Simone quase foi batizada como Natalina. A cantora ganharia o nome incomum em homenagem à data de seu nascimento — ela chegou ao mundo nos primeiros sete minutos de um 25 de dezembro —, mas o avô impediu o registro do nome.
— Por causa dele, que foi um anjo em minha vida, escapei dessa — brinca a artista, que nesta sexta-feira completa 71 anos.
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Mas a palavra não a abandonou de vez. De substantivo próprio, o termo “natalina” se transformou num pegajoso adjetivo (quase pejorativo). Impossível fugir disso, ela reconhece. Não à toa, a comemoração do aniversário será embalada por uma live-celebração pelo feriado religioso. Hoje, em transmissão às 20h no YouTube e no canal de TV Arte1, Simone canta clássicos do disco “25 de dezembro”, que há 25 anos consolidou interpretações de sucessos de fim de ano, como “Então, é Natal”, “Boas festas” e “Bate o sino”. Outros temas parecidos estarão no repertório.
— Jamais imaginei a dimensão que “25 de dezembro” teria. Foi um projeto criado de maneira inocente, e que se tornou algo explosivo — diz ela, que idealizou o álbum, com mais de 1,5 milhão de cópias vendidas, ao se deparar com uma prateleira de discos natalinos, de nomes como Frank Sinatra e Nat King Cole, numa loja em Nova York. — Por que John Lennon pode, e eu, não? Eu sei que virei símbolo do Natal, mas não me sinto reduzida a isso. Sou uma pessoa grande. Tenho um repertório bonito.
'Fico nervosa com as lives'
Desde abril, Simone se debruça sobre a extensa discografia. Em lives semanais assistidas, até agora, por cerca de 1 milhão de espectadores, a cantora já revisitou mais de 300 canções eternizadas em sua voz, além de ter se arriscado por letras nunca antes gravadas. Avessa a aplicativos, ela ainda sente dificuldade em manejar smartphones. Por necessidade, porém, precisou se familiarizar com alguns recursos digitais.
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No escritório que faz as vezes de estúdio no apartamento onde a artista mora, em São Conrado — e de onde será transmitido o show de hoje —, é Simone quem ajusta equipamentos técnicos como microfones e caixas de som. Como de praxe, não haverá qualquer equipe por trás das câmeras. Apenas a produtora Darliana e a cachorrinha Lola a acompanharão em casa. E então será assim o Natal (e o aniversário) de Simone: tranquilo, sem muita gente por perto.
— Sinto falta de um abraço, de um olhar carinhoso do público... Certo dia, numa dessas transmissões, abracei o meu tablet. Foi uma babaquice? Pode até ter sido. Mas sou essa pessoa que gosta de encostar e tocar os outros — ela frisa.
Tal qual Caetano
Em isolamento desde abril, Simone faz o possível para manter o corpo ativo. Há dias em que se dedica a exercícios abdominais. Em outros momentos, dá voltas pela casa, contabilizando as caminhadas com tampinhas de garrafa PET. Apesar do “tempo que passa mais rápido e parece nos carregar junto”, ela tem se sentido mais bonita. Sim, a cantora concorda com a afirmação de Caetano Veloso, que, em sua última live, na semana passada, teceu elogios à beleza da colega.
Na foto que abre esta reportagem, ela aparece com o rosto limpo, sem maquiagem:
— Só usei rímel — pondera.
A produtora corrige:
— Não é rímel. É delineador.
Simone faz graça:
— Viu só como meu conhecimento sobre essas coisas é ótimo?