira, e a enfermidade que o levou não o definhou tanto quanto a atroz certeza das proximidades do seu fim. Aquela dupla revolucionou a Música Breganeja, em 1989, quando estourou em todo o Brasil com a balada Entre Tapas e Beijos, de Nilton Lamas e Antônio Bueno. Iniciava-se uma fase de permanente sucesso, que a manteve sempre no topo das paradas, e se transferiu para Leonardo, o irmão remanescente. Nada mais justo o preito à sua memória, pois.
Mas a Globo não poderia, assim como toda a mídia, ter dado uma pequena nota, naquela semana, sobre a passagem da querida Idenilde de Araújo Alves da Costa, mais conhecida como NÚBIA LAFAYETTE? Agora, os amigos leitores se perguntam: – Mas a Núbia morreu? –Pois é, meus camaradas, aos 70 anos, ela se foi.
Núbia nasceu a 21 de janeiro de 1937, em Açu (RN). Aos três anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro, acompanhando a mãe. Na adolescência, já era reconhecida como grande revelação quando, em programas radiofônicos infantis, imitava Vicente Celestino e Dalva de Oliveira. Cantou em programas de calouros, foi crooner em boates, batalhou por aí, até chegar à sua primeira gravação, “Devolvi”, de Adelino Moreira, que a revelou para todo o Brasil.
Nélson Gonçalves, sua fonte de inspiração musical masculina, teve grande influência em sua vida, ensinando-a os segredos da profissão, tal como a escolha do repertório e o modo de se comportar no palco. Numa fase de sua carreira, chegou a ser considerada O Nélson Gonçalves de Saia. De igual importância foi o compositor Adelino Moreira, de quem gravou muito de seu vasto repertório de criações.
Nos Anos 70, dominou o cancioneiro brega, notadamente com o samba-canção Devolvi, de Rossini Pinto, de 1972, que virou o hino oficial das mulheres malcasadas e desprezadas pelos maridos infiéis, cujo refrão era por elas repetido à exaustão: “não é só casa e comida que faz a mulher feliz”.
Mas não foi só de dor-de-cotovelo que Núbia Lafayette cuidou em suas interpretações. Seu repertório era eclético e abrangia obras de quase todos os outros compositores dos mais significativos da MPB da sua época, como, além dos acima referidos, Mário Lago, Lupicínio Rodrigues, Felisberto Martins, Herivelto Martins, David Nasser, Paulo Marques, João de Barro, Antônio Almeida, Vicente Paiva, Marino Pinto, Mário Rossi e Humberto Teixeira, para só citar alguns dos quais vocês ouvirão nas faixas que ora lhes apresento, nesta pequena amostra do seu trabalho.
ESTAS SÃO AS MÚSICAS MAIS CONHECIDAS GRAVADAS POR NÚBIA E CONSTANTES DO MEU ACERVO:
Devolvi, samba-canção de Adelino Moreira:
Casa e Comida, samba-canção de Adelino Moreira:
Fracasso, samba-canção de Mário Lago:
Migalhas, samba-canção de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins:
Pensando em Ti, samba-canção de Herivelto Martins e David Nasser:
Lama, samba-canção de Aylce Chaves e Paulo Marques:
A Saudade Mata a Gente, toada de João de Barro e Antônio Almeida:
Fica Comigo Esta Noite, samba-canção de Adelino Moreira e Nélson Gonçalves:
Ave Maria, samba-canção de Vicente Paiva e Jayme Redondo:
Que Será?, bolero de Marino Pinto e Mário Rossi:
Kalu, baião de Humberto Teixeira:
A Bahia Te Espera, samba de Herivelto Martins e Chianca Garcia:
Folha Morta, samba-canção de Ary Barroso:
Ocultei, samba-canção e Ary Barroso:
Aquarela do Brasil, samba-exaltação de Ary Barroso, participação de Gilberto Milfont:
WANDO, O REI DA LINGERIE
Raimundo Floriano
Dois momentos de Wando
Morreu um grande cantor da MPB, brega de primeira linha, compositor e intérprete de bonitas canções que embalaram o cenário romântico de nosso povo.
Wanderley Alves do Reis, o Wando, nasceu em Cajuri (MG), a 10.10.1945, e faleceu em Nova Lima (MG), a 08.02.2012.
O apelido Wando foi-lhe dado por sua avó. Ainda pequeno, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde se formou em violão erudito, começando a lidar com música por volta dos 20 anos. Nessa época, já participava de conjuntos e se apresentava em bailes na região. Mais tarde, mudou-se para Volta Redonda (RJ), onde trabalhou como caminhoneiro e feirante.
