Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do DIB quarta, 22 de novembro de 2023

MUSSUM, UM SENHOR FILMIS! (CRÔNICA DO COLUNISTA SACRISTÃO ANTÔNIO CARLOS DIB)

 

Mussum, um senhor filmis!

A. C. Dib

 

 

 

 

 

 

                   Boa pedida do momento é conhecer um pouco mais da história de um dos mais queridos sambistas e comediantes do Brasil: Antônio Carlos Bernardes Gomes, o saudoso Mussum.

                   Para os que dançaram o samba de letras leves, bem-humoradas e cadência ágil, vibrante do grupo Os Originais do Samba e se escangalharam de rir com o pastelão de Os Trapalhões, Mussum, o filmis proporciona deliciosa viagem no tempo, de volta aos anos sessenta, setenta e oitenta, auge do conjunto de samba e da divertidíssima trupe de comediantes. Para os que não viveram tal experiência — Mussum partiu em 1994, aos 53 anos — fica a oportunidade de conhecer a vida daquele que marcou uma geração — a minha — levando aos lares brasileiros alegria contagiante na música e em humor ingênuo, despreocupado, mas praticado com maestria e talento visceral.

                   É paradoxal a vida pessoal e o humor de Mussum — a clássica situação do gênio da comédia que a todos faz rir, mas com história de vida próxima do dramalhão mexicano, ou “aquele que de todos arranca gargalhadas, chorando por dentro”. Menino paupérrimo do subúrbio carioca, filho de empregada doméstica, sem pai presente, a vida de Mussum é retratada de sua infância humilde ao auge do sucesso e da fama, com especial atenção à estreita relação entre ele e sua mãe (que seria sua principal referência e influenciadora). Imperando por toda a existência do memorável comediante, o amor entre ambos contagia e emociona o espectador.

                   Desprovida de instrução, mas temperada e diplomada na escola da vida, dona Malvina Bernardes Gomes é apresentada como dama de rígidos princípios morais, batalhadora, segura de si, dedicada aos filhos e aos ideais, enérgica e do tipo dominadora. Nutrindo profunda aversão ao “mundo do samba” — que associava a bebedeiras, boemia, vida dissoluta e malandragem — cuidou de proporcionar ao filho Antônio Carlos aquilo de que não dispôs: formação escolar. Sonhava para ele carreira de doutor, sendo grande seu orgulho quando o rebento ingressou na Força Aérea Brasileira. Mas, inexoravelmente, o chamado do samba e da arte terminou por sobressair no coração romântico do jovem — inevitável a conclusão de que ninguém segura o talento de berço!

                   Comove, ainda, o conflito entre a amada carreira de sambista nos Originais do Samba e a de humorista, ao lado de Renato Aragão, Dedé Santana e Mauro Gonçalves, o Zacarias. Tal conflito atinge seu clímax — igualmente o clímax da história — quando a escolha se mostra inevitável.

                   A reconstituição de época apresenta-se impecável, a narrativa segue límpida escalada cronológica, explorando satisfatoriamente o flashback, mas, em boa medida, o elenco é o que mais confere prestígio e qualidade ao filme. Aílton Graça, interpretando Mussum em sua terceira fase (próximo da maturidade), confirma o que já revelara na televisão: ator versátil, experiente e de amplos recursos cênicos. Primoroso o estudo que fez de Mussum. Por sua caracterização, trejeitos, expressões, chega a ser pictórica a semelhança com o retratado (chegou a fazer botox na região dos olhos para melhor arregalá-los, conforme revelou no programa Conversa com Bial). Digna de nota, ainda, a atuação das atrizes que fazem a mãe de Mussum: a consagrada Neusa Borges e Cacau Protásio (a mãe em sua primeira fase) que, muito conhecida em programas humorísticos, revela talento análogo para o drama (a cena em que o menino ensina a mãe a escrever seu nome arranca lágrimas dos olhos da atriz e do espectador).

                   A trajetória de Mussum se confunde com a história da televisão no Brasil, em seus primórdios. Novelas e humorísticos transmitidos ao vivo, com a Rede Globo dando seus primeiros e decisivos passos, firmando-se como potência televisiva. Em época de inexistência do conceito de “politicamente correto”, as piadas, gaiatices, motes e expressões escandalizariam os sensíveis e exigentes partidários da atual filosofia (Synbranchus marmoratus, peixe-cobra ou enguia-d’água-doce, também chamado de mussum “é um peixe preto e liso”, nas palavras de Grande Otelo, a quem Mussum deve o apelido).

                            Recordar os anos setenta e oitenta no Brasil é recordar Os Trapalhões, infalivelmente. Marca de amor indelével deixaram nos corações dos brasileiros. O início de noite dominical era dedicado aos Trapalhões. Um domingo sem os seus trambolhões, pontapés, cacetadas, requebros, caretas e piruetas não era domingo. Em minha casa: missa, almoço em família, siesta, futebol e Os Trapalhões, eis o domingo feliz. Na segunda feira lá estávamos todos repetindo aqueles saborosos bordões: Ô pisit! Bicho bom! Cacildis! Quero mé! Eu sou espada! Negão é o seu pasadis!

                            Seus filmes, de grandes bilheterias, geralmente lançados pela época das férias escolares, lotavam as salas de cinema. Minha irmã assistiu à comédia musical Os Saltimbancos Trapalhões uma dezena de vezes.

                            Mussum é o paradigma desse tempo em que não se precisava de muito para ser feliz, tempo de riso solto e compartilhado. Justíssima a homenagem.

 


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