Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Família Albuquerque e Silva terça, 15 de agosto de 2017

BERGONSIL: AMOROSIDADE E GENTILEZA EM PESSOA

BERGONSIL: AMOROSIDADE E GENTILEZA EM PESSOA

(14.08.1930 – 15.12.2015)

Raimundo Floriano

 

 

Bergonsil de Albuquerque e Silva, filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, nasceu em Balsas (MA), no dia 14 de agosto de 1930, e faleceu em Niterói (RJ), no dia 15 de dezembro de 2015, aos 85 anos de idade. Era o quinto de uma prole de 10, da qual eu sou o sétimo.

 

Esta é sua foto mais antiga, colhida em 1938, quando nossos irmãos Rosimar e Maria das Dores, depois Maria dos Mares, ainda não eram nascidos:

 

Maria Alice, Maria Isaura, Magnólia, prima, e Pedro;

Bergonsil, Afonso, Maria Bezerra, Maria Iris, Rosa Ribeiro, Raimundo Floriano e José 

Bergonsil estudou o Curso Primário em Balsas. Em 1945, partiu para Floriano (PI), onde faria o curso secundário, matriculando-se no Ginásio Santa Teresinha.

 

De todos os irmãos, ele era o mais amigo, o mais carinhoso, o mais gentil, de forma que sua ausência representou um baque na vida dos mais novos.

 

Bom filho, bom amigo, bom irmão, Bergonsil era nosso exemplo, nosso espelho. Bonito, alto, jogador de futebol, namorador, forte, jamais apanhou ou deixou que apanhássemos na rua. Fazia-nos brinquedos de buriti – caminhão, jipe, lancha, vapor, barca, avião – e dava-nos presente quando vinha de férias. Por isso, todos nós – seus irmãos menores e a molecada de nossa rua – queríamos ser um Bergonsil quando crescêssemos.

 

Eu mesmo, até quando me foi possível, segui seus passos por muito tempo. Ele estudou em Floriano, eu também; saiu do Piauí para cursar a EsSA - Escola de Sargentos das Armas, eu também; foi promovido a 3º Sargento, do Exército, eu também; aproveitou as escassíssimas horas de folga da caserna para estudar, eu também; deixou a vida militar para assumir cargo mais alto na vida civil, eu também; teve umas 30 namoradas quando solteiro, eu também; ao dar baixa do Exército, foi promovido a 2º Tenente da Reserva, eu também; sempre se vangloriou pelos longos anos de bons serviços prestados à Pátria, eu também.

 

Mas as coincidências param aí. Pelo modo de proceder, não só no âmbito familiar, como no profissional e no círculo de suas amizades, Bergonsil podia ser definido como a gentileza em pessoa.

 

Em Floriano, paralelamente aos estudos, empregou-se como Carteiro no DCT - Departamento de Correios e Telégrafos, hoje ECT. A seguir, duas fotos daquela época, como Carteiro e com a farda de gala do Ginásio:

 

 

Concluiu o Curso Ginasial em 1948, classificando-se em Primeiro Lugar, o que lhe valeu a aparição destacada no Quadro de Formatura daquele ano:

 

 

Durante o tempo em que permaneceu em Floriano, Bergonsil se esmerou em sua qualidade de irmão e filho amoroso. Ganhando seu dinheiro como Carteiro, cumulava-nos de presentes, quando voltava nas férias. Sob esse aspecto, devo contar-lhes pequeno episódio de minha infância.

 

Em novembro de 1944, aguardávamos grande novidade, uma realização para nós, os irmãos mais novos: íamos ser tios, pois nossa irmã Maria Isaura esperava seu primeiro rebento, o João Emigdio, nascido no dia 18 daquele mês. Acontece que, por sermos ainda crianças – Afonso, eu, Maria Iris, Rosimar e Maria das Dores –, o tal sobrinho jamais nos chamou de tio, frustrando-nos em nossa fantasia.

 

No final de 1947, Bergonsil chegou de férias, carregado de presentes, sendo que, para o Rosimar, então com 7 anos, levou um Zé Mentira – assim o chamávamos – de sua própria fabricação, o que se transformou em tremendo sucesso, pois nenhuma criança o possuía outro exemplar naquele sertão. Vejam uma cópia do brinquedo:

 

Pois um dia, constatando o valor de seu presente, Bergonsil surpreendeu esta conversa do Rosimar com o João Emigdio, então com 3 anos: – Se tu me chamar de tio, eu te dou o Zé Mentira.

