O grupo vocal Boca Livre é mais uma vítima da polarização ideológica que, desde 2018, já deu muita briga em família, desfez amizade e até casamento. Zé Renato, integrante desde a primeira formação, em 1978, e Lourenço Baeta, que entrou em 1980, deixaram o quarteto por divergências com Mauricio Maestro, um dos fundadores. Maestro, alinhado com o presidente Bolsonaro e Olavo de Carvalho, e sempre compartilhando conteúdo de ambos em suas redes sociais, agora segue apenas com David Tygel, na banda desde 1978, entre idas e vindas. O anúncio foi feito pela empresária do grupo, Memeca Moschkovich, no Facebook.
A ideia do músico agora é investir ainda mais na carreira solo: lança ainda neste ano um álbum infantil, “Água para crianças” (Sesc), e outro com uma gravação de um show ao vivo, de 2004, com repertório de Orlando Silva (Discobertas).
Mauricio foi procurado pela reportagem, mas preferiu não se pronunciar sobre a saída dos colegas e sobre os novos rumos da banda.
Amor ao grupo
Lourenço Baeta também calculou a decisão há tempos e diz que ela está além do espectro “esquerda e direita”.
— Você convive com divergência politica, mas tem hora que vai chega num ponto mais difícil aceitar certas coisas. Até pelo fato do desgaste do tempo — disse o músico, ainda sem planos para os próximos passos.
— Ele tem uma posição contrária a minha. (Mas o Boca Livre) é um grupo que eu amo muito, não gostaria que acabasse. No sentido do trabalho musical, tenho uma relação muito boa com o Maurício — disse David.
MPB refinada
O Boca Livre tinha sua formação original composta por Zé Renato, Claudio Nucci, Maestro e Tygel. Seu álbum de estreia, “Boca livre” (1979), ultrapassou a marca de 100 mil cópias vendidas, impulsionado pelos sucessos de “Toada” e “Quem tem viola”. Nucci sairia no ano seguinte, sendo substituído por Lourenço Baeta. Referência de uma MPB refinada, com arranjos e harmonias vocais que fogem do convencional, o grupo tem no currículo parcerias com Milton Nascimento, Tom Jobim e Edu Lobo, entre outros.