Sua carreira de cantor iniciou-se em 1969, mas o sucesso só veio mesmo em 1973. Coincidência ou não, aconteceu algo no começo de seu estrelato que marcou para sempre sua personalidade artística, levando-me a deduzir que fui seu mestre no assunto.
No ano de 1972, eu, solteiro cobiçado e recém-lançado no mercado paquerador, incrementei uma coleção de calcinhas usadas, que me eram ofertadas pelas visitantes de meu cafofo, recebendo elas uma peça zeradinha em retribuição. A fama dessa coleção ultrapassou as fronteiras brasilienses, tendo chegado, portanto, suponho eu, aos ouvidos de Wando que, bom aluno, tratou logo firmar-se nesse prazeroso metiê.
E com uma vantagem: enquanto eu tinha de comprar as calcinhas para a troca, ele as recebia de graça, nos palcos da vida, atiradas por suas fãs, que voltavam para casa sem elas, desprevenidamente.
Wando, além de intérprete, também compôs para outros medalhões da MPB. São dele Vá, Mas Volte, lançamento de Ângela Maria, em 1975 e A Menina e o Poeta, que Roberto Carlos incluiu em seu álbum de 1976.
Moça, Fogo e Paixão e Chora Coração constituem criações de Wando que permanecerão para sempre em nossa lembrança, trazendo-o ao presente, pois contêm sua inconfundível marca registrada.
Duas de suas composições fizeram sucesso estrondoso no Carnaval e até hoje são cantadas nos blocos de sujos e nos salões e incluídas em qualquer pupurri carnavalesco: os sambas O Importante É Ser Fevereiro, em parceria com Nilo Amaro e gravado por Jair Rodrigues em 1972, e Se Deus Quiser, em parceira com Jair Rodrigues, que o gravou em 1973.
A 27 de janeiro de 2012, o cantor foi internado na CTI de um hospital em Belo Horizonte, com problemas cardíacos graves. Submetendo-se a uma angioplastia de emergência, passou a respirar com o auxílio de aparelhos. Hoje pela manhã, hospitalizado em Nova Lima, uma parada cardíaca o levou para sempre.
Para que vocês curtam a saudade desse grande intérprete e de sua voz, aí vai esta pequena amostra de seu riquíssimo repertório.
Fogo e Paixão, samba-canção de Rose:
Safada, samba-canção de Wando e Chico Anysio:
Gostosa, samba-canção de Wando:
Chora, Coração, toada de Wando e Pedrinho Medeiros:
Moça, toada de Wando:
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HEBE CAMARGO, A MORENINHA DO SAMBA
Raimundo Floriano
Três momentos de Hebe Camargo nos Anos 1950
Em janeiro de 2011, resolvi homenagear a cidade de São Paulo, em seu 457º Aniversário, ocorrido no dia 25. Qui-lo e fi-lo, mas com um dia de atraso, devido aos apertos de costura neste Cardinalato, conforme vocês podem constatar neste Jornal da Besta Fubana, edição de 25.01.11.
Naquela postagem, disponibilizei o samba Isto É São Paulo, de Kazinho, com o conjunto Os Demônios da Garoa, que é a cara de São Paulo, em Carrara esculpida.
Doravante, este Cardinalato não deixará em branco a passagem dessa efeméride, consignando justíssimo preito à Capital mais nordestina do Brasil.
Na próxima quarta-feira, dia 25, comemoraremos o 458º Aniversário da Pauliceia, brindando-os com uma artista que também é sua cara, sem tirar nem pôr: Hebe Camargo, outrora A Moreninha do Samba, desde então uma gracinha.
Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani – nome de casada – filha de Ester e Sigesfredo Monteiro de Camargo, nasceu em Taubaté (SP), a 08.03.1929. Seu nome foi inspirado na mitológica deusa da juventude, o que repercutiu sobre sua personalidade, pois permanece até hoje esbanjando alegria e extrema jovialidade.
Seu pai, conhecido como Fego, era violonista e tocava trilha sonoras de filmes, no tempo do cinema mudo. Em sua infância, Hebe chegou a morar num porão, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Jovem ainda, ajudava nas despesas de sua família, prestando serviços domésticos na casa de uma tia. Abandonando os estudos no 4º Ano do Ensino Fundamental, Hebe enveredou pela carreira artística, influenciada pelo virtuosismo do pai.
