Fernanda Venturini, de 50 anos, fala rápido. Sempre foi assim, desde os tempos em que brilhava nas quadras de vôlei. Ela não tem tempo a perder. Enquanto conversava com O GLOBO para esta reportagem, se preparava para encarar mais uma aula de kitesurf. Atualmente, a ex-jogadora de vôlei faz musculação, frescobol, dança e bike. Volta e meia joga beach tênis, faz standup padldle, salta de paraquedas e voa de paraglider.
Solteira, após separação do técnico Bernardinho, com quem esteve casada por 25 anos, Fernanda, com 63 quilos em 1m80, entra 2021 com novos planos: ajudar os outros a ganhar saúde e bem estar. Ela lança no próximo dia 7 (às 20h) programa em seu canal no Youtube ("14 Minutos de Saúde com Fernanda Venturini) e terá apoio de profissionais da área médica, preparação física, nutrição e coaching.
— Se seu mindset for fixo nem perca seu tempo. Agora se tiver a cabeça aberta vai adorar — desafia Fernanda, que vai entrevistar médicos e contar histórias de superação. — Agora é minha hora de trabalhar. Antes, casada, eu cuidava das coisas do Bernardo e ele trabalhava. Eu ficava mais em casa. Ajudar os outros a ganhar saúde é o meu propósito da vida agora.
Fernanda conta que sua vida mudou radicalmente há um ano. Quando se aposentou definitivamente das quadras, após temporada com o time de Bernardinho em 2011/2012, ela lutou contra a depressão. Mal administrava as dores no joelho e a dificuldade para se exercitar
— Tomava antidepressivo e usava um implante hormonal, o chip da beleza, no bumbum. Estava tudo errado. Conheci um médico que é contra a gestrinona (hormônio sintético) e, fazendo seus cursos, aprendi como o corpo funciona. Tirei o implante, mudei minha alimentação, fiz modulação hormonal e com isso minhas dores sumiram e ganhei gás para voltar aos esportes — relata Fernanda, que diz que se sente rejuvenescendo, "voltando no tempo".
Ela explica que está conectada com médicos da nova geração e que começou a fazer tratamentos como ozonioterapia (administração de gás de ozônio no corpo para tratar alguns problemas de saúde), GH (com hormônio do crescimento), jejum intermitente (por umas 20 horas), entre ouros. Ao mesmo tempo, cortou radicalmente o carboidrato e o açúcar.
Em seu Instagram, ela mostra o corpão enquanto curte as praias do Rio, onde mora. Também exibe suas façanhas esportivas e atividades prediletas.
— Sei que este tema (reposição hormonal) é polêmico mas essa é a minha experiência. Passei a mostrar meus progressos na minha rede social e muita gente começou a se inspirar. Por isso, surgiu a ideia do canal para ajudar os outros. Amo esporte e quero fazer até o resto da minha vida.
Luta contra o desgaste
A ex-central Ida, de 55 anos, 66kg e 1m78, vai logo avisando:
— Não estou forte como a Fernanda, mas estou magra, saudável e bem. Passei da fase de ser gostosona. Coloco uma roupa e me sinto bonita. Me gosto— fala a ex-jogadora, que já foi capa da Playboy, em 1996.
Ela, que tem dois filhos e um neto, explica que gosta de atividade física e que sempre a incluiu na rotina. Mas odeia academia de ginástica. Costuma dizer que passou uma vida inteira puxando ferro e não tem paciência para fazer o mesmo agora. Hoje, ela prefere se exercitar ao ar livre, fazer funcional.
Quando largou as quadras, experimentou esportes diversos, de Corrida de Aventura (aquelas que duram dias e chegam a 500km) à canoa havaiana. Hoje entrou para a turma do beach tênnis. Em Lisboa, onde mora, administra grupo em Whatsapp com mais de 60 praticantes, e em 2021, quer dar aulas.
— Lá o esporte não é tão difundido —constatou Ida, formada em Educação Física. — Estou bem de ombro e joelho (risos). Me cuido, tenho uma alimentação saudável, sem glúten. Mas não sou exagerada em nada.
Ida faz parte de uma geração de jogadoras “cobaias” que hoje convivem com sequelas nos ombros e, principalmente, nos joelhos. Precisam driblar as limitações e a dores para se manterem em forma e saudáveis.
