Jambu, tucupi, maniçoba, tacacá, bacuri, pirarucu. Com influências indígenas e portuguesas, a culinária paraense é uma das mais ricas e originais do país. Desde 2015, a capital Belém detém o título de Cidade Criativa da Gastronomia, concedido pela Unesco, integrando uma lista de cidades que buscam desenvolvimento de maneira sustentável e socialmente justa. Muito além do açaí, já velho conhecido dos cariocas, os sabores do Norte têm conquistado cada vez mais adeptos. Nos últimos tempos, a cidade ganhou novos representantes dessa cozinha e casas tradicionais deram uma bela renovada.
- Por ser uma comida muito bem temperada, as pessoas acabam descobrindo outros sabores e temperos que não têm muito hábito de comer. A pimentinha de cheiro e a chicória, que são ervas nossas, deixam o prato muito saboroso. É uma comida de muito afeto. Acho que é daí que vem o sucesso – diz Adriana Veloso, cozinheira e sócia do Pescados na Brasa, boteco no Riachuelo que vem atraindo gente de todos os cantos da cidade e celebra dois anos este fim de semana com uma festa na rua.
Dois clássicos dessa gastronomia, o Arataca, fundado em 1955 em Copacabana, e o Tacacá do Norte, desde 1973 no Flamengo, expandiram recentemente seus domínios para outros bairros ou em espaços ampliados, com ares mais joviais e novidades nos cardápios. Os sócios do segundo abriram ainda a Blaus, sorveteria que prima pelas frutas amazônicas e daquela região.
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Conheça abaixo seis endereços onde provar as delícias típicas da região.
Arataca
Há 66 anos em Copacabana, o pequeno ponto de ambiente simples e mesinhas na calçada ganhou uma filial mais arrojada no Jardim Botânico. Misto de empório e restaurante com sabores do Pará e da Amazônia, a casa de teto de sapê e decoração rústica, com peças marajoaras nas paredes, é comandada pelos irmãos Matheus e Luccas, netos do fundador Acir Rodrigues, que faleceu este ano de Covid-19. Aviador, o mineiro de Barbacena, apaixonado pelos sabores daquela região, foi um dos primeiros a trazer ao Rio a cerveja e o refrigerante Cerpa. No novo endereço, delícias como casquinha de caranguejo (R$ 28,00), filhote com molho de camarão rosa, farofa e chips de macaxeira (R$ 65,00, individual, ou R$ 110,00, para dois), e pato no tucupi (R$ 55,00 ou R$ 100, para dois), ganham a companhia de cervejas artesanais e drinques com frutas e especiarias amazônicas, assinados por Jonny Paes. O agreste é um gim-tônica com suco de cupuaçu, limão siciliano e hortelã (a partir de R$ 25,00, com gim Arapuru). A partir do dia 15, entra em cartaz, toda sexta, um festival da Amazônia, com pedidas como bolinho de pirarucu (R$ 35,00) e torta de cupuaçu (R$ 18,00). Na lojinha, logo na entrada, há bombons de cupuaçu, açaí e bacuri, cajuína, doces e cachaça de jambu.
Rua Lopes Quintas, 147, Jardim Botânico – 3280-0392. Diariamente, das 11h às 22h.
Amazônia Soul
O cardápio da lanchonete e as prateleiras da lojinha são abastecidas por ingredientes trazidos do Norte por Eduardo Castilho, filho do criador da marca, o publicitário paraense Carlos Castilho Jr. Além do autêntico açaí, orgânico e sem conservantes (R$ 16,90, 180g), há sugestões como pastel de queijo com jambu (R$ 12,90) e o tradicional tacacá, feito com goma de tapioca, tucupi, jambu e camarão seco (R$ 31,90). Para um passeio pelos sabores da região, o menu degustação da Amazônia reúne caranguejo society, vatapá e maniçoba, espécie de feijoada paraense feita com folha de maniva (folha da mandioca brava) cozida por 7 dias, no lugar do feijão (R$ 77,90). O empório ganhou recentemente uma expansão, com reforço de novas cachaças de jambu da Amazônia, geleias de cupuaçu e bacuri, biscoitos de castanha e farinhas especiais.
Rua Teixeira de Melo, 37, Ipanema - 2247-1028. Diariamente, do meio-dia às 21h.
