RIO - Um carro construído exclusivamente para um pequeno príncipe aprender a dirigir. Um outro cujo valor equivalia a um oitavo do orçamento nacional. E mais um, presenteado por Hitler. Essas são algumas das histórias contadas no novo Museu Histórico do Automóvel Irã, que vem atraindo a atenção pela exposição dos veículos de luxo que um dia pertenceram à família real persa.
A frota, de dar inveja ao qualquer magnata de hoje em dia, foi um dos tesouros mais bem guardados do país desde que a Revolução Iraniana, de 1979, tirou de circulação a dinastia do xá Mohammad Reza Pahlavi. Centenas de veículos de luxo ficaram armazenados em depósitos, sob os cuidados da organização chamada Bonyad Mostazafan, ou "Fundação dos Oprimidos", responsável pelo confisco das propriedades da família real.
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Agora, 55 carros, dois ônibus e quatro motocicletas — uma das quais já foi dirigida por Farah Diba, a última imperatriz e viúva do xá — estão expostos no novo museu, que abriu as portas há algumas semanas, num espaço na zona industrial de Teerã, perto de onde funcionam as fábricas de automóveis da capital. Mais de uma centena de veículos ainda estão sendo restaurados, e podem fazer parte da mostra no futuro.
— Consideramos que esses carros são parte da herança cultural iraniana. Eles pertencem ao povo, não à família real — disse o diretor do museu, Mohammed Faal, à agência de notícias AFP. — Não importa quem é o dono desses carros, eles pertencem à nação iraniana, não a um rei em particular. Adoramos admirar a beleza do carro levando em consideração sua história e apreciamos os esforços de seus fabricantes e designers.
A atração pela opulência de uma família real tão menosprezada pelo atual regime tem se refletido em números. Desde sua inauguração, há cerca de dois meses, aproximadamente 20 mil pessoas já foram ver de perto a exposição, um número maior do que o de visitantes mensais do Museu Nacional do Irã, o mais importante do país.
As pessoas querem apreciar carros que são verdadeiras obras de arte. Como é o caso do Pierce-Arrow "Modelo A", de 1930. Na época, quando foi comprado pelo primeiro monarca da dinastia, Reza Xá Pahlavi, era o carro mais caro fabricado nos Estados Unidos. O preço pago foi de US$ 30 mil, o equivalente a um oitavo do orçamento do Estado do Irã na época.
Com seu para-choque e seus faróis dianteiros folheados a ouro, e brasão imperial fixado nas portas, o carro foi usado pelo xá Mohammad Reza durante cerimônias, incluindo seu casamento com sua segunda esposa Soraya e no funeral de seu pai Reza Xá.
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Luxo também não falta no Rolls-Royce Silver Ghost preto, fabricado em 1922, que foi objeto de uma inusitada disputa judicial nos primeiros meses após a revolução. Seis meses antes da derrubada da monarquia pelo regime que atualmente é comandado pelos aiatolás, o carro havia sido enviado para à Rolls-Royce para reparos. Do exílio, a família Pahlavi exigiu que a fábrica devolvesse o automóvel a eles. Mas um tribunal britânico decidiu que o veículo pertencia ao Estado iraniano, e determinou que ele voltasse para Teerã.
Outro item bastante popular da coleção é o Mercedes 500 K Autobahn Kurier 1934, que o então chanceler alemão Adolf Hitler deu de presente para Reza Xá. Mas o carro não é valioso exatamente por isso, mas porque é o último de seu modelo ainda existente. Os outros cinco fabricados pela Mercedes foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial.
Segundo Faal, a montadora chegou a pedir ao governo iraniano que cedesse o carro para seu museu, na Alemanha. Como ele está em exposição em Teerã, chaga-se à conclusão de que a resposta foi não.
Da indústria automobilística germânica saiu outra peça rara da coleção iraniana, o MPV Tehran. Esse monoposto esportivo, pintado de laranja e preto, foi fabricado em 1972 por uma improvável união entre Mercedes, Porsche e Volkswagen. As montadoras, querendo agradar o xá persa, decidiram criar um modelo único, especialmente para o príncipe herdeiro, Reza, aprender a dirigir aos 12 anos de idade.
Entre as inovações do carro está o fato de ele ter duas chaves. Uma, feita de prata, limita o motor potente a suaves 30 quilômetros por hora. A outra, em ouro, permite que o veículo gire a 170 km / h. Uma potência que só foi freada pelos aiatolás.