Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 16 de janeiro de 2022

ECOLOGIA: EXTREMOS CLIMÁTICOS DESTROEM PLANTAÇÕES NO SUL DO PAÍS

 

Extremos climáticos destroem plantações no Sul do país e tempestade prevista não é suficiente para recuperar estragos

Alta temperatura agravou a estiagem na região, onde a água disponível em poços artesianos só é suficiente para consumo próprio ou para os animais. Chuva prevista para esta semana deve amenizar calor, mas não melhora a agricultura
Agricultor em Soledade, no RS, avalia o prejuízo do calor sobre sua plantação de soja Foto: DIEGO VARA / REUTERS
Agricultor em Soledade, no RS, avalia o prejuízo do calor sobre sua plantação de soja Foto: DIEGO VARA / REUTERS
 

Moradora de Ipê, na Serra Gaúcha, Sandra Campagnollo leva produtos de sua propriedade familiar de agricultura ecológica e orgânica, para feiras toda sexta, no próprio município, e aos sábados, em Porto Alegre. Há dois dias, só pôde vender tomates e cebolas e um pouco de alface dado pelo vizinho. Os cultivos de couve-flor, brócolis, couve, alface, tomate, melão, melancia, abobrinha, cenoura e beterraba foram perdidos com a seca.

— Temos três açudes e as três estão secas, tenho mais nada de produto verde. O sol está muito forte, se você não tem uma irrigação boa, tudo queima — lamenta Campagnollo, que prevê uma retomada da produção apenas no meio do ano. — Depois que voltar a chover, leva pelo menos dois meses para ter a produção de volta. Não adianta plantar agora, porque não vai vingar. 

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Sandra é uma das vítimas dos prejuízos sociais e econômicos de uma das mais severas ondas de calor já registradas no Rio Grande do Sul, assim como em parte de Argentina, Uruguai e Paraguai, com temperaturas até 7°C acima das máximas históricas. Um exemplo do que os extremos climáticos são capazes de provocar.

A água disponível hoje em poços artesianos nas comunidades rurais de Ipê só é suficiente para consumo próprio ou para os animais. Moradores recorrem ao escambo com vizinhos e precisam conciliar as perdas financeiras com a necessidade de gastar mais nos mercados.

“Está tudo morto”

Sandra vive numa propriedade de três hectares com seus pais e o filho de 14 anos. Ela conta que a situação desmotiva os jovens, que hoje em dia preferem buscar outros trabalhos, por vezes nas áreas urbanas.

— Meu filho vê que a produção está toda morrendo, e aí vai viver do quê? Isso muda a cabeça, ele tem mais vontade de viver de outro negócio. É difícil dar continuidade ao negócio familiar assim, hoje vemos poucos jovens na agricultura — diz. — É a pior estiagem que já vivemos. Não dá para olhar, está tudo morto.

 

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A bolha quente do Sul pode ser apenas o início de um ano que, as projeções climáticas indicam, será ainda mais severo do que 2021, globalmente o sexto mais quente, numa série ininterrupta de sete anos de elevação da temperatura da Terra, segundo dados da Nasa apresentados na quinta-feira.

A seca começa a arrefecer no Sul a partir de amanhã. E são previstas tempestades intensas, outro tipo de extremo climático. Mas o cenário para fevereiro e março não é bom para o Sul do Brasil e tampouco para o Sudeste, de acordo o Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas.

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No Sul, os modelos climáticos indicam a volta do calor e da seca, intercalados por grandes tempestades, afirma Humberto Barbosa, coordenador do laboratório e dos estudos de Degradação do Solo do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC).

A onda de altas temperaturas culminou em dois anos de estiagem no Centro-Sul do Brasil e parte do Cone Sul, resultado de variabilidade natural, como o fenômeno da La Niña, e de fatores associados ao aquecimento do Oceano Atlântico, diz Barbosa.

— O sexto relatório do IPCC alertou para tudo isso e o Sul sofre um processo que está distante de ter fim. Para curto, médio e longo prazo, a tendência é de aumento do aquecimento dos oceanos, com consequências desastrosas. Presente e futuro são de instabilidade e o planejamento econômico que não considerar isso estará fadado ao erro — destaca o cientista.

Oceanos quentes

Os oceanos absorvem 90% do calor extra gerado pelo aquecimento do planeta e têm apresentado tendência de elevação de temperatura desde os anos 1960. Uma pesquisa publicada semana passada na revista “Advances in Atmospheric Sciences” mostra que a camada superior dos oceanos (até 2 mil metros de profundidade) esteve mais quente do que nunca em 2021. Os oceanos absorveram o equivalente a quase 30 vezes o total de energia usada pela Humanidade em um ano. O Atlântico e Antártico são os que mais se aqueceram.

— Os oceanos funcionam como baterias da atmosfera, à qual estão conectados. O aquecimento dos mares está ligado a muitos dos extremos que temos testemunhado no Brasil e no exterior — explica Barbosa.

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A chuva esperada para o início da semana poderá fazer os termômetros no Sul despencarem até 15 °C, com tempestades e granizo. Alívio para o calor, mas não para a agricultura.

 

— O ano de 2022 será de muito calor e chuva forte, um ano desfavorável para a agricultura — salienta Barbosa.

Para o Sudeste, a previsão é de chuva acima da média, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, com o deslocamento mais para o Sul da região da umidade que provocou desastres em Minas Gerais. Alívio só mesmo no Nordeste, que poderá ter chuvas acima da média no Semiárido.

Na grande região agrícola do Centro-Sul, 2022 promete tempos difíceis, com menos produção de alimentos mais demanda por energia.

— No Brasil, a cara da mudança climática é a da fome, será grande a pressão sobre a economia — frisa Barbosa.

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A onda de calor no Sul é um indício de mudança climática, diz a meteorologista Nathalie Boiaski, do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria.

Segundo Nathalie, o calor que arrasou plantações e fez a população sofrer foi gerado pela combinação da La Niña com outros fenômenos climáticos chamados de Oscilação Antártica e Oscilação de Madden-Julian, esta última ligada ao regime de chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste.

Todas conspiraram para que o ar fervesse numa região já castigada por seca intensa, com solo exposto e alta evaporação. O calor veio acompanhado de baixíssima umidade do ar, inferior a 20% em muitos municípios. Boiaski lembra que os extremos climáticos são amplificados e aumentam de frequência e intensidade à medida que cresce a degradação ambiental:

 

— A Amazônia é uma das fontes de umidade para nós no Sul, principalmente no verão. E a umidade não tem chegado — explica a cientista.

Dias mais longos

O verão piora tudo. É a estação mais quente, com os dias mais longos que as noites, aumentando o tempo de exposição à radiação solar.

— O agronegócio sofre, mas a agricultura familiar vive o pesadelo. Penso nas pessoas que não têm recursos para se refugiar em ambientes refrigerados. O calor é inevitável. Infelizmente, esses eventos vão ser cada vez mais frequentes. Devemos encarar esse calor terrível também como um alerta — enfatiza Boiaski.

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Para o curto prazo, o Rio Grande do Sul e partes de Santa Catarina e do Paraná, também afetados pelo calor extremo, terão alívio a partir de amanhã, diz o meteorologista Heráclio Alves de Araújo, do Inmet. Uma frente fria deve romper o bloqueio causado pela bolha quente de alta pressão atmosférica, que começa se enfraquecer.

Se esta é a mais intensa onda de calor já registrada no Sul será possível saber quando ela terminar, pois no passado já aconteceram dias com temperaturas superiores a 40 °C, observa Araújo. Mas ela já chama atenção pela área afetada, um enorme quinhão da América do Sul.

 


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