RIO - Faz pelo menos quatro anos que a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, acorda e dorme com uma questão na cabeça: como convencer os adultos a se vacinar? Passada a infância, as pessoas dificilmente voltam aos postos de saúde. Mas, hoje, é justamente a população adulta que preocupa: muitos dos que têm entre 18 e 50 anos não tiveram doenças como sarampo ou caxumba, nem tomaram todas as doses necessárias para se proteger delas. Logo, diferentemente de crianças , que em sua maioria estão vacinadas, e dos idosos, que estão imunizados ao ter essas enfermidades, a população adulta representa uma “janela” perigosa.
— Isso faz deles uma porta de entrada para epidemias — diz Isabella. — No caso do sarampo, por exemplo, estima-se que, entre os adultos, a cobertura seja de somente 5%. O cenário é de uma catástrofe em potencial.
A vacina contra o sarampo foi incluída no calendário nacional de imunizações na década de 1980, mas, até 1992, apenas uma dose era aplicada. Portanto, é provável que só quem nasceu depois desse ano tenha recebido a segunda dose — que garante eficácia de 97%. Assim como nesse caso, a imunização para outras doenças também passou por modificações, seja no número de doses, seja na idade para a aplicação. Além disso, muitas vacinas sequer existiam há alguns anos.
— Às vezes, o indivíduo fez o esquema completo de vacinação quando era criança. Mas isso foi há 30, 40 anos. É preciso estar em dia com o que existe hoje — destaca a médica.
A preocupação com o tema é tão grande que a SBIm criou, há três meses, um grupo multidisciplinar para discutir imunização entre os adultos, com profissionais de várias especialidades.
— Os pediatras, hoje, são os únicos que falam sobre vacinas. É preciso que isso seja falado na pneumologia, na cardiologia, na geriatria — explica Isabella. — O que faz uma pessoa se vacinar é a recomendação médica. Se o médico não informa seu paciente adulto, ele não vai espontaneamente buscar um posto ou clínica.
Uma pesquisa conduzida pelo instituto Ipsos MORI, encomendada pela farmacêutica GSK, mostra que, no Brasil, 64% dos adultos não estão com a vacinação totalmente em dia.
Bárbara Furtado, que é gerente médica de vacinas da GSK, lembra que muitas dessas doenças podem ser graves para adultos e, especialmente, para gestantes.
— O vírus da zika afetou de forma terrível os bebês de tantas grávidas, mas não podemos esquecer que a rubéola já fazia isso muito tempo antes.
Veja abaixo as vacinas recomendadas para adultos:
Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
Duas doses, com intervalo de um mês. A partir dos 50 anos, especialistas afirmam que não é mais necessário tomar essa vacina, porque a esmagadora maioria das pessoas nessa faixa etária já tiveram a doença na infância. Para mulheres que planejam ter filhos e nunca contraíram a doença, nem foram imunizadas, é preciso tomar a vacina até 30 dias antes de começar a tentar engravidar.
Hepatite A*
Duas doses, com intervalo de seis meses.
Hepatite B
Três doses. Intervalo de um mês entre a primeira e a segunda, e intervalo de cinco meses entre a segunda e a terceira.
Dupla bacteriana do tipo adulto (difteria e tétano) - dT
Três doses com intervalo de dois meses entre elas.
Tríplice bacteriana do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche) – dTpa*
Para quem puder pagar em clínicas privadas, o ideal é, em vez de tomar três doses da dT, receber uma dose da dTpa e duas da dT. É recomendado, também, reforço com dTpa a cada dez anos.
Influenza (gripe)
Dose anual.
Febre amarela
Uma dose por toda a vida.
Herpes Zóster*
Uma dose. Licenciada no Brasil a partir dos 50 anos, ficando a critério médico sua recomendação a partir dessa idade.
HPV
Três doses. Após a primeira, esperar intervalo de um a dois meses e tomar a terceira seis meses depois da primeira. Existem dois tipos de vacina: a HPV4, licenciada para meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade, e meninos e homens de 9 a 26 anos; e a HPV2, licenciada para meninas e mulheres a partir dos 9 anos de idade.
*Vacina disponível apenas em clínicas particulares.