Quando se mudou para uma casa em Laranjeiras, a pesquisadora e documentarista Marisa Furtado se deparou com uma enorme jaqueira no quintal. Além da sombra que oferecia e os pássaros que cativava, a árvore rendia meia tonelada de jaca por safra. Foi a partir dessa convivência que ela começou a observar outras características da espécie. “A jaca é a expressão da coletividade: é difícil de colher e carregá-la sem ajuda e quase impossível comê-la sozinha. Uma fruta para se curtir em grupo. Então, pensei em um projeto coletivo sobre ela”, lembra Marisa.
Em 2015 ela criou, ao lado do marido, o arquiteto, paisagista urbano e professor Pedro Lobão, a empresa de educação ambiental Mão na Jaca Permacultura e Gastronomia, focada em mapear jaqueiras, ensinar receitas usando a jaca verde em pratos salgados, pesquisar mais sobre a espécie e, claro, mostrar que é uma bobagem revirar o olho para ela. “Há um preconceito com a jaqueira, considerada uma espécie invasora. Hoje, a política pública é de remoção e anelamento, uma forma de matar a árvore por asfixia”, conta. E também muitos não curtem a fruta. “Isso porque ela foi trazida para o Brasil para alimentar os povos escravizados, além de animais, e até hoje muitos guardam um ranço”, afirma. Apesar de a jaca já fazer parte dos cardápios de restaurantes veganos, como .Org, de Tati Lund, ainda é uma fruta que, de fato, não faz parte das compras da maioria dos cariocas e muito menos aparece entre as preferidas, apesar da enorme abundância no Rio. “Nossa meta é que a jaca verde esteja na mesa de todos os brasileiros. Desejo chegar nas merendas das escolas”, avisa ela, que também tem um trabalho com suas sementes, semelhantes a castanhas portuguesas quando assadas.
Para diminuir o preconceito, Marisa usa seu conhecimento de documentarista para mostrar um outro lado da fruta. “Existe uma enorme produção de jaca na cidade. Quantidade suficiente para combater a fome, estimular pequenos empreendedores, tanto na área da gastronomia quanto na formação de manejadores da floresta. Minha ideia é aproximar as pessoas da floresta e mostrar a história da fruta antes de ela chegar ao prato”, explica. São videoaulas e uma websérie com entrevistas com geógrafos, biólogos, candomblecistas, chefs, nutricionistas e agricultores urbanos sobre a jaca no Brasil. Além disso, há o passo a passo de receitas, que vão de shake a lombo da fruta. Tudo está disponível no site maonajaca.com.
Um final feliz para as tantas que brotam no Rio.