'Xanadu'
Carlos Helí de Almeida
Que tal começar o ano com alguém contando (e cantando) em seu ouvido que é possível realizar seus sonhos, bastando para isso acreditar em seu potencial? O filme de Robert Greenwald (1980) é um amontoado de videoclipes (alguns brilhantes, outros nem tanto) amarrados por um fiapo de história que tem lá seus momentos de breguice irresistível. Nele, Olívia Newton-John (ainda quente do sucesso de “Grease”) interpreta Kira, uma das nove musas do Olimpo que se materializa entre os mortais para inspirar Sonny (Michael Beck), artista em crise criativa. É uma fantasia saltitante que promove a fusão de aspirações e gêneros musicais e que apontaria modismos e comportamentos da década que se iniciava, como patins e roupas de cores berrantes. Google Play e YouTube.
‘Harry e Sally — Feitos um para o outro’
Daniel Schenker
O réveillon marca uma virada decisiva no relacionamento entre Harry e Sally, personagens de Billy Crystal e Meg Ryan nesta comédia romântica de Rob Reiner. É o momento em que finalmente assumem o amor que sentem um pelo outro após tantos desentendimentos. Rever o filme num instante tão difícil quanto o atual pode fazer com que o desgastado slogan “ano novo, vida nova” ganhe sabor especial. A revisita tende a distanciar o espectador das angústias do aqui/agora ao proporcionar um mergulho na nostalgia, potencializado pela trilha sonora repleta de canções emblemáticas, pelas referências cinematográficas, pelas imagens de Nova York e pelo charme do roteiro de Nora Ephron, que entrelaça as jornadas dos protagonistas com breves cenas com casais idosos. Amazon Prime.
‘Um sonho de liberdade’
Mario Abbade
O filme de Frank Darabont (1994) é inspirado em best-seller de Stephen King, que deixa o gênero terror de lado para contar uma história edificante sobre um homem condenado por um crime que não cometeu. Em vez de focar na busca pela liberdade e ficar atrelado às injustiças do sistema, o longa, com Tim Robbins e Morgan Freeman, ilustra o cotidiano do presídio e se concentra nas dificuldades de adaptação ao cárcere. Uma vez que o personagem se conforma com seu destino, firma-se a ideia de que não existe vida fora do presídio. “Um sonho de liberdade” se transforma então numa história de esperança e redenção, com direito a mensagem positiva de fazer chorar de felicidade e capaz de renovar a fé de que a justiça tarda, mas não falha. HBO, Now e YouTube.
‘The forty-year-old version’
Sérgio Rizzo
Tire as crianças da sala para ver a espirituosa e desbocada estreia na direção da atriz, dramaturga e roteirista Radha Blank (da série “Ela quer tudo”, baseada em filme de Spike Lee), que vive uma escritora do Harlem, Nova York. Prestes a completar 40 anos e sofrendo pela morte da mãe, ela experimenta trocar o teatro pelo rap. Mas, pouco à vontade nos dois universos, ela diverte os outros personagens, o espectador e a si mesma com sua inabilidade para fazer concessões. Comédia dramática em nostálgico preto-e-branco, tirando sarro de coisas sérias e com revigorante espírito de “vamos em frente que atrás vem gente”. Netflix.
‘Soul’
Simone Zuccolotto
A nova animação da Disney/Pixar, de Pete Docter (“Monstros S.A”, “Divertida Mente”), segue a fórmula da jornada do herói, trata de questões existenciais e conclui que não precisamos de tantos propósitos na vida, senão vivê-la. Serve para o período pandêmico e para toda existência terrena. Aliás, “Soul” é sobre a vida aqui na Terra e acolá no Além. É a história de um professor (na voz de Jamie Foxx) que queria ser músico. Quando consegue a chance da sua vida, tocar numa banda de jazz, é atravessado pela morte. No Além, conhece uma alma que não quer encarnar. Essa é deixa para várias questões físicas e metafísicas. É programa para toda a família munida de caixas de lenço de papel. Disney +. Leia a critica.
‘Vinicius’
Susana Schild
É melhor ser alegre que ser triste, pregava Vinicius de Moraes, nosso imenso poetinha, homem plural que deixou um dos legados mais ricos do cenário cultural brasileiro. Sob regência afinada de Miguel Faria Jr, podemos degustar, sempre com um sorriso, a relação deste criador incomparável com parceiros, amigos, admiradores, amores, familiares. É em tom maior que o ser humano Vinicius aparece em sua glória cotidiana. Sem medo de errar, desfrutar “Vinicius”(2005) é uma excelente forma de começar o ano. Como disse Ferreira Gullar, “Vinicius ajudou o brasileiro a ser mais feliz”. Impossível não concordar. Netflix.
‘O vento nos levará’
Ruy Gardnier
Uma equipe de telejornal chega num remoto povoado do Irã para filmar os rituais fúnebres locais. Mas a anciã que deveria morrer para os ritos acontecerem permanece viva por dias, o que obriga a equipe a ficar esperando. Essa obra-prima de Abbas Kiarostami, Grande Prêmio do Júri em Veneza 99, trabalha magnificamente o descompasso entre a temporalidade da vida prática e o aberto da existência, nos fazendo abrir os olhos para a beleza e as imprevisibilidades da vida. Telecineplay.