Aos 13 anos de idade, Hebe formou, juntamente com a irmã Stella e duas primas o Quarteto Dó-Ré-MI, inspirado no grupo vocal norte-americano Andrews Sisters, com o qual se apresentou na Rádio Tupi. Com o casamento de uma das primas, o quarteto virou o trio As Três Américas. Desistindo a última prima da carreira artística, Hebe formou com a irmã a dupla Rosalinda e Florisbela. Depois, partiu para a carreira solo. Devido a seu repertório sambista, ganhou, aos 15 anos, o cognome de A Moreninha do Samba.
Hebe participou da comitiva que foi ao Porto de Santos receber os equipamentos para transmitir sinais televisivos no Brasil. No dia da estréia da Rede Tupi, Hebe estava escalada para cantar o Hino da Televisão, mas alegou motivos de saúde e foi substituída por Lolita Rodrigues. Muitos anos depois, ela revelou que sua ausência naquele momento histórico deveu-se ao fato de ter comparecido a show que um seu namorado fazia noutro local. Isso, porém, não empanou sem brilho de sua estrela. Hebe firmou-se no palco do vídeo e é hoje considerada, com muita justiça, a Grande Dama da Televisão Brasileira.
Hebe é morena. Em 1957, aos 28 anos, tingiu os cabelos de loiro, e isso foi definitivo, para sempre. Neste pequeno fragmento de sua biografia, quero focalizar apenas sua fase musical morena, que vai até meados dos Anos 1950.
Tenho em meu acervo as seguintes preciosidades por ela registradas no acetato: Quem Foi que Disse?, baião de Valadares Lago e Gabriel de Aguiar - 1950; Oh! José, samba de Esmeraldino Sales e Ribeiro Filho - 1950; Baião Caçula, baião de Mário Gennari Filho e Felipe Tedesco - 1952; Testemunha, samba-canção de J. Piedade e Alfredo Godinho - 1952; Eu Vou de Touca, marcha de Blota Júnior e Denis Brean - 1952; Pauliceia em Festa, marcha de Avaré, 1953; Cansada de Sofrer, samba de José Roy e Doca - 1954; e Madalena, samba de Blecaute e Oswaldo Ferreira - 1954.
O ano de 1953 foi muito especial, pois transcorreu todinho num clima de preparação, de expectativa, isso envolvendo minha pessoa, em particular, e todo o Brasil, dum modo geral. No ano seguinte, 1954, eu viria a completar 18 anos de idade, conquistando o direito de assistir a filmes impróprios para menores, e o primeiro foi Arroz Amargo, com Vittorio Gassman e Silvana Mangano, no qual esta interpretava a canção e dança erótica Baião de Ana. Também em 1953, toda a Nação Brasileira se preparava para a grande festa do Quarto Centenário de São Paulo, a transcorrer no ano seguinte.
Diversas composições foram lançadas para as comemorações. A cada ano, irei disponibilizando aqui as existentes em meu acervo. A mais importante de todas, que agora vocês ouvirão, é São Paulo Quatrocentão, dobrado de Avaré, Chiquinho e Garoto, com Hebe Camargo e acompanhamento de Altamiro Carrilho e sua Bandinha. Essa música não só divulgou o Quarto Centenário de São Paulo, como fez Altamiro conhecido por todos os brasileiros. Eis a letra:
Oh, São Paulo! Oh, meu São Paulo!
São Paulo Quatrocentão.
Oh, São Paulo! Oh, meu São Paulo!
Você é o meu torrão.
Oh, São Paulo! Oh, meu São Paulo!
São Paulo das tradições.
Oh, São Paulo! O seu nome
Vive em todos os corações
(Bis)
Você é lindo, é!
É a terra do melhor café!
Seu grande centro industrial
Representa o esteio nacional.
Você é varonil
Orgulho deste meu Brasil!
Oh, meu São Paulo!
Você é forte, é colossal!
(Bis)
Quem é que não vai visitar meu São Paulo
No Quarto Centenário?
Quem é que não vai lhe enviar parabéns
Pelo seu aniversário?
Quem é que não sente emoção
Ao saber que também vai participar
Da festa do meu São Paulo
Que pra sempre hei de adorar?
(Bis)
Com vocês, São Paulo Quatrocentão, dobrado de Avaré, Chiquinho e Garoto, na voz desse grande ícone da Televisão Brasileira:
E este youtube, com Hebe interpretando o samba Madalena, de Blecaute e Oswaldo Ferreira.