 

Jamais esquecerei a primeira gaita de boca de chave que possuí na vida, a Membi, da Hering, presente do Bergonsil, no Natal de 1951, tal como o modelo abaixo:

  

Voltemos à história de sua vida!

 

No início de 1949, após classificar-se em disputadíssimo concurso de âmbito nacional, seguiu para Realengo (RJ), matriculando-se na EsSA - Escola de Sargentos das Armas, sendo promovido a 3º Sargento do Exército Brasileiro, no final daquele ano. Adiante, fotos suas, como Aluno da EsSA e como Sargento:

 

 

Após a promoção, foi designado para servir na Escola Preparatória de São Paulo. Naquela capital, enfrentou barra pesada para dar conta de suas obrigações militares e, à noite, frequentar cursos regulares, culminando com sua graduação como Químico Industrial, sendo orador da turma. Vejam detalhes de sua formatura:

 

 

Especializado em fabricação de tintas, Bergonsil deixou o Exército Brasileiro, em 1954, para empregar-se como Químico Industrial da empresa americana Sherwin Williams, em São Paulo.

 

O ator americano Tom Hanks tem o mesmo porte físico e a mesma aparência do Bergonsil quando era jovem. Sempre que assisto ao filme O Resgate do Soldado Ryan, às vezes, vejo o Bergonsil atuando no lugar do Tom.

 

Nossa prima Magnólia Baptista, em seu livro Lembranças, Dons e Artes, assim define o Bergonsil na segunda metade dos Anos 1940, quando estudante em Floriano: “que era metido a conquistador.”

 

Ele tinha mesmo muita sorte – e lábia – pra namoro! E foi numa dessas conquistas que ele acertou o pé na vida! Surgiu em seu caminho nossa prima Izaura Maria de Sousa e Silva, filha do Tio Cazuza e da Madrinha Ritinha, com quem se casou, a 31 de dezembro de 1960, indo residir em São Paulo. Era o segundo casamento unindo nossas famílias, eis que minha irmã Maria Alice, quatro anos antes, se casara, com o Raimundo, irmão da Izaura.

 

Bergonsil e Izaura, no dia do casamento

 

Pouco tempo depois, o casal mudou-se para Niterói (RJ), com o Bergonsil contratado para o cargo de Químico Industrial da Tintas International, companhia inglesa, gigante no setor, com sede em São Gonçalo, ali pertinho.

 

Bergonsil e Izaura tiveram dois filhos, Valéria e Maurício, que lhe deram dois netos, Lucas e João Rodrigo.

 

Maurício, Valéria e Izaura

João Rodrigo e Lucas 

Em junho de 1996, Bergonsil, sozinho, eis que com Izaura e os filhos trabalhando, passou aqui por Brasília, dirigindo seu próprio carro, rumo a Balsas, onde assistiria à festa dos 70 anos de nossa irmã Maria Alice, no dia 26 daquele mês. Tal viagem, com percurso de quase 3.000 quilômetros, só de ida, era mais um gesto de sua amorosidade e gentileza. Na volta, ficou uns dias aqui comigo, para o forró de meus 60, o que ocorreria no dia 3 de julho. Foi só alegria, animação e cantoria.

 

******

 

Mas, no dia 21 de outubro do mesmo ano, a tragédia: Bergonsil, quando atravessava a rua, pertinho de casa, em Niterói, foi atropelado por um motoqueiro, batendo com a cabeça no meio-fio e perdendo massa encefálica. Daquele momento em diante, desligou-se do mundo, não reconhecendo mais as pessoas que lhe eram queridas – mulher, filhos, irmãos, parentes, amigos – e, vez em quando, falando palavras desconexas.

 

Izaura que, na época, ocupava uma das Gerências no BNDES, teve de desdobrar-se para dar conta de suas atribuições funcionais e no desvelo e cuidados para com o Bergonsil. No decurso de sua enfermidade, recorreu a todos tratamentos existentes na Medicina Brasileira, para devolver-lhe o bem-estar.

 

Em casa, usou de todos os recursos disponíveis e dedicou ao Bergonsil todo o carinho e todo o zelo, fazendo com que ele nunca perdesse a dignidade, no que foi seguida pelos filhos e netos.

 

E isso durou até o dia 21 de dezembro de 2015, quando um mal súbito do coração o levou para a Morada Celestial.

