“Bobo da Corte” era o nome que se dava ao “funcionário” contratado pelas cortes europeias, na Idade Média, com a finalidade de divertir o rei, a rainha e seu séquito.
Como um palhaço, era considerado cômico, mas, muitas vezes, suas brincadeiras eram desagradáveis, pois apontavam de forma grosseira os defeitos da sociedade.
Esse “funcionário” era o único que podia fazer críticas irônicas ao rei, sem correr o risco de ser punido. Também participava dos banquetes do reino. Usava uniformes coloridos, espalhafatosos, e chapéus bizarros, com pontas e alguns chocalhos amarrados.
Além de fazer a corte rir com palhaçadas, o Bobo da Corte também declamava poesias, tocava algum instrumento, dançava, cantava, fazia mímicas e malabarismos. Era o cerimonialista das festas. Sua característica principal era o exibicionismo e o exagero, tanto nos trajes usados, como nos gestos e palavras.
Esses plebeus, pagos para divertir a nobreza e a realeza, não eram loucos nem tinham deformidades físicas. Também não faziam parte do grupo de corcundas e anões, que muitas cortes adotavam como circo particular.
Para alguns estudiosos, o “Bobo da Corte”, de bobo só tinha o nome.
Na opinião do grande filósofo do século XVI, Erasmo de Rotterdan, o Bobo tinha, paralelamente, um papel principal, oculto, na Corte: Era ele quem contava ao rei o que ninguém queria que o rei ficasse sabendo. Era o espelho de todo o grotesco dos hábitos da Corte. Era uma espécie de “dedo duro” ou informante, com livre acesso ao rei.
A figura do Bobo da Corte sempre esteve associada ao divertimento, palhaçadas, e ao prazer que davam ao rei suas piadas e brincadeiras.
Usando-se a caracterização do Bobo da Corte, foi criada a décima terceira carta do baralho, o Curinga, a carta que pode alterar o jogo completamente.
Entre as habilidades do Bobo da Corte, estava ainda a de imitar ou “arremedar” as atitudes e gestos faciais e corporais das pessoas do reino. Também contava histórias por ele criadas, cheias de disparates e indiretas, incitando a reflexão das pessoas para a incoerência do comportamento dos poderosos.
O gênio do teatro inglês, William Shakespeare (1564 – 1616), deu destaque à figura dos bobos, dando a eles papeis de grande importância em sua obra. Nas suas peças “Rei Lear” e “A Noite de Reis”, o autor elevou a posição do bobo junto aos poderosos, com interpretações de papeis de grande importância e destaque. O bobo, nessas peças, é o personagem que se sobressai pela esperteza e inteligência. Pode fazer críticas aos próprios reis, com comentários picantes, mas com os quais o público vai às gargalhadas.
No baralho, o Bobo da Corte é representado pelo Curinga, a carta que pode alterar o jogo completamente.
A figura do Bobo da Corte existiu até o século XVII.
O vocábulo “bobo” consta no MINIDICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, de Ruth Rocha, como “Palhaço que divertia os nobres”.
Nos tempos atuais, a expressão “bobo da corte” é usada de forma pejorativa. Caracteriza alguém, sem conteúdo ou sem seriedade, uma figura tola e hilária, que não pode ser levada a sério.