Como Isabel Salgado, de 60 anos, mãe de cinco filhos (um adotado) e avó de cinco. Ela diz que precisa fazer exercício para não ter limitações físicas. Seus joelhos foram castigados na época que jogava profissionalmente e agora a impedem de maiores esforços ou de experimentar novas modalidades. Ainda assim, não é páreo para muitas meninas de 20 e poucos anos.
Magra e forte, ela corria na praia quatro vezes na semana, ia na academia, jogava vôlei, e fazia caminhadas na areia. Ela sempre se cuidou. Mas o novo coronavírus mudou toda a sua rotina.
Isolada em um apartamento no Jardim Botânico, ela não conseguiu manter o ritmo. Não tinha vontade, paciência. Disse que entristeceu diante de tanta desgraça. E agora, acha que está pagando um preço alto:
— A pandemia foi um horror, acabou com o meu joelho porque tive de parar de fazer tudo. Mas não posso reclamar diante de tantas coisas horríveis que aconteceram. Esse coronavírus, que não escolhe vítima, é desesperador. Mas, muito mais desesperador é o governo Bolsonaro — cutuca Isabel, que há três meses iniciou trabalho de eletroestimulação de corpo todo para se fortalecer novamente, além da academia convencional. — Minha lesão no joelho é complicada, rompi o ligamento cruzado e operei há muito tempo. Eu preciso fazer exercício para não perder os músculos da coxa. Mas agora, com essa nova onda da Covid-19, estou com muito medo. Preferia correr ao ar livre mas ainda não consigo. Não vou a restaurante, não saio... só treino mesmo porque preciso.
— Quero ficar longe disso! Tenho vontade de me manter bem fisicamente para desfrutar a vida, andar na areia, dar meu mergulho. Atividade física para mim é fundamental. Se eu não cuidar da minha lesão, vou ter problemas sérios. Estou tentando evitar nova cirurgia. Mas também tenho muito prazer quando suo. Me faz bem, para a cabeça inclusive. Sempre fiz algo, desde quando parei de jogar. Sempre estive na areia. A areia sempre me ajudou muito.
Foi Vera Mossa quem levou Isabel para a eletroestimulação. Ela também convive com dores nos joelhos mas, diferentemente da amiga, não se manteve em plena atividade desde que abandonou as quadras. Vera, com 56 anos, teve mais um filho, a Luiza, hoje com 18 anos, depois de aposentada. Ela é mãe de Edinho, de 39 anos, e Bruninho, de 34, levantador da seleção brasileira.
— Sempre tive receio de forçar ainda mais os meus joelhos — admite a ex-jogadora que hoje está com 65kg em 1m83. — Fomos cobais na nossa época e nos arrebentamos muito.
Há três meses, ela frequenta a academia TecFit para fazer eletroestimulação. Estava muito magra e agora ganhou músculos. Diverte-se ao contar que pela primeira vez na vida "está com coxas". Vera sempre foi longilínea.
— Para uma mulher de 56 anos estou ótima. Saudável, ganhando músculos e empolgada.
É que, segundo ela, esta academia tem projeto de montar uma equipe master de vôlei para a disputa dos Jogos Pan-americanos. Com a pandemia, a competição que aconteceria em setembro de 2020 no Rio, com cerca de 15 mil atetas, em 24 modalidades, foi cancelada. Ela ainda não sabe como essa história vai terminar mas admitiu que, se a equipe puder treinar com bola, ela toparia a empreitada.
— Ia ser muito legal. Tenho condições de estar ainda mais forte e isso me estimularia a jogar. Sempre sonho que entro em um campeonato mas nunca sonho que estou jogando. Parece que ficou um vazio dentro de mim. Até por isso queria pegar na bola de novo para ver se preencho isso de alguma maneira.
Todo o ano, com exceção de 2020, joga torneios de vôlei master, mesmo com problemas nos joelhos.
— Foram seis cirurgias! — lembra ela, que hoje faz eletroestimulação, musculação, joga beach tênis e anda de bike.
Dona de uma escola de gastronomia e uma pousada, em Casa Branca, interior de São Paulo, a ex-jogadora organiza partidas de vôlei, na areia, em sua propriedade, e não tem dificuldade de arrumar parceiros. Mesmo durante a pandemia: são 25 atletas e ex-atletas na família.
— Esporte para mim é estar com quem amo e saúde. Queria estar com outro corpo? Sim, mas na minha idade já não é tão facil assim. Trabalho com comida e tento me controlar. Gosto da minha cervejinha e sinto prazer também em comer. Saúde também inclui a cabeça.