Níjni Novgorod - A Argentina se preocupa com o aparente abatimento de Messi após o pênalti perdido contra a Islândia e tenta protegê-lo. Enquanto os números escancaram o tamanho de sua influência, o rendimento do time amplia a sensação de que ele é tudo o que a seleção tem. No entorno da equipe, convivem a crença cega de que Messi será capaz de decidir, ainda que sozinho, e a cobrança recorrente sempre que suas intervenções não resultam salvadoras. Chega o jogo com a Croácia, nesta quinta, quase uma decisão para os argentinos, sem que a seleção tenha encontrado razões diferentes de Messi para acreditar que vá seguir adiante. Seu nome está em toda parte.
O técnico Jorge Sampaoli teve que responder sobre o craque. Rakitic, companheiro no Barcelona, também. O treinador croata, Zlato Dalic, foi outro que ouviu perguntas como se estivéssemos diante de um Croácia x Messi. Deve jogar uma Argentina com até três modificações, medidas de urgência diante da falta de jogo. Uma nova escalação que talvez coloque ainda mais peso sobre Messi.
Isso amplia o peso sobre os mais experientes, Messi entre eles. O craque, que já jogou 121 vezes pela Argentina, soma nove jogos a mais do que oito titulares juntos. Excluídos os experientes Mascherano e Aguero, todos os demais que entrarão em campo hoje somam só 112 aparições pela seleção.
O jogo com a Islândia foi a imagem de Messi assumindo todo tipo de funções. Dos 718 passes que a Argentina trocou, ele foi a origem ou o destino de 141. Ou seja, quase 20%, uma participação inferior apenas à de Mascherano, que iniciava as jogadas ao receber a bola da defesa, e do zagueiro Rojo. Um gráfico que divide o campo em 18 quadrantes mostra que Messi recebeu passes em 12 deles na estreia. Só não foi buscar a bola nos 30 metros mais próximos do gol defendido por Caballero. E foi Messi o responsável por 11 das 26 finalizações do time no jogo.
A impressão, por vezes, é de que Messi carrega uma cruz ao longo da Copa. Tudo é muito delicado. Sampaoli se move no tema Messi como se manuseasse um cristal. Ao assumir, chegou a falar a construir “um time que será muito mais de Messi do que meu”. Agora, para proteger seu craque, ataca as críticas que responsabilizam de Messi pela jejum de 25 anos sem títulos da seleção.
— Quando Messi faz gol com a camisa argentina, gritamos todos e nos sentimos parte. Quando não faz, não ganhamos, a culpa é dele. É muito cômodo para todos que apenas um jogador tenha responsabilidade. Ele é o melhor do mundo, pode mudar um jogo, mas não pode ser responsável por um fracasso — disse Sampaoli. — Messi é um prócer, como foi Maradona em sua época.
As mudanças na escalação são uma cartada ousada. Sampaoli tenta implantar o jogo em que acredita, de ocupação do campo adversário e muito ataque. Logo na partida mais difícil, com uma formação inédita e pouco tempo de trabalho. Sampaoli assumiu o cargo para os quatro últimos jogos das eliminatórias, com a seleção no desespero para se classificar. Apostou em seu modelo, depois recuou e iniciou a Copa com uma formação mais conservadora. Agora, o time terá uma linha de três defensores, alas avançados e tentativa de pressão total num time técnico, com Rakitic e Modric no meio-campo.
— Você precisa se adaptar à realidade e, aos poucos, implantar sua forma de jogar. Mais do que o sistema tático, o importante é o estilo: ficar o máximo com a bola e pressionar para recuperá-la rapidamente — disse Sampaoli.