PERY RIBEIRO, FILHO DE GÊNIOS DA MPB
Raimundo Floriano
Um filho de gênios da MPB
Pery de Oliveira Martins, nasceu a 27.10.1937, no Rio de Janeiro (RJ), onde veio a falecer hoje, 24.02.2012, aos 74 anos de idade, vítima de infarto agudo do miocárdio.
Era filho do compositor Herivelto Martins e da cantora Dalva de Oliveira, ícones sagrados da Música Popular Brasileira
Sua vocação musical manifestou-se cedo. Aos três anos de idade, gravava canções e vozes para personagens dos filmes de Walt Disney – Bambi, Coelho Tambor e Anão Feliz, de Branca de Neve –, traduzidos por João de Barro, o Braguinha. Aos quatro anos, apresentou-se no Teatro Nacional do Rio de Janeiro. Aos sete, participou do filme Berlim na Batucada, de Luís de Barros.
Em 1959, trabalhava como camera-man na TV Tupi do Rio de Janeiro, quando foi apresentado no vídeo, cantando, por Jacy Campos. Ouvido por Paulo Gracindo, foi convidado a tomar parte em seu programa na Rádio Nacional. Essas atuações chamaram a atenção de César de Alencar, que o tomou como afilhado, batizando-o Pery Ribeiro.
Em 1960, fez sua primeira composição, Não Devo Insistir, com Dora Lopes, gravada por Dalva, na Odeon. Seu primeiro disco, em 78 rpm, foi Manhã de Carnaval, e Samba do Orfeu, ambos de Antônio Maria e Luiz Bonfá, pela Odeon, em 1961.
No ano seguinte, também pela Odeon, gravou várias outras músicas em 78 rpm, como Lamento da Lavadeira, de Monsueto, Nilo Chagas e João Violão, Barquinho, de Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal e Inteirinha, de Luiz Vieira. Seu primeiro LP foi Pery Ribeiro e Seu Mundo de Canções Românticas, pela Odeon, em 1963, acompanhado pelo violonista Luiz Bonfá. Nesse mesmo ano, lançou Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Depois disso, sua carreira se consolidou no âmbito da MPB.
Em 1965, formou, com Leny Andrade e o Conjunto Bossa Três, o Grupo Gemini, apresentando-se na boate Porão 73 e no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. Do sucesso grupo, surgiu o convite para se apresentarem na boate El Señorial, na Cidade do México, onde permaneceram por seis meses. Em seguida, formou outro conjunto, dessa vez com músicos mexicanos, apresentando-se na capital mexicana e em Acapulco.
Em 1966, Pery foi para os Estados Unidos, onde mais tarde formou com Sérgio Mendes o conjunto Bossa Rio, composto por, além dos dois, Ronnie, Osmar Milito, Otávio Vailly Jr., Manfredo Fest e Gracinha Leporace. O conjunto excursionou por várias cidades norte-americanas, apresentando-se em shows, boates, teatros e universidades.
De volta ao Rui de Janeiro, em 1971, Pery participou do espetáculo Fica Combinado Assim, com Pedrinho Mattar e Agildo Ribeiro.
Em 1975, gravou o LP Herança, na Odeon, homenageando Dalva de Oliveira, Herivelto Martins, Eliseth Cardoso, Antônio Carlos e Jocafi.
Desde então, vinha trabalhando em vários shows e apresentações na TV, tanto no Brasil, como no exterior. Participou, também, de vários filmes do cinema nacional.
Entre os prêmios conquistados em sua carreira, destacam-se o Troféu Roquette Pinto, e o Troféu Imprensa.
Como pequena amostra de seu trabalho, apresento-lhes a marcha-rancho Dalva, Rainha dos Ranchos, de Elzo Augusto, que ele gravou par ao Carnaval de 1977.
Ouçam-na, clicando aqui:
WALDICK SORIANO, O ÍCONE DO BREGA
Raimundo Floriano
(Caetité (BA), 13.05.1933 – Rio de Janeiro (RJ), 04.09.2008)
Eurípedes Waldick Soriano – ou Waldik, como ele se assinava na Década de 70 –, até completar 25 anos, exerceu várias profissões: lavrador, peão, faxineiro, engraxate, servente de pedreiro, motorista de caminhão, garimpeiro, sanfoneiro e violonista. Em 1959, tentou carreira artística em São Paulo, procurando, sem êxito, um lugar nas rádios Record e Piratini.
Na Rádio Nacional, naquele mesmo ano, foi apresentado ao diretor artístico da Chantecler, sendo contratado para gravar Quem És Tu?, de sua autoria.
