Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 26 de dezembro de 2020

MARTINHO DA VILA: SAMBISTA DÁ RECEIA DA FELICIDADE

 

Martinho da Vila dá receita da felicidade: 'Não curto tristeza, deleto tudo e fim de festa'

Consagrado como um mestre da cultura brasileira, sambista lança disco e se prepara para virar enredo da Unidos de Vila Isabel em 2021
 
Martinho acaba de lançar o álbum 'Rio: Só vendo a vista' Foto: Marcos Hermes / Infoglobo
Martinho acaba de lançar o álbum 'Rio: Só vendo a vista' Foto: Marcos Hermes / Infoglobo

— Eu não costumo me analisar. Deixo isso pra vocês, os especialistas — brinca o bamba, soltando uma risada entre uma frase e outra.

Homenagem:'Uma das maiores emoções da vida', diz Martinho da Vila, enredo da Vila Isabel em 2021

Aos 82 anos, com o disco “Rio: Só vendo a vista” recém lançado e prestes a ser homenageado pela sua escola de samba do coração, a Unidos de Vila Isabel, Martinho é visto por intelectuais e artistas como um dos maiores mentores da cultura brasileira. A carnavalesca Rosa Magalhães, campeã do carnaval de 2013 com o enredo composto pelo cantor, destaca um ensinamento do bamba que tem seguido neste ano tão conturbado para a cidade do Rio de Janeiro.

—Atualmente, dadas as circunstâncias, fico com “Canta canta minha gente... A vida vai melhorar...” — diz Rosa citando trechos da famosa canção do compositor, e completando com uma definição sobre sua sabedoria: — Ele parece um adivinho.

55º álbum da discografia do músico, "Rio: Só vendo a vista" é repleto dessas "aulas" de Martinho. Pode-se aprender por exemplo sobre a história do Rio de Janeiro na canção "Vila Isabel anos 30", que evoca cenas do bairro de Noel Rosa na década de 1930. Ou então, na canção "Ginga do amor", tomar notas da lição que o bamba mais gosta de cantar — a importância de um olhar afirmativo pra vida: "Mesmo sem malemolência / O negócio é sambar", diz um trecho da letra.

Martinho será o tema do enredo da Unidos de Vila Isabel em 2021 Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo
Martinho será o tema do enredo da Unidos de Vila Isabel em 2021 Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo

 

Essa busca pela alegria mesmo na adversidade é destacada pelo professor e historiador Luiz Antonio Simas dno texto de apresentação do álbum. Segundo ele, Martinho é detentor da sabedoria definida numa frase do sambista Beto Sem Braço: “o que espanta miséria é festa”. Como sintetiza Simas, a "lição do mestre Martinho é um candeeiro que, aceso no respeito ao passado, ilumina o presente e aponta o caminho do futuro. Por aqui, afinal, não se faz festa porque a vida é fácil, mas pela razão inversa”.

'Cronista da história carioca'

As canções do compositor da Vila Isabel são vistas pelo poeta e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Geraldo Carneiro como verdadeiras aulas de história. E não só da “História” oficial, dos livros, mas da sabedoria popular que circula dos botequins às esquinas, igrejas e terreiros.

— Além de sambista, Martinho é um dos grandes cronistas da história carioca. Ele é da estirpe de autores como Manuel Antonio de Almeida. E tem essa generosidade de não expressar somente sua própria subjetividade, mas de recolher e contar a visão do olhar dos outros — diz Geraldinho.

Artigo: Martinho da Vila, um sambista que pensa o Brasil

Segundo Martinho, mais do que dos livros, a sabedoria acumulada que ele carrega vem da sua “vivência”. É da fonte do léxico popular que ele bebe para buscar inspiração. São imagens usadas, por exemplo, por sua mãe (“uma analfabeta culta”, em suas palavras), que dizia pra ele evitar dívidas, pois cada pessoa que você deve é uma “caveira” que passa a te assustar – mote esse que virou o samba “Caveira”, gravado em seu novo disco.

Geraldo Carneiro dá um exemplo sobre como funciona a filosofia-bamba do mestre da Vila. Recentemente, jogando conversa fora com o sambista por telefone, Geraldinho ouviu a seguinte tirada: “Devo ter feito alguma coisa errada para estar tanto tempo trancado em casa”, disse Martinho, em referência ao isolamento social, com seu incansável espírito de transformar as dificuldades em riso e alegria.

— Na hora senti que aquela frase dava samba – conta Carneiro, aos risos. — E vai ser esse o tema da nossa música nova.

Segredo da felicidade

Aliás, é a última parceria de Martinho com o poeta que batiza o disco recém-lançado do bamba de Vila Isabel, “Rio: Só vendo a vista”. Inspirado no Rio de Janeiro, o músico apresenta em canções inéditas, como “Umbanda nossa”, e regravações, como “Menina de rua”, as belezas e mazelas da cidade.

— O Rio as vezes é um grande abacaxi — diz Martinho da Vila citando um verso da parceria com Carneiro — Você vê esse prefeito (Marcelo Crivella), ele é um ladrão daqueles bem organizados. Mas não se organizou tão bem.

Recolhido em seu apartamento na Barra da Tijuca, o compositor aguarda ansioso pela vacinação contra a Covid-19 para finalmente “voltar pra quadra da Vila Isabel, parar num bar pra tomar um chope e abraçar muito meus amigos”. Ele prevê uma explosão para o carnaval pós-pandemia (“dizem que o carnaval depois da gripe espanhola foi fortíssimo”).

E a receita para manter a esperança, o bom humor e as risadas em dia, ele garante que é simples: basta não pensar em coisas negativas.

— Se alguém me pergunta “Martinho você já teve dor de barriga?” eu preciso dar uma parada pra pensar. E não é porque nunca tive, é claro que sim. Mas eu não curto as desventuras, as tristezas, as dores, eu deleto tudo e fim de festa — ensina o sambista.


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros