Quem assiste à animação “Bob Cuspe — Nós não gostamos de gente” ganha três filmes em um.
Ele é um documentário em que o cartunista Angeli reflete sobre sua obra, explica influências sobre suas criações e lembra sua relação com personagens clássicos como a ninfomaníaca alcoólatra Rê Bordosa.
Ele é, também, uma espécie de road movie em que o revoltado Bob Cuspe tenta deixar a cabeça de seu criador para encontrá-lo e tirar satisfação sobre a decisão de sua morte.
E, por fim, ele é uma epifania punk em que não importa o que pensam Angeli ou Bob Cuspe. A ideia é sentar na frente da tela e deixar o caos fluir como música.
Dirigido por Cesar Cabral, “Bob Cuspe” foi lindamente produzido em animação stop-motion com bonecos de massa de modelar. Em seu lado documental, o filme traz depoimentos de Angeli e de pessoas próximas, como sua mulher, a arquiteta Carolina Guaycuru, e a amiga e também cartunista Laerte — todos emprestando suas vozes ao filme, mas representados por bonecos. Logo no início, Angeli diz que se incomoda quando se torna repetitivo e coloca para tocar na vitrola a música “Chiclete com banana”, de Jackson do Pandeiro, o mesmo título da famosa revista dos anos 80 de que Angeli foi cofundador.
O resultado é uma mistura muito bem equilibrada pelo roteiro — o que levou “Bob Cuspe” a vencer a Mostra Contrechamp , no Festival de Annecy, o principal do mundo para animações. Afinal, como diz o personagem, punk is not dead.