Na reta final de 2020, Juliana Lohmann está dedicada a colocar na rua o site Mulher Manifesta, que reunirá depoimentos de mulheres que viveram situações de violência. A ideia surgiu a partir das mensagens que ela recebeu em julho deste ano, após revelar um estupro e outros abusos.
- Estou em processo de finalização da estrutura visual do site. A gente vai ter não só os relatos, mas também conteúdos produzidos pela advogada Marina Ruzzi, falando sobre os ciclos da violência e a evolução das leis, e textos informativos da psicóloga Maria Migliari. A previsão é que em meados de janeiro esteja no ar. O Mulher Manifesta pode ser um ponto de encontro ou de retorno, no sentido de nós, mulheres, voltarmos para nós mesmas, para nossa potência e para nosso poder.
Juliana conta que, após tornar esses fatos públicos, recebeu um grande apoio. Mas também viu comentários sobre culpa da vítima e críticas à demora para falar:
- É triste, mas há pessoas que pensam isso. Às vezes a culpa nem é delas. Elas reproduzem coisas que foram ensinadas. Essas pessoas mostram a saúde do machismo. Ele está vivendo plenamente. Quando a gente bate no sistema, ele não vai ficar tranquilinho. Vai voltar com força.
A atriz, de 31 anos, afirma que a decisão de trazer o passado à tona é parte de um processo de autoconhecimento. Processo esse que também envolve, entre outras questões, a aceitação do próprio corpo:
- Desde que comecei a formar corpo, com 15, 16 anos, as pessoas já falavam para emagrecer. Isso aconteceu em vários trabalhos. Era muito usado o termo "fecha a boca". Acho muito simbólico, tem duas conotações. A mulher sempre tendo que fechar a boca para atingir seus objetivos. Lembro que uma vez emagreci cinco quilos em dez dias. Fiquei tão mal. Tinha pesadelos de fome. Na época, eu só precisava emagrecer o quanto antes para trabalhar. Hoje penso que era absurdo me submeter àquilo.
Para Juliana, essa mentalidade no ambiente profissional vem mudando:
- Muita coisa tem sido discutida ultimamente. Muitos corpos vêm sendo vistos. Eu vivia angustiada e insegura, achando que não ia pegar trabalho porque estava com cinco quilos a mais. Agora não penso mais nisso. Se eu quiser emagrecer, vai ser por uma coisa positiva, porque comecei a me alimentar de tal maneira e fluiu naturalmente. Não porque é uma obrigação profissional. Claro que, se surgir uma personagem que peça, sim. Mas estamos falando meramente de estética.
Juliana defende outras quebras de padrões. Por exemplo, em relação à depilação. Ela já surgiu em fotos no Instagram com pelos nas axilas para levantar um debate:
- Penso muito sobre como falar desses temas para pessoas que não estão habituadas a eles. Como transmitir uma mensagem, uma ação de liberdade, de reflexão. Eu não quero estimular as mulheres a não se depilarem. Quero dizer para elas que é uma escolha. Não cresci com essa escolha. Tinha que estar sempre depilada. Só fui entender que era uma opção recentemente. Foi superlegal me ver dessa forma, me olhar no espelho e ter outro reconhecimento imagético. E ampliar o olhar sobre o que é belo. Existe esse padrão de feminilidade no qual você precisa performar. Isso não só é opressor, como deixa a gente sem entender que é possível buscar outros caminhos.