Começou, então, a aparecer, marcando o estilo com uma mistura de Bienvenido Granda, Anísio Silva, Nélson Gonçalves e Vicente Celestino, vestindo-se de preto e com óculos escuros, uma cópia do seu ídolo cinematográfico Durango Kid.
Com um repertório de músicas no estilo dor-de-cotovelo – ou brega, rótulo que ele abominava –, destacou-se, com outros sucessos como Tortura de Amor, A Carta, Eu Não Sou Cachorro Não, Paixão de Um Homem, Perfume de Gardênia e Angústia.
Esse estilo brega fazia as mulheres sonharem, muitas delas famosas colunáveis. No que ele soube muito bem aproveitar. Passou pelas armas todas as que quis. Palavras suas, ao definir seu sexo: “macho, certidão reconhecida em todo o Brasil, principalmente nos cabarés de ponta de rua”.
Na Crônica da Cidade de 05.09.08, do Correio Braziliense, a jornalista Conceição Freitas diz: “Waldick foi um encantador de mulheres. Fala-se em quatro – oficiais –, mas a quantidade de viúvas que ele deixou deve superar os dois dígitos. Falo pelo que vi naquela noite (em que o entrevistou). Um homem que se aproxima de uma mulher como se ela fosse a jóia mais preciosa da natureza. E a única. Diante dela, o mundo deixa de existir”.
Em 1975, no auge de sua carreira, o semanário Pasquim, órgão da Editora Codecri, que reunia a nata da intelectualidade da época, dedicou-lhe espaço para longa entrevista, depois transforma no livro cuja capa ilustra esta matéria.
Uma de suas declarações, definindo deu sexo: “Macho, com certidão reconhecida em todo o Brasil, principalmente nos cabarés de ponta de rua.”
Outra, referindo-se às agruras se seu tempo de garimpo, onde não havia mulher: “Para o leitor ter uma ideia de como a situação era difícil mesmo, nós improvisávamos festas, exclusivamente de machos. Homem dançando com homem. Aquele negócio grotesco ‘malamanhado’, como se diz no Norte, ou mesmo a expressão ‘homem com homem dá lobisomem’. Na maioria das vezes, Waldick safava-se, por ser o sanfoneiro escalado.
Mais outra, quando à vida de caminhoneiro: “Gostava de ficar noivo por onde passava. Não podia ver uma donzela bonita, despontava logo uma paixão, uma loucura, de repente, queria falar com a família para pedi-la em casamento. Se deixassem, eu casaria com todas as mulheres encontradas. Uma coisa em aprendi: os pais não entendem os filhos. Quantas meninas queriam casar comigo, e os pais não deixavam, por não verem futuro na vida de motorista e sanfoneiro. Aquino era uma ‘paixonite’ lascada, e tome pinga pra dentro de desgosto! Sentia-me incompreendido. Como não aceitar um bom sujeito como eu para genro? Era uma sacanagem! Também tinha uma coisa, se brincasse, eu carregava a dona! Comigo, o buraco era mais embaixo, tretou, em carregava, era só a mulher querer.”
Waldick com seu violão e com sua 8 Baixos no Programa Flávio Cavalcanti
Os novos modismos fizeram-no esquecido da mídia por um bom tempo. Mas, no ano passado, voltou aos holofotes, ao ser lançado o documentário Waldick, Sempre no Meu Coração, dirigido pela atriz Patrícia Pillar.
Faleceu no Rio de Janeiro, a 04.09.2008, vítima de um câncer de próstata do qual há dois anos se tratava.
Deixou mais de 400 músicas de sua autoria gravadas, não só por ele, mas também por grandes intérpretes como Altemar Dutra, Osni Silva, Cláudia Barroso, Agnaldo Timóteo, Maria Creusa, Nélson Gonçalves, Fagner, Fafá de Belém, Lula Queiroga e o humorista Falcão.
A seguir, duas peças raríssimas de seu trabalho.
Com sua sanfona de 8 baixos, interpretando o choro Paraquedista, a que ele deu uma roupagem de maxixe, de José Leocádio, gravação de 1962:
E o bolero Sempre no Meu Coração, de Ernesto Lecuona e versão de Mário Mendes, gravação de 1964.
E mais, estas preciosidades:
Quem És Tu?, bolero de sua autoria, primeira gravação de sua carreira:
Paixão de Um Homem, bolero de sua autoria:
Perfume de Gardênia, boleto de Rafael Hernandez:
Eu Não Sou Cachorro Não, bolero de sua autoria: