Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 24 de junho de 2018

ALEMANHA TEM PROBLEMAS, MAS UMA FÉ INABALÁVEL NO SUE JEITO DE JOGAR

 

Análise: A Alemanha tem problemas, mas tem uma fé inabalável no seu jeito de jogar

Kroos também acreditava: no jeito de jogar do time e nele próprio

 

O meia alemão Toni Kroos comemora o gol da virada histórica - NELSON ALMEIDA / AFP

POR CARLOS EDUARDO MANSUR/ENVIADO ESPECIAL

SOCHI - Acreditar até o fim. O futebol se encarregou de tornar esta expressão um tanto gasta, de tanto ser usada sem que se soubesse, ao certo, em que se estava acreditando. Definitivamente, não foi o caso da Alemanha e de Toni Kroos em Sochi. Foi, sim, uma vitória alemã que tudo a ver com acreditar. No caso, sabia-se exatamente em que: no modelo, no plano, na forma de fazer futebol que a Alemanha decidiu abraçar e faz tão bem.


Kroos também acreditava: no jeito de jogar do time e nele próprio. Porque, ao intervalo, estava a 45 minutos de se tornar o vilão da eliminação mais precoce do futebol alemão desde que a Copa do Mundo ganhou uma fase de grupos, em 1950. E foi um dos condutores do time, da forma que se habituou a fazer: iniciando jogadas, passando, organizando. Até ser o mentor do lance que decidiu o jogo. Quando se aproximou da bola para cobrar a falta ao lado da área, e antes fez um gesto para Reus, estava claro que tinha um plano. E acreditava no seu chute, fundamento que ajuda a fazer dele um dos grandes meio-campistas do jogo moderno. 

Mas voltemos à Alemanha. É notável que um time, sob a enorme pressão de protagonizar o pior resultado da história de um gigante do futebol, mantenha a crença de que o caminho mais curto para evitar o desastre é fazer o jogo em que acredita. Do minuto 1 ao 90, a Alemanha jogou futebol da forma que sua escola atual prega, como se cada jogador tivesse um manual de instruções embaixo do braço. Mesmo quando passou a ter um homem a menos em campo.

É possível argumentar que, no segundo tempo, havia dois homens de boa estatura na área, Muller e Mario Gomez. A formação, além de estar longe de ser inédita, não impediu que a forma de produzir jogadas ofensivas seguisse à risca o modelo de jogo. Acúmulo de jogadores no campo ofensivo, opções à frente da linha da bola, troca de passes pelo centro, sobrecarregando a defesa até a infiltração ou a virada da bola para um dos lados, aproveitando homens abertos nas pontas. Com paciência e, claro, coragem para ocupar todo o campo rival. E, diga-se, coragem até em excesso em alguns momentos. Sobre isso falaremos adiante.

Pode-se dizer, ainda, que o gol decisivo saiu de falta, nos acréscimos. Trata-se de uma grande confusão entre elaboração e finalização. Foi a fé em suas armas, naquilo que faz de melhor, que permitiu aos alemães manterem a bola nos metros finais de campo. A falta é uma consequência do volume de jogo. Mas, também, do enorme conservadorismo da Suécia.

 
 

ALEMÃO SANGRA O NARIZ APÓS LEVAR CHUTE DE JOGADOR SUECO

  • Rudy sangrou nariz após choque com jogador da SuéciaFoto: HANNAH MCKAY / REUTERS

  • O momento em que Rudy levou um chute no rostoFoto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

  • Rudy foi atingido pelo sueco Toivonen Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

  • Rudy, com o nariz sangrando, tenta se levantarFoto: DYLAN MARTINEZ / REUTERS

  • O camisa 19 caiu no gramado após o chute no rostoFoto: JEWEL SAMAD / AFP

  • O desespero do sueco Granqvist para pedir socorro a RudyFoto: ODD ANDERSEN / AFP

  • Rudy usa a camisa para estancar o sangue no narizFoto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

A Copa do Mundo se encarrega de mostrar, de uma vez por todas, o quanto é mais difícil construir do que destruir. Ainda mais no jogo atual, físico, de linhas compactas e sistemas defensivos tão disciplinados. Mas poucos times no mundo enfrentam tão bem uma retranca quanto a Alemanha. Permitir que sua defesa seja empurrada contra o próprio gol pelos campeões do mundo custa caro. O México quase pagou na estreia, após um primeiro tempo corajoso e primoroso. A Suécia sofreu da forma mais cruel. O fato é que, em cada um dos jogos, a Alemanha jogou 45 minutos excelentes.

Mas é importante falar de seus problemas. Porque eles existem e tornam a caminhada alemã na Rússia cheia de sobressaltos. Em 2014, apesar do título mundial, houve jogos em que o sistema de jogo baseado na ocupação total do campo adversário impôs riscos sérios. O time de 2018 parece conviver pior com o problema.

 

Primeiro, porque a estratégia exige que se cuide muito bem da bola. Algo que a Alemanha não fez. Ontem, um erro de passe de Rudiger e outro de Kroos no primeiro tempo deram bolas preciosas à Suécia. Numa delas, saiu o gol. Qualquer time sentiria, numa transição de gerações, a falta de Lahm ou Schweinsteiger. No caso do lateral-direito, Kimmich tem sido excelente. Mas a construção precisa ser muito cuidadosa no meio-campo.

Setor que, também, precisa da difícil combinação entre técnica e vigor. Técnica para sustentar o jogo baseado em construção ofensiva e troca de passes, que exige meio-campistas de certa classe. Vigor para que, assim que a bola seja perdida e o movimento ofensivo não seja concluído, haja uma pressão sufocante pela bola. Quando não ocorre, há espaços demais atrás.

Contra a Suécia, Joachim Löw tentou amenizar o caos gerado na estreia, quando o meio-campo formado por Kroos, Khedira e Özil foi amplamente superado. Tirou os dois últimos e colocou Reus e Rudy, este último volante do Bayern de Munique. Mas Rudy saiu machucado e entrou Gündogan, outro jogador de mais dinâmica. O time ainda sofria, mas acabou penalizado mesmo por erros de passe em saídas de bola. O que não esconde um certo desequilíbrio: a quantidade de jogadores à frente da linha da bola durante a construção ofensiva da Alemanha é muito grande. Uma ousadia, com benefícios pelas opções de passe que gera; riscos pela exposição ao contragolpe.

E a Suécia, com 11 contra 10 em campo, jamais insinuou que tiraria proveito dos espaços. Nunca reteve a bola, nunca foi agressiva na marcação, limitou-se a rebater bolas e torcer pelo fim do jogo.

O fato é que a virada mantém os campeões do mundo vivos. Há um certo clichê sobre força mental alemã. Parece claro que não é folclore. Mas quando se tem um porto seguro ao qual recorrer na dificuldade, parece mais fácil acreditar. A Alemanha tem: chama-se modelo de jogo.

 


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