Na campanha política para Presidente da República, em 1960, o então candidato Jânio da Silva Quadros tinha como símbolo da sua campanha uma vassoura. Nos comícios, subia ao palanque com uma vassoura na mão. Dizia que com a vassoura, seria varrida a bandalheira e a corrupção do País.
A vassoura, portanto, tornou-se a marca registrada da campanha de Jânio da Silva Quadro (UDN) contra o Marechal HenriqueLott (PSD).
No interior nordestino , os “janistas” tinham, cada qual a sua vassoura, usada nas passeatas e comícios, para insultar os adversários, partidários do Marechal Henrique Lott.
Em algumas cidades, durante a campanha a bagunça foi grande. Os eleitores que apenas assinavam o nome, não compreendiam o sentido da vassoura, nem os discursos de Jânio transmitidos pelo rádio. Então, começaram os insultos e, o que era pior, as vassouradas, durante as passeatas e comícios. A vassoura tornou-se uma arma perigosa nas mãos das pessoas ignorantes. Em Nova-Cruz (RN), o comércio de vassouras prosperou. A campanha tomou proporções alarmantes, e as vassouradas eram dadas indiscriminadamente, chegando a provocar ferimentos em algumas pessoas.
Lourdes, uma moradora da nossa rua, mulher ignorante e agressiva, resolveu ser “janista”, e passou a varrer a calçada de sua casa de manhã, de tarde e de noite, para insultar quem passava. Usando a vassoura como estandarte, agrediu o ex-marido com uma vassourada, e o acertou na fronte. Por um triz, o homem não morreu. Semianalfabeta, Lourdes não entendia de nada, principalmente de política. Mas tornou-se especialista em vassouradas. Não perdia passeatas e comícios, cantava todos os jingles e era uma entusiasta da campanha da vassoura.
Os carros de som, com seus incansáveis alto-falantes, invadiam as ruas das cidades com marchinhas (jingles), que o povão logo aprendeu a cantar.
Algumas delas:
“ Varre, varre, varre vassourinha, varre a corrupção”;
“Jânio vem aí / não demora não / ele vem aí / com uma vassoura na mão”;
“Varre, varre, varre, varre vassourinha / varre, varre a bandalheira / que o povo já tá cansado / de sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado! .Jânio Quadros é a esperança de um Brasil moralizado/ Alerta meu irmão, vassoura, conterrâneo/ Vamos vencer com Jânio!”
Jânio Quadros chegou à presidência da República de forma muito veloz. Em São Paulo, havia exercido sucessivamente os cargos de vereador, deputado, prefeito da capital e governador do estado. Tinha um estilo político excêntrico e um vocabulário exótico, que chegava a ser hilário. Para parecer popular, enchia os bolsos de sanduíches para comer nos comícios.
Foi eleito Presidente da República em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1965, com 5,6 milhões de votos – a maior votação até então obtida no Brasil. Venceu o Marechal Henrique Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos. Porém, não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente de sua chapa, Milton Campos (naquela época votava-se separadamente para presidente e vice). Quem se elegeu para vice-presidente foi João Goulart, do partido da oposição.
Jânio Quadros assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1961, em Brasília, que ,pela primeira vez, foi palco de uma posse presidencial.
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social, a partir do momento em que adotou uma política econômica austera. Adotou medidas drásticas, restringindo o crédito, congelando os salários e incentivando as exportações.
Mas foi na área da política externa que o presidente Jânio Quadros acirrou os ânimos da oposição ao seu governo. Jânio nomeou para o ministério das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar os rumos da política externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países socialistas. O governo brasileiro restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS).
Num gesto considerado tresloucado, Jânio condecorou, no dia 19 de agosto de 1961, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro argentino que fora um dos líderes da revolução cubana, e era ministro daquele país. Entretanto, segundo conta a História, essa condecoração foi um agradecimento a Ernesto Che Guevara, por ter atendido a seu apelo e libertado mais de vinte sacerdotes presos em Cuba, que estavam condenados ao fuzilamento, exilando-os na Espanha. Jânio fez esse pedido de clemência a Guevara por solicitação de Dom Armando Lombardi, Núncio Apostólico no Brasil, que o solicitou em nome do Vaticano.
A outorga da condecoração foi aprovada no Conselho da Ordem por unanimidade, inclusive pelos três ministros militares.
A repercussão desse gesto foi a pior possível, sendo, ainda segundo a História, a causa principal da perda de mandato de Jânio. Os problemas começaram na véspera, com a insubordinação da oficialidade do Batalhão de Guarda. Amotinada, se recusava a acatar as ordens de formar as tropas defronte ao Palácio do Planalto, para a execução dos hinos nacionais dos dois países, e a revista. Só a poucas horas da cerimônia, já na manhã do dia 19, conseguiram os oficiais superiores convencer os comandantes da guarda a se enquadrar.
Na imprensa e no Congresso, começaram a surgir violentos protestos contra a condecoração de Che Guevara. Alguns militares ameaçaram devolver suas condecorações em sinal de protesto. Em represália ao que foi descrito como um apoio de Jânio ao regime ditatorial de Fidel, nesse mesmo dia, Carlos Lacerda entregou a chave do Estado da Guanabara ao líder anticastrista Manuel Verona, diretor da Frente Revolucionária Democrática Cubana, que se encontrava viajando pelo Brasil em busca de apoio à sua causa.
No dia 21 de agosto de 1961, Jânio Quadros assinou uma resolução que anulava as autorizações ilegais outorgadas a favor da empresa Hanna e restituía as jazidas de ferro de Minas Gerais à reserva nacional. Quatro dias depois, os ministros militares pressionaram Jânio Quadros a renunciar:
Diz o texto da renúncia:
“Forças terríveis levantam-se contra mim, e me intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração. Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, e indispensáveis ao exercício da minha autoridade……………………………………”
Brasília, 25-8-61.
a) J. Quadros
E assim terminou o mandato de Jânio Quadros, que só durou sete meses. 56 anos se passaram, e o País encontra-se hoje mergulhado na maior crise política da História.
Não há vassourada que dê jeito…
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