Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo quinta, 23 de agosto de 2018

RORAIMA ABANDONADA PELO BRASIL

Roraima, abandonada pelo Brasil

O que está acontecendo ali é uma confluência de misérias e de incompetências

Cora Rónai

 

Tive vergonha de ser brasileira quando vi o vídeo dos refugiados venezuelanos sendo expulsos de Roraima ao som do Hino Nacional; mas menos por causa dos brasileiros que os tocavam da sua cidade do que por causa do nosso atual governo, incompetente e omisso, e dos nossos governos passados, igualmente incompetentes, e ainda por cima coniventes e cúmplices da tragédia da Venezuela.

Não conheço Pacaraima, nem os brasileiros de Pacaraima. Não acredito que eles sejam piores do que o resto de nós, brasileiros, nem acredito que sejam particularmente xenófobos — habitantes de cidades de fronteira, em geral, tendem a se acostumar desde cedo com o vaivém de estrangeiros.

Eles apenas não aguentam mais.

É fácil se horrorizar com o seu comportamento do conforto das nossas salas, entre um cafezinho e uma água gelada — até porque o que fizeram é mesmo horripilante, e contraria tudo o que sentimos, tudo o que aprendemos.

É fácil julgá-los nas redes sociais, ignorando as suas circunstâncias.

Mas imaginem uma cidade de dez mil habitantes, com o IDH do Iraque, atravessando, como o resto do país atravessa, uma das maiores crises da sua História; e imaginem essa cidade com quatro mil pessoas a mais, vivendo subnutridas e doentes nas ruas, desesperadas, sem perspectivas, sem trabalho, sem alimento.

É um caldeirão em ponto de fervura, uma tragédia pronta para acontecer.

A Venezuela não se desconstruiu em um dia; os refugiados não chegaram todos ontem, no avião das 19h30m. Eles não são um problema de Roraima, são um problema do Brasil inteiro — que, aliás, até o fim dos tempos, vai ter que conviver com o carma de ter apoiado Chávez e Maduro. A crise humanitária na região Norte vem se agravando ano após ano, mas o governo, agora, está mais preocupado em salvar a própria pele, como lembrou Marina Silva, do que em governar.

O que está acontecendo em Roraima é uma confluência de misérias e de incompetências em todos os níveis. A governadora do estado diz que o governo federal está ausente, e tem deixado Roraima entregue à própria sorte; o governo federal diz que envia recursos, mas que o estado não sabe gerenciá-los. Os dois têm razão.

Enquanto isso, mais de 500 venezuelanos chegam por dia a um estado que mal dá conta da sua própria população; pouco mais de 800 foram encaminhados até agora a outros estados brasileiros, o que é uma piada diante do tamanho do nosso país e da quantidade de imigrantes.

Roraimenses desencantados e ressentidos explicam, nas redes sociais, que os venezuelanos “exportados” para os demais estados têm curso superior e passaporte, atestado de vacinação em dia e nada consta; em Roraima ficariam os outros, os mais fragilizados, os doentes, os que já passaram pela polícia, os que simplesmente não têm forças ou recursos para seguir em frente, uma vasta humanidade confusa, traumatizada e desassistida.

Não é preciso ter muita imaginação para entender o que aconteceu em Pacaraima; mas é preciso ter uma imaginação fértil para compreender o grau de desespero em que se encontra quem acha que, fugindo para um lugar pobre e abandonado como Pacaraima, terá uma vida melhor.


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