ASA Açaí
Filho de Ana Castilho, chef e dona do Aprazível, o geógrafo e músico João Hermeto percorre a região amazônica mapeando cooperativas e associações familiares agroflorestais, de onde se originam os insumos que servem de base às receitas. O açaí, adoçado naturalmente (R$ 14,50, o pequeno) pode ser saboreado com a granola da casa, desenvolvida com engenheiros da UFRJ com treze ingredientes. A tapioca é preparada com recheios como caranguejo ao tamarindo (R$ 23,00), camarão com fruta pupunha (R$ 26,00) e banana com chocolate do Xingu, canela e paçoca de baru (R$ 19,00). Há pratos mais consistentes, como a caldeirada de pirarucu com tucupi e fruta pupunha, finalizada com leite de castanha de caju e servida com arroz de coco e farofa crocante de dendê (R$ 55,00). Em fevereiro, a casa ganhou um novo ponto na Barra.
Rua Jardim Botânico, 67, Jardim Botânico – 3563-9179 e 98849-4541. Diariamente, das 8h às 20h. Avenida das Américas, 8445 (loja 108-A), Barra – 3349-7960. Diariamente, das 9h às 21h
Blaus
Fundada há três décadas em Belém, a sorveteria ganhou no início do ano um quiosque no Downtown, pouco depois do primeiro ponto em Botafogo, ao lado do Tacacá do Norte, dos mesmo donos. Frutas amazônicas, como açaí, taperebá e tucumã, além de combinações como maria izabel (bacuri com geleia artesanal de cupuaçu e biscoito champanhe) abastacem os sorvetes de textura cremosa (a partir de R$ 14,90 no copinho). Outra sugestão é o cascão de sorvete de castanha com tapioca e flocos de arroz (R$ 20,90, uma bola; R$ 29,90, duas bolas). Receita autoral e inédita, o waffle paraense é feito com massa de farinha de tapioca, castanha do Pará e cumaru, com cobertura de manteiga e mel ou geleia (R$ 27,00), mas também pode ser combinado com uma bola de sorvete.
Av. das Américas, 500, bloco 8, Barra (Downtown). Diariamente, das 10h às 22h
Pescados na Brasa
Em Belém, sua terra natal, Adriana Veloso trabalhou como garçonete, caixa e gerente em restaurantes. Seu sonho era abrir uma peixaria, como são chamados os restaurantes de peixes por lá. Calhou de ser aqui, no Riachuelo, onde ela comanda a cozinha desse concorrido boteco com mesas na calçada, tecidos de chita, bandeiras de times locais e muito alto astral ao lado do marido, Júnior (que cuida da brasa), e da filha Gabrielly. Neste domingo (7), a casa completa dois anos e ganha uma festa ao ar livre, com muita comida típica, carimbó e roda de samba. Aproveite para experimentar as novidades do cardápio: pastéis de caranguejo ou camarão com jambu e de cupuaçu com castanha (R$ 9,90 cada) e o tambaburguer, um hambúrguer de tambaqui com maionese de jambu, alface, tomate e cebola caramelizada no tucupi, servido com chips de batata doce (R$ 35,90). Mas não deixe de provar a especialidade: os peixes preparados na brasa, como o pirarucu, acompanhado por arroz de camarão, pirão e farofa (R$ 129,90, para dois). Para bebericar, caipirinha de limão com... jambu, claro (R$ 17,90).
Rua Vitor Meireles, 92, Riachuelo – 2239-9540 e 99359-4753. Ter. a sáb., das 11h às 21h. Dom., das 11h às 18h.
Tacacá do Norte Gourmet
Parada obrigatória para quem busca os sabores típicos da região, o tradicional e diminuto ponto no Flamengo (onde a clientela consumiaunhas de caranguejo e a clássica receita que batiza a casa em um balcão) ganhou um anexo, com salão espaço e refrigerado, além de uma loja da sorveteria Blaus, dos mesmos sócios. O cardápio também ganhou reforços, como bolinho de piracuí, uma farinha de peixe, com molho de pimenta de cheiro (R$ 9,00), e pratos mais consistentes, a exemplo da chapa mista paraense, reunião de pirarucu, carne, charque, filé de filhote e camarão rosa, com dois acompanhamentos à escolha, como arroz de tucupi com jambu (R$ 110,00, meia porção, ou R$ 160,00). Ali, o açaí é servido puro, batido ou com acompanhamentos salgados, como camarão seco (R$ 38,90) ou pirarucu frito (R$ 46,90).
Rua Barão do Flamengo, 35, lojas O e R, Flamengo – 2205-7545 e 2225-4359. Seg. a sáb., das 9h às 22h. Dom., das 9h às 20h
O Rio Gastronomia é uma realização do jornal O GLOBO com apresentação do Senac RJ e do Sesc RJ, patrocínio master do Santander, patrocínio de Naturgy e Stella Artois, apoio do Gosto da Amazônia, Água Pouso Alto e Getnet, e parceria do SindRio.