MOSCOU — Na era das redes sociais, em que cada jogador virou um veículo de comunicação de massa, manter elencos estelares concentrados numa Copa não é tarefa simples. A França, que chegou à Rússia com um elenco badalado, entre astros emergentes e jogadores estabelecidos, terá um time misto hoje, às 11h (de Brasília), contra a Dinamarca. E uma das poucas estrelas em campo, o atacante Antoine Griezmann, do Atlético de Madrid, é um retrato fiel da atual geração francesa: técnico, cobiçado, valorizado e, de tão midiático, capaz de um sobressalto que abalou o início da caminhada francesa na Rússia.
Sua transferência para o Barcelona era considerada certa. O suspense foi ganhando corpo, em especial após Griezmann decidir que seu futuro seria anunciado em um programa da TV fechada espanhola, realizado pela produtora que tem o zagueiro Piqué, do Barcelona, como sócio. Em suas redes, Griezmann divulgou que a resposta viria no documentário “La decisión”, na noite do dia 14 de junho, a 48 horas da estreia francesa.
— O que você decidiu? — pergunta o entrevistador.
— Decidi ficar.
De imediato, a imagem vai para uma cena noturna do jogador sozinho, na frente de um vazio estádio Wanda Metropolitano, vestindo roupa preta e com a cabeça coberta por capuz. A câmera gira até mostrar o letreiro da casa do Atlético de Madrid. Como num final feliz.
Na França, o corpo técnico teve que negar qualquer alteração da rotina, embora as atenções tenham se voltado para Griezmann. Jogadores como o goleiro Lloris brincaram quando perguntados sobre como reagiram ao ver o filme:
— Rimos muito.
A polêmica chegou a Piqué. Em suas extremamente ativas redes sociais, ele divulgou o programa feito por sua produtora sobre o destino do atacante francês que, a rigor, decidira dizer não ao Barcelona, o clube do defensor. Em entrevista após a estreia espanhola contra Portugal, um grande jogo que terminou 3 a 3, o zagueiro teve que responder sobre o documentário.
— Não traí o Barcelona. Não entendo a reação das pessoas. Conversei com Griezmann e ele me disse que havia uma chance de ir. Disse que iria filmar a decisão, porque seria interessante para as pessoas entenderem o que se passa na cabeça do jogador — afirmou o defensor.
Griezmann chegou ao Atlético de Madrid em 2014, logo após disputar a Copa do Mundo no Brasil. Seus 24 gols logo na primeira temporada no clube já o transformavam numa estrela internacional. Movimentação por todo o ataque, drible, capacidade de dar o último passe e, claro, os gols. Um atacante completo.
A distância da família talvez já não fosse um problema, mas em novembro de 2015 o jogador viveu momentos de angústia: estava em campo no amistoso da França contra a Alemanha, suspenso após a explosão de uma bomba nas proximidades do Stade de France. O incidente foi apenas um episódio da série de atentados que abalou Paris. Um deles, na casa de shows Bataclan, onde morreram 89 pessoas. A irmã de Griezmann estava no local e conseguiu escapar.
COBRANÇAS NA SELEÇÃO
Em campo, clube e seleção sempre foram diferentes para Griezmann. Ele funciona à perfeição no 4-4-2 de Diego Simeone, o que contribuiu para a renovação contratual até 2023, possivelmente levando a cláusula de rescisão para mais de € 100 milhões. Na seleção, muitas vezes em um ataque com três homens, parece ter dificuldade para se acomodar. Agora, sofre com cobranças na França para que seu rendimento se iguale ao do Atlético.
— Ele libertou sua mente para a Copa. É uma boa notícia — disse Didier Deschamps, técnico francês. — (Hoje) Ele pode jogar, como muitos outros. Está em boas condições.
— Na Eurocopa, a primeira fase foi assim. Aos poucos, meu nível subiu — disse o jogador.
Hoje, ele tem nova chance de deslanchar. Um empate leva a França ao primeiro lugar do grupo C. A Dinamarca precisa também de um ponto para seguir na Copa.