 

Esta é a última foto que tiramos, os 10 irmãos juntos, isso aqui em Brasília, na ASBAC - Associação dos Servidores do Banco Central, em 1990, nas comemorações do Casamento de nosso sobrinho Luís Fernando:

 

Afonso, Raimundo Floriano, Bergonsil, José, Rosimar e Pedro

Maria Isaura, Maria dos Mares, Maria Alice e Maria Iris

 

 

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segunda, 14 de agosto de 2017 as 17:06:43

Izaura Maria de Sousa e Silva
disse:

Raimundo, o dia hoje é de muitas lembranças e muita saudade. Bergonsil sempre adorou seu aniversário, razão por que nunca deixamos de festejar o dia 14 de agosto, marco especial em nosso calendário. Hoje, o amanhecer foi triste porque já não o temos a nosso lado, mas sua crônica, tão linda e sincera, encheu meu coração de ternura: fiquei muito emocionada e agradecida pela bela homenagem a nosso amado e saudoso Bergonsil, que, como você escreveu, foi realmente sinônimo de Amorosidade e Generosidade em Pessoa. Muito obrigada por suas carinhosas palavras.


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segunda, 14 de agosto de 2017 as 17:17:18

Valeria
disse:

Obrigada pelo carinho e pelo lindo relato sobre o Papai. Eu tambem sempre quis ser igual a ele, quando crescesse, tarefa impossivel. Felizmente, absorvi os seus insistentes ensinamentos sobre honestidade, retidao de caráter e solidariedade. Um dia, quem sabe, consigo ser uma pessoa discreta como ele. Acho dificil! Rsrs Te amo, Tio Raimundo


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segunda, 14 de agosto de 2017 as 17:55:40

Solange
disse:

Linda história. Saudades do meu amigo


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segunda, 14 de agosto de 2017 as 18:04:52

João Ribeiro da Silva Neto
disse:

Raimundo Floriano, mais uma história contada por você que nos proporciona um belo relato da trajetória de vida do primo Bergonsil e destaca aspectos importantíssimos da personalidade dele para nós. Muitos fatos que eu desconhecia. Um grande abraço na prima Izaura Maria de Souza e Silva. Parabéns por mais este texto muito importante para a família! João Ribeiro da Silva Neto


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terça, 15 de agosto de 2017 as 08:16:37

Ima Aurora Albuquerque e Silva
disse:

Que delícia viver e reviver momentos lendo sobre nossos amados. Tio, você é O CARA! Obrigada por perpetuar nossas histórias pra toda eternidade! Te amo pra sempre. Revivi grandes momentos com Tio Bergoncil lendo sobre ele, que era a mais pura personificação do que é o amor! Obrigada, obrigada, obrigada!


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terça, 15 de agosto de 2017 as 09:54:18

Dalma Nascimento
disse:

Raimundo Floriano, emocionei-me com seu depoimento , tão sensível e detalhado sobre a vida do Sr. Bergonsil. Você me colocou a par do universo de um homem, gentil, digno e extraordinário vizinho que vim a conhecer já mais tarde na minha convivência com Izaura. Estando ele já combalido, pude constatar o imenso carinho, desvelo e amor que Izaura a ele dedicava, o que demonstrava não só a grandeza da minha amiga. mas justamente a dimensão maior do grande Ser Humano que foi o Sr. Bergonsil em todos os sentidos. Por isso, Raimundo Floriano, cumprimento-o pela justíssima homenagem que você, nesse depoimento minucioso e bem escrito, a ele prestou e de que eu, modestamente, aqui também participo.


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sexta, 16 de agosto de 2019 as 07:07:10

Izaura Maria de Sousa e Silva
disse:

Raimundo, mais uma vez agradeço seu lindo e emocionante texto sobre nosso querido e inesquecível Bergonsil. O dia ontem foi de muita recordação e saudade. Vou ao cemitério mensalmente, sempre que possível, no dia 15. Infelizmente, por problema de saúde, justamente no seu aniversário, não pude ir, o que me deixou bastante triste.


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domingo, 16 de agosto de 2020 as 10:43:43

João Ribeiro da Silva Neto
disse:

Raimundo Floriano, li mais uma vez seu belíssimo texto sobre o primo Bergonsil, agora com a Aliete a meu lado. São detalhes de uma vida riquíssima e quisera eu ter participado também de seu convívio. Parabéns. Um abraço para a Izaura de Souza e Silva, com quem temos contato frequente graças à tecnologia nas comunicações. Um grande abraço em todos. João Ribeiro e Aliete Lima, em 16 de agosto de 2020


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