Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo terça, 23 de novembro de 2021

ADMIRÁVEL GADO NOVO: POR QUE O CLÁSSICO DE ZÉ RAMALHO QUE CAIU NO ENEM CONTINUA ATUAL?

 

'Admirável gado novo': Por que o clássico de Zé Ramalho que caiu no Enem continua atual?

 

Zé Ramalho em 1978, antes do lançamento de 'Admirável gado novo'

 

 

O Brasil era governado pela ditadura militar quando Zé Ramalho lançou "Admirável gado novo", faixa de seu segundo disco, "A peleja do diabo com o dono do céu", em 1979. Na época, 15 anos após o golpe de 1964, o país já rumava para a "abertura lenta, gradual e segura" conduzida pelos generais. A censura prévia não era mais implacável como havia sido na gestão de Emílio Médici (1969-1974), e os artistas se sentiam um pouco mais livres para manifestar suas críticas. Foi nesse contexto que o cantor paraibano divulgou, aos 30 anos de idade, uma de suas letras mais políticas, usada como referência para uma questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. 

Sob influência de elementos considerados subversivos pelos homens de farda, como o compositor Geraldo Vandré e o filósofo Aldous Huxley, o poeta nascido em Brejo da Cruz oferece, em "Admirável gado novo", uma crítica à exploração das massas e à manipulação promovida pelo sistema para deixar a população alienada e conformada com o estado das coisas. A mensagem é bastante direta: o autor abre dizendo que "Esta é a canção do povo marcado/Do povo feliz", e segue com versos como "Vocês que fazem parte dessa massa/Que passa dos projetos do futuro", até se mostrar tão irônico quanto enfático: "Êh, oô, vida de gado/Povo marcado eh/Povo feliz".

 

Questão do Enem que usou 'Admirável gado novo' como referência

 

 

O nome da canção deixa óbvia a inspiração na distopia literária "Admirável mundo novo", do britânico Huxley. A obra, um clássico de 1938, imagina uma massa popular controlada por um governo autoritário com o uso da droga "soma", que, introduzida durante o sono, mantém as pessoas felizes e conformistas, evitando qualquer tipo de revolta ou conflito. É um povo sem vontade própria, que se submete sem queixas ao controle das autoridades, como um rebanho. O conceito, usado hoje para criticar apoiadores fanáticos de Jair Bolsonaro, motivou a expressão "Vida de gado", que aparece no grudento refrão de "Admirável gado novo" e, em 1979, sublinhava o conformismo da sociedade brasileira diante de um governo repressor.  

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Anos antes de seu lançamento, a letra dificilmente seria aprovada pela censura do regime militar. Mas 1979 foi o ano da aprovação da Lei da Anistia, que encejou o retorno ao Brasil de artistas e intelectuais exilados. O país começava a vislumbrar a volta da democracia, prometida pelo general João Figueiredo ao assumir a Presidência da República. A canção "Apesar de você", de Chico Buarque, um hino contra a ditadura proibido em 1971, havia deixado a lista de músicas proscritas. Ainda assim, Ramalho contou que recebeu telefonemas anônimos após o lançamento de "Admirável gado novo". "Ameaçavam-me dizendo que eu deveria parar de fazer letras políticas", disse ele ao GLOBO em 1996.

 

Zé Ramalho em 1983, quando lançou o álbum 'Orquídea negra'
 

A música fez sucesso ao ser divulgada, mas estava meio esquecida quando, 25 anos depois, foi incluída na trilha sonora da novela "Rei do gado", da TV Globo. A versão original da faixa era tocada durante as cenas de trabalhadores sem-terra que lutavam pela reforma agrária. Patrícia Pillar interpretava a personagem principal desse núcleo. Nas entrevistas sobre aquele resgate de seu trabalho, o cantor paraibano se mostrava feliz: "Tirando o lado romântico, a questão dos sem-terra é a trama mais importante da novela, e 'Admirável gado novo' é uma música de luta, de guerrilha. Ela foi feita em função da repressão do povo brasileiro. A letra é atual porque fala do conformismo do nosso povo", afirmou Ramalho ao GLOBO. 

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Hoje aos 72 anos de idade, o compositor ficou satisfeito mais uma vez quando soube que parte da letra escrita há mais de quatro décadas, quando ele ainda começava sua carreira, fora reproduzida no Enem numa questão de interpretação, que pedia ao candidato para indicar qual o comportamento social criticado pelos versos do autor paraibano. "É uma prova de que essa letra contém situações sociais e políticas atualizadas, acho que para sempre. Desde que o conceito de 'atualizada' refere-se à situação também 'para sempre' do povo brasileiro", escreveu ele em uma nota divulgada pelo site "G1".


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