RIO - Enquanto a corrida eleitoral se acirra às vésperas do segundo turno, trocas de acusações, por vezes falsas, contra adversários se multiplicam em panfletos apócrifos e publicações anônimas na internet, algumas deles com temas como legalização do aborto, descriminalização do consumo de drogas e outras pautas de cunho ideológico.
Na última semana, a disputa em Porto Alegre chegou a virar caso de polícia. O candidato Sebastião Melo (MDB) foi à sede da Polícia Civil registrar boletim de ocorrência contra a adversária Manuela D’Ávila (PCdoB). O deputado estadual acusa a rival de chamá-lo de racista sem provas. Isso porque dias após um homem negro ser assassinado por seguranças no Carrefour na capital gaúcha, a campanha de Manuela veiculou propaganda mostrando declarações do vice-presidente Hamilton Mourão negando o racismo no Brasil e do candidato do PSD derrotado no primeiro turno, Valter Nagelstein, que criticou parlamentares negros do PSOL. Os dois são apresentados como aliados de Melo.
“Não posso aceitar que o debate chegue a esse nível. O que estão fazendo é criminoso. A gente pode perder ou ganhar eleição, mas a biografia tem de ser preservada. Eu combato racismo e todo o tipo de preconceito”, disse Melo.
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Em resposta, Manuela disse que o adversário não tinha sido capaz de discordar publicamente “das declarações literais de seus aliados” e que tentava “criar um fato eleitoral” a partir disso.
“Seria tão mais simples dizer: não concordo com Mourão e Valter. Mas não, ele age contra mim que denuncio declarações racistas”, escreveu a candidata. “Ele responderá judicialmente por isso: entraremos com ação de dano moral por injúria e difamação e com denunciação caluniosa pelo Boletim de Ocorrência.”
No Recife, a Justiça Eleitoral determinou que o candidato João Campos (PSB) interrompa a divulgação de panfletos contra Marília Arraes (PT) que foram distribuídos em frente a templos religiosos da cidade. “Cristão de verdade não vota em Marília Arraes”, diz o material, estampado com foto da petista. Ali também está escrito que Marília defende a legalização das drogas, o aborto e a ideologia de gênero, tirou a Bíblia da Câmara do Recife e pertence ao PT, “que persegue os cristãos em todo o Brasil”.
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Em sua denúncia, Marília Arraes afirmou que os panfletos foram produzidos e espalhados por Campos porque o carro usado para a distribuição do material tinha o design da campanha do candidato.
A juíza Virgínia Gondim Dantas, da 7ª Zona Eleitoral, entendeu que não é possível provar que os panfletos são de autoria da campanha de Campos, mas, como ele foi o beneficiário da ação, caberia a ele interromper a divulgação. O material tem o efeito de “criar nos eleitores estados mentais e emocionais, deixando de divulgar a integralidade da fala da candidata Marília Arraes”, dizia ainda a sentença.
Em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, a deputada Flordelis, acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, tornou-se personagem da corrida eleitoral. Nesta quinta-feira, ela foi às redes sociais para desmentir que tenha declarado apoio ao candidato Dimas Gadelha (PT), após uma publicação com uma foto deles juntos circular nas redes. Flordelis esclareceu que a imagem tinha sido feita há anos, durante uma campanha do Outubro Rosa.
Gadelha também se posicionou sobre o assunto. “Não temos e jamais pedimos apoio, da até agora deputada Flordelis para a nossa campanha. Mentir assim para a população é um desrespeito”, diz a nota publicada nas redes sociais. O candidato gravou um vídeo, em que chama seu adversário, Capitão Nelson (Avante), de “Capitão Mentira”, acusando-o de espalhar o boato.
— A mentira de hoje é que o Dimas tem o apoio da Flordelis. Mentira! O grupo da Flordelis, o partido dela, o PSD, está com você, capitão — respondeu Gadelha
No Rio, Paes e Crivella sobem o tom
Mesmo em uma campanha que pesquisas de intenção de voto apontam não ser das mais acirradas, com larga vantagem para o primeiro colocado, o segundo turno da disputa pela prefeitura do Rio vem sendo marcado por ataques, seja por meio de declarações, panfletos, em debates ou no horário eleitoral. O acirramento chegou também ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ): o candidato do DEM, Eduardo Paes, já moveu 53 ações contra o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que postula a reeleição; o atual ocupante do cargo, por sua vez, acionou o adversário judicialmente 38 vezes.
O ápice do confronto, Crivella fez uma falsa acusação ao afirmar que Paes, se eleito, entregaria a Secretaria de Educação para o PSOL, o que, nas palavras dele, incentivaria a pedofilia nas escolas. Um material distribuído nas ruas vincula o ex-prefeito ao aborto, à legalização das drogas e à distribuição de um “kit gay” nas escolas. Na Justiça Eleitoral, Paes afirma que a propaganda é “sabidamente inverídica e difamatória” e tem o objetivo de “ludibriar os eleitores” — o ex-prefeito também foi às redes sociais contestar a divulgação.
De seu lado, a campanha de Paes não tem poupado a faceta religiosa do adversário. Na propaganda de TV, Crivella é chamado de “falso pastor”. O candidato do DEM passou a se referir ao rival pela alcunha de “Pai da Mentira”, um termo bíblico de referência ao diabo..